Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
09 Dez, 2022 - 11:05

Desnutrição no idoso: o que muda quando envelhecemos?

Nutricionista Hugo Canelas

O envelhecimento está ligado a enormes alterações, incluindo carências nutricionais. Saiba mais sobre a desnutrição no idoso.

Desnutrição no idosa: idosa sentada numa mesa a olhar pela janela

A desnutrição no idoso é uma questão que preocupa todos os profissionais de saúde, independentemente da área de atuação. A malnutrição e a perda de peso não intencional contribuem para um declínio progressivo do estado de saúde, estado funcional, cognitivo e físico, exigindo cuidados de saúde por vezes com necessidade de institucionalização.

Mesmo com todas estas preocupações, a atuação multidisciplinar é muitas vezes limitada, principalmente porque se assume que as carências nutricionais do idoso são uma consequência inevitável do processo de envelhecimento.

A alimentação saudável ganha especial relevância à medida que a idade progride, uma vez que este é um processo invariavelmente ligado a um grande número de alterações, incluindo carências nutricionais, diminuição da qualidade de vida e pioria do estado geral da saúde.

Felizmente, existem formas de contornar estas carências e outras alterações fisiológicas associadas à idade.

Sobre a desnutrição no idoso explicamos como as necessidades nutricionais se alteram com a idade e como lidar com elas.

Desnutrição no idodo

De que forma é que a idade afeta as necessidades nutricionais?

Idosa a tomar chá

O processo de envelhecimento está associado a uma variedade de alterações corporais, incluindo perda de massa muscular e diminuição da secreção de ácido no estômago.

Algumas destas alterações podem suscitar carências nutricionais específicas enquanto outras podem afetar a qualidade de vida.

Por exemplo, cerca de 20% dos idosos apresentam gastrite atrófica, uma doença em que a inflamação crónica do estômago causa dano às células gástricas produtoras de ácido.

Nestes casos, esta situação pode afetar a absorção de nutrientes, nomeadamente vitamina B12, cálcio, ferro e magnésio.

As necessidades energéticas individuais dependem da altura, peso, massa muscular e atividade física, entre outros fatores. As pessoas idosas necessitam de menos calorias para manter o peso, uma vez que se exercitam menos e apresentam uma menor percentagem de massa muscular.

O risco de manter a mesma ingestão diária de quando a idade é menor, é o aumento significativo da quantidade de gordura, especialmente na zona abdominal.

No entanto, mesmo que necessitem de menos calorias, as necessidades de alguns nutrientes específicos podem ser superiores às das pessoas mais jovens, fazendo com que a ingestão de alimentos como frutas, vegetais, pescado e carnes magras seja bastante importante.

Alguns dos nutrientes especialmente importantes nos idosos incluem as proteínas, vitamina D, cálcio e vitamina B12.

O que fazer para evitar a Desnutrição no idoso

As necessidades proteicas são maiores

Variedade de alimentos ricos em proteína

A perda de massa muscular e força com a idade é muito comum. Na verdade, estudos referem que após os 30 anos, perdemos cerca de 3 a 8% de massa muscular por década.

Esta perda de músculo e força é designada de sarcopenia e é uma causa major de fraturas ósseas e perda de qualidade de vida entre os idosos. Neste caso, vários estudos indicam que a ingestão de proteína pode prevenir a perda de massa muscular.

Para além disso, combinar a ingestão de proteína com exercícios de resistência muscular parece ser a melhor forma de prevenir a sarcopenia no idoso.

A ingestão de fibra deve ser maior

A obstipação é um problema frequente nos idosos, especialmente nas mulheres acima dos 65 anos. Este facto está associado ao sedentarismo e à toma de determinados medicamentos que podem ter a obstipação como efeito secundário.

Nestes casos, a ingestão de fibra é importante uma vez que os compostos não digeríveis ajudam a formar a matéria fecal e a regular o transito intestinal.

Para além disso, as fibras ajudam a prevenir a doença diverticular, uma condição associada a uma dieta pobre em fibras que é bastante comum nos idosos, afetando cerca de 50% das pessoas acima dos 50 anos de idade.

É necessário mais cálcio e vitamina D

Homem a encher copo de leite

O cálcio e a vitamina D são dois nutrientes bastante importantes para a saúde óssea. Infelizmente, a taxa de absorção de cálcio a partir dos alimentos diminuiu consideravelmente com a idade.

