Nutricionista Rita Lima
Nutricionista Rita Lima
28 Jul, 2020 - 09:45

Cuidados alimentares na terceira idade para um envelhecimento ativo e saudável

Nutricionista Rita Lima

Conhecer os cuidados alimentares na terceira idade é meio caminho andado para garantir um bom estado nutricional nesta faixa etária, muito propícia a estados de desnutrição.

Cuidados alimentares na terceira idade

Uma alimentação equilibrada é importante em todas as fases da vida, mas, em particular na terceira idade constitui um dos pilares para um envelhecimento ativo e saudável, com maior qualidade de vida.

Assim sendo, os cuidados alimentares na terceira idade devem assentar não só as necessidades nutricionais desta faixa etária, mas também nas questões relacionadas com o estado de saúde e presença de patologias, isolamento social, dificuldades económicas, crenças e religião, entre outras.

Importância da nutrição e cuidados alimentares na terceira idade

Casal de idosos a cozinhar

De facto, o envelhecimento é um processo complexo, que se caracteriza por modificações morfológicas, funcionais e bioquímicas que influenciam a nutrição e alimentação desta faixa etária e aumentam o risco de défices nutricionais, mais precisamente de desnutrição.

Na terceira idade, um estado nutricional deficiente contribui, de forma significativa, para o aumento da incapacidade física, da morbilidade e da mortalidade desta população (1).

Como tal, o diagnóstico precoce de estados de desnutrição e carência é fundamental para uma intervenção atempada e melhoria da qualidade de vida desta população.

Por outro lado, e apesar de não ser tão frequente, também existem situações de obesidade na terceira idade, condição esta que aumenta consideravelmente o risco de desenvolvimento de patologias como a diabetes, doenças cardiovasculares, dislipidemia, entre outros (2).

Necessidades nutricionais dos Idosos

Para melhor compreensão das necessidades energéticas estipuladas para idosos, importa referir que as pessoas com mais de 65 anos podem ser divididas em 2 grupos diferentes: os “Jovens idosos”, cuja idade varia entre os 65 e 74 anos; e os “Idosos” cuja idade é superior a 75 anos.

Decorrente do processo de envelhecimento e dos menores níveis de atividade física associados, ocorrem uma séria de alterações fisiológicas e morfológicas que influenciam as necessidades energéticas dos idosos, nomeadamente:

  • Diminuição da massa e do tónus muscular
  • Aumento da gordura corporal
  • Perda da densidade óssea
  • Diminuição do metabolismo entre 100 a 150 kcal por dia
  • Diminuição da termogénese e crescente dificuldade de adaptação ao frio e mudanças de temperatura
  • Depressão do sistema imunitário, fator que torna o organismo mais suscetível a infeções, as quais são responsáveis por um aumento das necessidades energéticas
  • Alterações intestinais, tais como a obstipação (1)

Em termos práticos, as necessidades energéticas diminuem 20 a 25% entre os 50 e os 65 anos e, após esta idade, diminuem 5 a 10% a cada 10 anos.

Neste sentido, e apesar de variarem de forma individual (sendo o principal fator de ajuste o grau de dependência do idoso), poder-se-á dizer que as necessidades energéticas para idosos oscilam entre 30-35 kcal/kg/dia (1, 2).

Contudo, é importante não esquecer que as necessidades energéticas e nutricionais dos idosos devem ser avaliadas individualmente e estipuladas com base nas suas características individuais e eventuais patologias associadas que façam variar as necessidades anteriormente referidas.

Desnutrição no idosa: idosa sentada numa mesa a olhar pela janela
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Fatores que condicionam a alimentação na terceira idade

Idosa a tomar medicamentos

Para melhor compreensão dos cuidados alimentares na terceira idade, importa referir que, decorrente do processo de envelhecimento natural, podem surgir algumas limitações que afetam direta ou indiretamente a ingestão alimentar e, consequentemente, o estado nutricional do idoso, nomeadamente:

  • Problemas de mastigação
  • Problemas de deglutição, devido a produção insuficiente de saliva
  • Perda ou diminuição do paladar e/ou o olfato, que podem condicionar negativamente a vontade de comer
  • Patologias associadas
  • Alterações gastrointestinais: obstipação, flatulência, diarreia, entre outros
  • Patologia mental e psiquiátrica: nomeadamente demências como o Alzheimer, em que o idoso se esquece de comer
  • Tabaco e bebidas alcoólicas
  • Medicamentos: devido às possíveis interações entre alguns fármacos e alimentos e os efeitos secundários que podem ter, em particular, redução de apetite, alteração da capacidade de digestão e absorção, aumento da excreção de determinados nutrientes e a alterações do metabolismo, que poderão potenciar a desnutrição no idoso (3)

quais os cuidados alimentares na terceira idade?

