Share the post "Contaminação de suplementos alimentares: quais são os riscos?"
Um estudo realizado na Alemanha verificou que quase 15% dos suplementos se encontravam contaminados com substâncias dopantes. Noutros países, essa percentagem ultrapassava os 20 %, ou seja, 1 em cada 5 suplementos estavam contaminados com substâncias que por alguma razão violam as normas antidoping.
Embora o interesse no assunto tenha aumentados desde então, o problema ainda existe (1). A contaminação de suplementos alimentares ainda é prevalente, ainda existem muitos problemas associados com o controlo da qualidade dos produtos e, muitas vezes, os suplementos mão contêm o que o rótulo promete. Fique a saber tudo neste artigo.
O que são suplementos alimentares?

Um suplemento alimentar é um produto destinado a complementar a dieta em um ou mais componentes específicos, sejam eles macronutrientes (proteínas, hidratos de carbono ou gorduras), micronutrientes (vitaminas ou minerais) ou outros componentes sob a forma de concentrados ou extratos (cafeína, beta-alanina, etc…).
Regra geral, a utilização de suplementos é maior na população atlética, sendo naturalmente superior nos atletas de elite em relação aos não-elite. Alguns estudos referem taxas de utilização em torno dos 69 e dos 94% por parte dos atletas de elite, sendo os multivitamínicos os mais consumidos (2, 3, 4, 5).
As razões para a toma deste tipo de produtos são várias, incluindo a promoção da recuperação, manutenção do estado de saúde, manipulação da composição corporal, melhoria da performance e compensar para possíveis carências associadas à dieta (6).
Contaminação de suplementos: agentes contaminantes

Todos os anos é publicada pela Agência Mundial Anti-doping (WADA) uma lista atualizada das substâncias proibidas, no sentido de manter os desportos competitivos limpos de compostos ilícitos e assim proteger a saúde dos atletas (7).
Uma substância é considerada proibida se preencher 2 de 3 critérios:
- Apresenta potencial para ou incrementa verdadeiramente a performance desportiva.
- Representa um risco potencial ou atual para a saúde do atleta.
- Viola o espírito desportivo.
Estes agentes vão desde os óbvios, como hormonas esteroides e outros agentes anabólicos, até aos supostamente inofensivos, muitas vezes encontrados nas gavetas de medicamentos de muitos doentes, como diuréticos e beta-bloqueadores (7):
ID | Susbtância proibida | Tipo | Quando proibida |
S0 | Substâncias não aprovadas | Substância | Sempre |
S1 | Agentes anabólicos | Substância | Sempre |
S2 | Hormonas pépticas, fatores de crescimento, substâncias relacionadas e miméticos | Substância | Sempre |
S3 | Agonistas beta 2 | Substância | Sempre |
S4 | Moduladores hormonais e metabólicos | Substância | Sempre |
S5 | Diuréticos e outros agentes mascarantes | Substância | Sempre |
S6 | Estimulantes | Substância | Durante a competição |
S7 | Narcóticos | Substância | Durante a competição |
S8 | Canabinoides | Substância | Durante a competição |
S9 | Glicocorticoides | Substância | Durante a competição |
M1 | Manipulação de amostras de sangue ou componentes | Método | Sempre |
M2 | Manipulação física ou química | Método | Sempre |
M3 | Doping genético | Método | Sempre |
P1 | Álcool | Substância | Determinados desportos |
P2 | Beta bloqueadores | Substância | Determinados desportos |
O código de conduta da WADA afirma ainda que cada atleta tem o dever pessoal de assegurar que não ingere nenhum tipo de substância proibida, sendo ainda responsável por qualquer vestígio ou metabolito que seja encontrado nas amostras de sangue, urina e fezes recolhidas.
O problema é que, muitas vezes, os casos de doping resultam da utilização inconsciente ou desinformada de determinados suplementos alimentares. Embora seja difícil determinar a extensão do problema, estima-se que entre 6 e 9% de todos os casos de doping documentados resultem do consumo de suplementos alimentares contaminados (8).
Fontes de contaminação de suplementos alimentares