Paralelamente, a redução de cálcio pode estar associada a carências de vitamina D, uma vez que com a idade a capacidade de síntese diminui francamente. O organismo produz vitamina D a partir do colesterol quando expomos a pele às radiações ultravioleta. No entanto, à medida que a pele perde densidade, perde também a capacidade para sintetizar esta vitamina.

Em conjunto, estas alterações podem promover carência de cálcio e vitamina D nos idosos, predispondo esta população a um risco aumentado de perda de massa óssea e fraturas.

É necessária mais vitamina B12

A vitamina B12, também conhecida como cobalamina, é essencial nos processos de eritropoiese (produção de glóbulos vermelhos) e manutenção da função cognitiva. No entanto, estima-se que 10 a 30% das pessoas com mais de 50 anos apresentem uma capacidade reduzida para absorver esta vitamina a partir dos alimentos.

A vitamina B12 encontra-se ligada às proteínas alimentares e, antes de poder ser absorvida, deve ser “separada” por ação do ácido gástrico. Uma vez que os idosos têm maior probabilidade para alterações funcionais do estômago, a absorção de vitamina B12 pode estar comprometida.

Para além disso, o risco é francamente superior em idosos que sigma padrões alimentares vegetarianos ou vegan, uma vez que esta vitamina encontra-se fundamentalmente nos produtos de origem animal como ovos, pescado e carnes.

Nestes casos, parece haver benefício na suplementação ou na ingestão de alimentos fortificados, uma vez que a vitamina B12 na forma cristalina não se encontra ligada às proteínas alimentares e, por isso, não necessita da clivagem por ação dos sucos gástricos.

O risco de desidratação é maior

Idoso a beber água

Em media, a água constitui até cerca de 60% do nosso peso corporal. Neste sentido, é importante manter o estado de hidratação em qualquer idade, compensando as perdas através do suor e urina. No entanto, algumas alterações funcionais associadas à idade podem precipitar estados de desidratação.

Em primeiro lugar, o organismo interpreta a sensação de sede através de recetores espalhados por todo o corpo, incluindo no cérebro. À medida de envelhecemos, estes recetores tornam-se menos sensíveis às flutuações de líquidos, e a sensação de sede é mais difícil de interpretar.

Por outro lado, com o declínio da função renal, torna-se mais difícil conservar água dentro do corpo.

A longo termo, a desidratação causa redução dos fluidos, interferindo na absorção dos medicamentos, piorando as doenças base e aumentando a fatiga generalizada.

A ingestão energética pode ser insuficiente

Se por um lado as necessidades energéticas diminuem com o passar dos anos, por outro muitos idosos sofrem de perda de apetite. Esta situação é comum e pode conduzir a perdas de peso não intencionais a pioria do estado nutricional, aumentando o risco de morte.

Alguns dos fatores envolvidos na perda de apetite são as alterações hormonais, o declínio normal no olfato e gosto e algumas mudanças nas circunstâncias de vida como a viuvez e a institucionalização.

Vários estudos indicam que os idosos têm menores níveis de grelina, a hormona da fome, e maiores níveis de leptina, a hormona da saciedade e, por isso, têm menos fome e sentem-se saciados mais rapidamente.

Outros fatores que podem contribuir para a diminuição da ingestão alimentar são a perda de dentes, a solidão e a toma de medicação que muitas vez tem a perda de apetite como efeito secundário.

Nestes casos, o ideal será fracionar as refeições, tornando-as mais pequenas e mais frequentes ao longo do dia. Outra opção será criar hábitos regulares de ingestão de snacks saudáveis, conforme a tolerância, optando por frutos secos, iogurtes e ovos cozidos que oferecem grandes quantidade de calorias e nutrientes em porções mais pequenas.

Conclusão

O processo de envelhecimento está invariavelmente ligado a alterações que predispõem para carências nutricionais específicas.

Para além disso, o declínio das funções cognitivas e motoras pode reduzir a capacidade não só para ingerir alimentos, mas também para reconhecer e interpretar corretamente as sensações básicas de fome e sede.

Felizmente, o estudo do impacto na desnutrição no idoso é já bastante extenso, munindo os profissionais de saúde de linhas orientadoras para pelo menos prevenir carências nutricionais.

No caso de dúvida, consulte o seu medico assistente e/ou nutricionista, de forma a avaliar o estado nutricional do idoso em questão, e estabelecer um plano de ações, médico, nutricional e de suplementação, que permita não só nutrir mas melhorar a qualidade de vida.

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A não esquecer

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