Luís Cristino (nutricionista)
Luís Cristino (nutricionista)
05 Jun, 2020 - 15:45

Vitamina D: para que serve, deficiência e quando é necessário suplementar

Luís Cristino (nutricionista)

A vitamina D é das mais discutidas atualmente e o seu papel no organismo é claro. Mas será assim tão evidente a necessidade de suplementação?

Suplementos de vitamina D3

A vitamina D é essencial na manutenção da saúde óssea e a forma mais eficaz de suprir as suas necessidades é através da exposição solar. No entanto, também é possível encontrar este nutriente em alguns alimentos.

Para que serve A VITAMINA D?

Mulher a apanhar sol junto a uma praia

A principal função da vitamina D sob a forma ativa é manter o equilíbrio do cálcio e do fósforo. Isto é, caso o valor sérico de cálcio diminua para valores abaixo do normal, ocorre um conjunto de reações mediadas pela vitamina D de forma a restaurar e manter os valores normais de cálcio necessários para o perfeito funcionamento celular e dos tecidos (1).

Os principais tecidos em que a vitamina D desempenha funções são o intestino, os rins e o osso. Sendo que (1):

  • No intestino: controla a absorção intestinal de cálcio e fósforo
  • Nos rins: participa na estimulação da reabsorção de cálcio
  • No osso: aumenta a libertação de fósforo e cálcio para a manutenção dos valores séricos normais

Tipos de Vitamina D

Suplementos de vitamina D3

Existem dois tipos de vitamina D: a vitamina D3 e a vitamina D2.

Vitamina D3

A vitamina D3 ou colecalciferol é um tipo de vitamina D de origem animal que é sintetizada na pele a partir do colesterol, após exposição a uma quantidade razoável de luz solar ou um tipo similar de radiação UV.

Esta vitamina  é a mais eficaz quando se trata de aumentar os níveis sanguíneos de vitamina D, o que a torna clinicamente mais relevante para a saúde humana (1).

Vitamina D2

A vitamina D2 ou ergocalciferol é de origem vegetal e encontra-se disponível apenas na alimentação, sendo produzida por determinados fungos e plantas quando expostos à luz ultravioleta B (UVB).

Ambos os tipos de vitamina D são biologicamente inativas e requerem uma ativação primeiro no fígado e depois no rim.

CONSEQUÊNCIAS DO DÉFICE DE VITAMINA D

deficiência de vitamina D manifesta-se com uma mineralização inadequada do osso em crescimento em crianças, raquitismo, e no enfraquecimento e desmineralização óssea em adultos, osteomalacia.

Estas condições são consequência da ingestão ou absorção insuficiente de cálcio e fósforo da dieta, levando a um aumento da hormona da paratiroide para a manutenção dos níveis destes minerais no sangue(1).

Em idosos, o enfraquecimento e desmineralização dos ossos, acompanhada do enfraquecimento muscular, pode contribuir para uma diminuição do desempenho físico, aumentando o risco de quedas e de quedas com maior risco de fratura.

Por outro lado, a insuficiência de vitamina D3 foi associada ao aumento da incidência de cancro do cólon, da mama e da próstata, doenças cardiovasculares, esclerose múltipla e artrite reumatoide (2).

CONSEQUÊNCIAS DO EXCESSO

A concentração sérica elevada de vitamina D pode levar ao aumento da concentração de cálcio no sangue, que por usa vez pode originar a calcificação de tecidos moles levando consequentemente a danos renais e cardiovasculares (1).

FONTES DE VITAMINA D

Variedade de alimentos ricos em proteína

A principal fonte de vitamina D é a exposição solar. No entanto, também podemos encontrar este nutriente nos seguintes alimentos:

  • peixe gordo, óleo de peixe;
  • ovos;
  • alimentos fortificados, como os produtos lácteos (por exemplo o leite e a manteiga), as margarinas, os cereais de pequeno-almoço e o pão.

O peixe gordo e o fígado de peixe são os alimentos com maior conteúdo natural de Vitamina D, devido à acumulação na cadeia alimentar. A gema de ovo também apresenta valores consideráveis de vitamina D devido ao alto teor desta vitamina nas rações das galinhas.

Produção cutânea de Vitamina D

O organismo humano tem a capacidade de produzir vitamina D a partir do colesterol na presença de exposição à irradiação ultravioleta B (UV-B) quando o índice ultravioleta (UV) é igual ou superior a 3 (3).