Na maioria dos casos, a contaminação prende-se com a limpeza dos equipamentos, que podem conter vestígios de ingredientes do produto anterior.
Esta situação é semelhante ao que acontece nas fábricas de processamento de cereais, onde a aveia, naturalmente isenta de glúten, pode ser contaminada após contacto com outros cereais processados anteriormente.
No entanto, há casos em que a contaminação é intencional, no sentido de tornar o suplemento mais eficiente no que se propõe a ajudar atingir.
Há relatos desde 2002 de produtos intencionalmente contaminados com quantidades elevadas de esteroides anabolizantes “clássicos” (metandienona, estanozolol, boldenona, oxandrolona, metiltestosterona, etc.) a circular no mercado, compostos esses não declarados nos rótulos (6).
Em 2005, por exemplo, foram confiscados lotes de vitamina C, magnésio e multivitaminas de origem chinesa, contaminados com estanozolol e metandienona (1).
A verdade é que cerca de 40% a 70% dos atletas usam suplementos alimentares (no caso dos profissionais, 69 a 94%) e que se estima que 12 a 58% de todos os suplementos possam conter substâncias proibidas.
A realidade portuguesa não está muito longe da internacional, tendo-se estimado que cerca de 44% dos praticantes de ginásio consumem algum tipo de suplemento, incluindo proteína (80,1%), multivitamínicos e/ou minerais (38,3%), barras energéticas (37,3%), aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) (36,8%) e ómega-3 (35,5%) (9).
Estes números indicam claramente que existe um risco considerável de testar positivo nos testes antidoping, arriscando sanções pesadas, apenas porque o suplemento consumido está acidental ou inadvertidamente contaminado com substância proibidas.
Contaminação de suplementos: controlo do risco
Se o atleta decidir que os benefícios são superiores aos riscos, é aconselhável adquirir suplementos de grandes empresas, uma vez que as marcas de suplementos mais reputadas apresentam padrões mais elevados de produção, incluindo testes de segurança e qualidade.
Por outro lado, empresas mais obscuras, geralmente as que visam o mundo do fisioculturismo, são mais passiveis de ter suplementos contaminados.
Por fim, empresas que não produzam ou comercializem esteroides e pró-hormonas apresentam menos risco de que os seus produtos estejam contaminados com essas substâncias.
- Geyer H, Parr MK, Mareck U, Reinhart U, Schrader Y, Schänzer W. (2004). Analysis of non-hormonal nutritional supplements for anabolic-androgenic steroids – results of an international study. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14986195/
- Baylis A, Cameron-Smith D, Burke LM. (2001). Inadvertent doping through supplement use by athletes: assessment and management of the risk in Australia. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11591885/
- Braun H, Koehler K, Geyer H, Kleiner J, Mester J, Schanzer W. (2009). Dietary supplement use among elite young German athletes. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19403956/
- Froiland K, Koszewski W, Hingst J, Kopecky L. (2004). Nutritional supplement use among college athletes and their sources of information. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15129934/
- Maughan RJ, Depiesse F, Geyer H. (2007). International Association of Athletics Federations. The use of dietary supplements by athletes. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18049988/
- Mathews, N.M. (2017). Prohibited contaminants in dietary supplements. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5753965/#bibr10-1941738117727736
- WADA. (2020). 2020 list of prohibited substances and methods. Disponível em: https://www.wada-ama.org/en/content/what-is-prohibited?gclid=CjwKCAiA4o79BRBvEiwAjteoYBfUbImWfZeePj21P5Znv7zXoKINgdO7BcmdmQwfOi1QqnA6mn48exoCTOIQAvD_BwE
- Outram S, Stewart B. (2015). Doping through supplement use: a review of the available empirical data. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25722470/
- Ruano J, Teixeira VH. (2020). Prevalence of dietary supplement use by gym members in Portugal and associated factors. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32093724/