Na ausência de patologias, os idosos, tal como a população em geral, devem seguir uma alimentação saudável, equilibrada, completa e variada, salientando-se as seguintes recomendações:

1.

Fracionamento das refeições diárias

Idosa a comer uma peça de fruta

O fracionamento das refeições, assim como a diminuição do seu volume, facilitam o atingimento das necessidades energéticas preconizadas, assim como o processo de digestão e absorção dos nutrientes, tanto em casos de excesso como défice de ingestão alimentar. 

Neste sentido, recomenda-se o consumo de 5 a 6 refeições diárias, com um intervalo não superior a 3 horas.

2.

Ingestão proteica adequada

Variedade de alimentos ricos em proteína

A alimentação dos idosos deve englobar fontes proteicas em todas as refeições, em particular carne, peixe ou ovos para as refeições principais e lacticínios magros, frutos oleaginosos e cereais integrais, como a aveia, para as refeições intermédias.

Dentro das carnes, deverá preferir as carnes magras, com baixo teor de gordura saturada, como frango e peru sem pele, coelho, lombo de porco ou vaca. A nível do peixe, as opções são diversificadas, devendo haver espaço, pelo menos 1 vez por semana, para o peixe gordo, como o salmão, a sardinha ou cavala, ricos em ómega 3, importante para a saúde cardiovascular e cognitiva dos idosos.

3.

Ingestão moderada de gorduras e açúcares

Bolachas de manteiga simples

Relativamente à gordura, o idoso deverá evitar a ingestão excessiva de qualquer tipo de gordura, em particular as gorduras saturadas, como os enchidos, produtos de pastelaria e lacticínios gordos, no sentido de prevenir doenças cardiovasculares.

O mesmo se aplica a alimentos ricos em açúcar, fonte de calorias ocas, que em nada contribuem para um bom estado nutricional do idoso, nomeadamente bolachas, bolos, chocolates, refrigerantes, entre outros alimentos ou bebidas em que o idoso adicione açúcar.

4.

Ingestão de alimentos ricos em fibra

Variedade de alimentos ricos em fibras

Por outro lado, muitos idosos sofrem de obstipação e outros problemas intestinais. Neste sentido, e para ajudar a regularizar o trânsito intestinal, o consumo de alimentos ricos em fibras, como cereais integrais, frutas e legumes e leguminosas deve ser encorajado.

Para ajudar o intestino a funcionar regularmente, é também muito importante uma adequada ingestão hídrica diária.

Asma e alimentação: consumir alimentos ricos em fibras
Veja também 20 alimentos ricos em fibra para uma boa saúde intestinal
5.

Garantir o aporte dos micronutrientes mais suscetíveis de carência

posta de salmão cozido

A nível de micronutrientes, essenciais para reforço do sistema imunitário e da saúde global, os mais relevantes são a vitamina D, E e K, o cálcio, o ferro, o fósforo, o magnésio, o potássio, o selénio e o zinco.

Neste sentido, o consumo de peixes gordos, hortofrutícolas, cereais integrais, leguminosas, lacticínios magros e frutos oleaginosos deve ser regular, para evitar possíveis carências.

O Que Fazer caso o idoso não queira comer?

  1. Prepare refeições de pequenos volumes e nutricionalmente adequadas.
  2. Promova o consumo de alimentos de elevada densidade nutricional, ricos em proteína e fibra e pobres em açúcares, gordura e sal.
  3. Garanta uma mastigação adequada. Caso não seja possível, altere a textura dos alimentos, triturando-os ou liquidificando-os.
  4. Melhore as características organoléticas das refeições, de modo a que elas tenham mais cor, sabor, formas, texturas e aromas, para aumentar o apetite.
  5. Torne o momento de refeição agradável e o ambiente calmo.
  6. Promova a ingestão de água ou infusões regularmente, mesmo que o idoso não sinta sede.
  7. Caso seja possível, incentive a prática de alguma atividade física para estimular o apetite (1).

Fontes

  1. Associação Portuguesa de Nutrição, 2013. “Alimentação na pessoa idosa”. http://www.spgg.com.pt/UserFiles/file/APN_Ebook_Alimentacao%20no%20idoso.pdf
  2. Melissa Bernstein et al, 2012. “Food and Nutrition for Older Adults: Promoting Health and Wellness”. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22818734/
  3. Jennie L Wells, 2006. “Nutrition and Aging: Assessment and Treatment of Compromised Nutritional Status in Frail Elderly Patients”. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2682454/
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