A estação do ano e o estado meteorológico, como a escuridão e as nuvens, contribuem para a diminuição dos raios UV e consequente síntese de vitamina D (45). O mesmo acontece com a combinação da latitude e da estação do ano.

Outro fator que influência a síntese de vitamina D é a raça a que o indivíduo pertence, quanto mais escura for a pele maior a probabilidade de desenvolver défice quando comparado com indivíduos de pele com tons mais claros (asiáticos, caucasianos e hispânicos) (67).

VALORES DE REFERÊNCIA de vitamina d

O diagnóstico de um possível défice deverá ser feito através de exames laboratoriais, avaliando a concentração da forma circulante da vitamina: 25(OH)D.

Classificaçãong/mlnmol/L
Desejável≥30≥75
Insuficiente20 a 3050 a 75
Deficiência<20<20

INGESTÃO ADEQUADA (AI) DE VITAMINA D

A ingestão adequada de vitamina D varia consoante a fase do ciclo de vida em que o indivíduo se encontre. Sendo que para cada fase é recomendada uma ingestão adequada diária de (8):

GrupoUI
Lactentes (0 aos 12 meses)400
Crianças (1 aos 8 anos)600
Homens e mulheres (9 aos 70 anos)600
Homens e mulheres (>70 anos)800
Gestantes e em amamentação600

Ingestão adequada significa que quando os dados para calcular as ingestões diárias recomendadas de um nutriente são insuficientes, a ingestão adequada baseia-se em estimativas de ingestão de nutrientes observadas ou experimentalmente determinadas para pessoas saudáveis (8).

SUPLEMENTAÇÃO com vitamina D: sim ou não?

Mulher a analisar rótulo de suplementos vitamínicos

Relativamente a Portugal, a Direção Geral de Saúde (DGS)  recomenda a suplementação entre 700-800 UI/dia de vitamina D em indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos que apresentem osteoporose (10).

Como potenciar a absorção de vitamina D?

É importante salientar que a absorção da vitamina D3 é potenciada quando ingerida juntamente com gordura, uma vez que se trata de uma vitamina lipossolúvel.

Assim, a toma da suplementação deverá ser feita juntamente como uma refeição que apresente naturalmente gordura na sua constituição, como por exemplo o almoço ou o jantar.

Tomar suplementos de Vitamina D é seguro?

Relativamente à segurança da suplementação, a dose que poderá levar à toxicidade situa-se acima das 20000 UI/dia. No entanto, não foi observada toxicidade com o uso continuado da vitamina D3 em doses até 10.000 UI/dia, numa população adulta saudável.

Também o uso de doses elevadas (100.000 UI de vitamina D3, de 4 em 4 meses) revelou-se seguro, embora sem diferenças significativas na eficácia quando comparado com a toma diária (1011).

Atendendo à controvérsia atual sobre a suplementação neste micronutriente, é prudente aconselhar-se com o seu médico antes de iniciar a suplementação em vitamina D.

Fontes

  1. EFSA. (2016). Dietary reference values for vitamin D. Disponível em: https://www.efsa.europa.eu/en/efsajournal/pub/4547
  2. Bouillon, R et al. (1998). Vitamin D metabolism and action. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10197177
  3. Prosser, DE et al. (2004). Enzymes involved in the activation and inactivation of vitamin D. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15544953
  4. Engelsen, O et al. (2005). Daily duration of vitamin D synthesis in human skin with relation to latitude, total ozone, altitude, ground cover, aerosols and cloud thickness. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16354110
  5. O’Connor PA. (1980). Clouds, skin color, and rickets. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7402827
  6. Coney P, et al. (2012). Determination of vitamin D in relation to body mass index and race in a defined population of black and white women. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22818533
  7. Fiscella, K et al. (2010). Vitamin D, race, and cardiovascular mortality: findings from a national US sample. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20065273
  8. Johnson, LE. (2018). Visão geral das vitaminas. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-nutricionais/defici%C3%AAncia,-depend%C3%AAncia-e-toxicidade-das-vitaminas/vis%C3%A3o-geral-das-vitaminas
  9. Houghto, LA et al. (2006). The case against ergocalciferol (vitamin D2) as a vitamin supplement. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17023693
  10. Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. (2009). Declaração Portuguesa da Vitamina D. Disponível em: https://www.spmi.pt/pdf/Declaracao_Port_VitD_2009_final.pdf
  11. Papaioannou, A et al. (2011). A randomized controlled trial of vitamin D dosing strategies after acute hip fracture: no advantage of loading doses over daily supplementation. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21689448
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A não esquecer

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