Mónica Carvalho
Mónica Carvalho
01 Fev, 2021 - 08:50

Como sobreviver a mais um confinamento? Ordem dos Psicólogos lança guia para ajudar

Mónica Carvalho

Menos de um ano depois, Portugal está novamente em casa. Estaremos preparados para sobreviver a mais um confinamento? A Ordem dos Psicólogos ajuda.

Mulher confinada em casa a olhar pela janela

O início da vacinação no final de 2020 não fazia antever um começo de 2021 tão preocupante como tem sido. Se antes a esperança era a palavra de ordem, agora, como sobreviver a mais um confinamento?

Naquele que se se antevê como mais um grande desafio à nossa Saúde Psicológica e capacidade de resiliência, a Ordem dos Psicólogos (OP) deu um passo em frente para ajudar os portugueses. Foi criado o guia “COVID-19 – Caixa de ferramentas para manter a saúde psicológica – Segundo confinamento”, com muitas dicas a que todos devemos atentar.

Se, há um ano, o confinamento foi difícil, mas mais bem aceite pela população por estarmos no início da pandemia e o medo do desconhecido falar mais alto, atualmente, é o cansaço provocado pela chamada “fadiga da pandemia” que se destaca.

Um cansaço que pode ser apenas psicológico, mas que, em muitos casos, poderá também derivar de outros problemas como a perda de rendimento, desemprego, saúde afetada e até a perda de entes queridos.

E não pense que está sozinho. Afinal, de acordo com o Instituto Nacional Ricardo Jorge, “sete em cada dez portugueses que estiveram em quarentena acusaram sofrimento psicológico.”

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Sentimentos comuns durante o confinamento

Mulher a olhar pela janela

Saber como sobreviver a mais um confinamento implica que estejamos a par dos sentimentos e emoções comuns e típicos a esta fase. São eles:

  • Dor e a inquietação
  • Angústia, tristeza, medo, incerteza, desgaste e muito cansaço
  • Sensação de insatisfação com a vida, sem controlo na situação
  • Vontade de chorar, desesperar, irritação e menos paciência
  • Considerar o confinamento como um “castigo” que não se merece
  • A vida parece limitada ao trabalho, pela ausência se vida social presencial
  • Ter muitas dúvidas
  • Frustração, porque, mais uma vez, os planos e projetos de futuro ficaram, temporariamente, suspensos

Controlar as emoções: ferramentas que vão ajudar

Esteja atento às suas emoções, sentimentos e pensamentos e aceite-os com a consciência de há melhores e dias piores. A forma como se sente não é um estado perpétuo.

Acredite na sua capacidade para lidar com esta situação, até porque não é a primeira vez que nos encontramos em confinamento. E, nesse sentido, relembre as estratégias que o ajudaram a ultrapassar as situações anteriores e use-as ou adapte-as.

Viva um dia de cada vez e não comece a pensar demasiado no que vai acontecer. Por isso, distraia-se com atividades que pode fazer agora, como preparar uma refeição, fazer exercício, jogar um jogo, ler um livro ou até ver um filme. Isto poderá, inclusivamente, ajudá-lo a gerir a ansiedade e o stress da melhor maneira.

Tenha sentido de humor, visto que é uma estratégia saudável para lidar com situações difíceis, que contribui para diversificar emoções e controlar melhor pensamentos, sem que isso signifique falta de respeito ou incapacidade de reconhecer a gravidade da situação que vivemos.

Ferramentas relacionais para sobreviver a mais um confinamento

Casal e dois filhos a falar com a família via zoom

A falta de pessoas, de estar com quem gostamos, é apontado como um dos principais motivos para que nos sintamos tristes e cansados desta situação. Nesse sentido, opte por reforçar as suas relações, mesmo que o faça à distância, porque o isolamento físico não significa isolamento ou distanciamento emocional. As novas tecnologias dão uma grande ajuda nesse sentido.

Aproveite esses momentos de proximidade para expressar os seus afetos e mostrar aos outros o quão importantes são para si e até para partilhar o que sente. Aí verá que não está sozinho nos seus sentimentos, receios e dúvidas.

Reduza a possibilidade de conflitos, principalmente com as pessoas com quem vive e com quem, naturalmente, tem passado mais tempo.

É natural que este momento possa provocar irritabilidade e aumentar a probabilidade de ocorrerem discussões. Além disso, se está numa relação de casal, “procure comunicar e comportar-se de forma a desculpar comentários críticos ocasionais, perdoar comportamentos que o magoaram, compreender a perspetiva do outro e evitar culpabilizações, hostilidade e desprezo.”

De igual modo, é importante partilhar responsabilidades, dedicar tempo um ao outro, criar espaço para expressar sentimentos e envolverem-se em actividades positivas que aumentem a intimidade.

Procure sentir-se útil e dar um propósito ao que estamos a passar e, para muitos, isso passa por começar a fazer voluntariado, ou por pequenas ações, como ir às compras por um vizinho e simplesmente ligar aos familiares e amigos mais idosos para saber como estão.

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Estabeleça expectativas realistas, que é como quem diz, não ache que se vai tornar num chef de cozinha ou ler os livros todos que andou a acumular nos últimos anos.

Para isso, ajuda se estabelecer períodos sem telefone, televisão ou outros ecrãs para não se sentir um falhanço quando comparando com que se vê nas redes sociais, mas também para não se desmotivar quando as notícias não são tão boas.

Faça uma lista de desejos realista e dedique o seu tempo a coisas que gostaria realmente de fazer durante o confinamento, para ser mais fácil gerir o dia a dia.

Também é importante que mantenha uma rotina, como acordar à mesma hora, continuar a fazer desporto ou até fazer as refeições a horas. Todavia, se houver um dia em que não o consegue fazer, está tudo bem na mesma, não se recrimine, porque amanhã será melhor.

Deste modo, especialmente para quem está em teletrabalho, é mais fácil conseguem manter o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional.

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Cuidar de si é fundamental para sobreviver a mais um confinamento, de acordo com a OP. Para isso, a alimentação é crucial, por isso, opte por escolher alimentos saudáveis, rejeitando a tentação de comer alimentos menos nutritivos e calóricos constantemente.

Se está habituado a fazer exercício físico, continue. Se não costuma fazer, esta é uma boa altura para começar, visto que o desporto melhora o nosso humor e a nossa saúde. Faça aulas online, vá dar uma caminha perto de casa, suba e desça as escadas do prédio onde vive: ideias não faltam.

Manter bons hábitos de sono é outro pormenor que ajuda a um bem-estar geral e que tem uma grande influência no nosso equilíbrio emocional e sempre que possível cumpra o hábito de se deitar e levantar à mesma hora.

Doseie também a consulta de informação sobre a pandemia, porque nem tudo o que lê é verdadeiro e pode sentir-se demasiado absorvido por isso mesmo.

Cultive práticas de relaxamento e tranquilidade, com as quais já esteja familiarizado e que o ajudem realmente a sentir bem, como jogar um jogo, ouvir música, meditar ou tomar um banho relaxante.

E, acima de tudo, encontre e agradeça pelas coisas positivas que tem na sua vida. Essa valorização irá também ajudar a desenvolver a sua capacidade de resiliência.

Fontes

  1. Ordem dos Psicólogos: “COVID-19 – Caixa de ferramentas para manter a saúde psicológica. Segundo confinamento.” Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/doc_covid19_segundo_confinamento.pdf
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