Psicóloga Ana Graça
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14 Abr, 2020 - 13:05

Vamos falar sobre ansiedade? Saiba mais sobre esta perturbação

Psicóloga Ana Graça

Preocupações, inseguranças, medos e muita tensão interior. Viver com ansiedade é desgastante física e psicologicamente, mas há solução.

Ansiedade: mulher pensativa a olhar pela janela

As perturbações de ansiedade inserem-se na categoria das perturbações mentais mais comuns. São altamente prevalentes na população e têm um grande impacto sobre o humor ou os sentimentos das pessoas afetadas.

É NORMAL SENTIR ANSIEDADE? SIM!

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Sentir ansiedade é uma reação normal e saudável. Quando sentimos ansiedade, sentimos uma série de alterações corporais, bem como alterações na forma de pensar e comportar, que nos permitem, de forma muito rápida, enfrentar as ameaças e/ou os perigos com que nos deparamos.

Imagine esta situação: está a atravessar uma estrada grande, muito movimentada. De repente, percebe que um camião, que se dirige na sua direção, não está a abrandar a velocidade e, provavelmente, não irá conseguir parar a tempo. O seu cérebro toma consciência do perigo e ordena ao seu corpo que comece a correr rapidamente, acabando por conseguir chegar ao outro lado da estrada são e salvo.

Nesta, como em todas as outras situações que o nosso cérebro interpreta como ameaças/perigos, o nosso corpo experiencia uma série de reações, tais como:

  • Mente mais alerta
  • Frequência cardíaca e pressão arterial aumentadas
  • Menor produção de saliva e sensação de boca seca
  • Respiração mais acelerada
  • Falta de ar
  • Tensão muscular
  • Inquietação
  • Mãos frias e húmidas
  • Sudorese

Esta resposta é útil a curto prazo, especialmente se o perigo puder ser resolvido através do esforço físico. Foi bastante útil no passado distante, quando como espécie nos víamos obrigados a lidar regularmente com o perigo físico.

No entanto, a longo prazo é uma resposta pouco saudável e a sua utilidade é reduzida na maioria das situações indutoras de stress que vivemos nos dias de hoje. Por exemplo, esta resposta de “luta ou fuga” corporal não ajuda quando temos que falar em público ou quando temos uma desavença com o nosso superior hierárquico no trabalho (1).

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QUANDO É QUE A ANSIEDADE SE TORNA UM PROBLEMA?

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A ansiedade torna-se problemática quando é desnecessária ou inadequada, ou seja, quando ocorre em situações em que não existe perigo/ameaça real e quando começa a interferir no dia-a-dia. Quando a ansiedade se torna difícil de gerir é possível que as pessoas se sintam:

  • Inquietas
  • Facilmente cansadas
  • Irritadas
  • Com tensão muscular
  • Com dificuldades de concentração
  • Com dificuldades em adormecer e/ou manter o sono
  • Assoberbadas e incapazes de lidar com as tarefas diárias
  • Deprimidas e desmotivadas

Tendo em conta que a ansiedade é uma resposta normativa, não é possível bani-la por completo, no entanto, é possível aprender a geri-la e a controlá-la (1).

QUE PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE EXISTEM?

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O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) é a classificação padrão mais utilizada pelos profissionais de saúde mental. Este manual lista os critérios de diagnóstico para cada perturbação psiquiátrica e sofreu algumas alterações na sua 5ª edição.

As perturbações obsessivo-compulsivas e as perturbações relacionadas com o stress e o trauma ganharam uma categoria própria e deixaram de pertencer ao lote das perturbações de ansiedade.

Assim, baseando-nos neste sistema de classificação, encontramos as seguintes perturbações de ansiedade:

1. Perturbação de ansiedade de separação

Medo e ansiedade excessivos e inadequados para o nível de desenvolvimento do indivíduo relativos à separação daqueles a quem está vinculado, podendo estar presentes alguns dos seguintes sintomas:

  • Mal-estar excessivo e recorrente que ocorre ou é antecipado à separação da casa ou das principais figuras de vinculação
  • Preocupação excessiva e persistente pela possível perda das principais figuras de vinculação ou por possíveis males que possam acontecer a essas pessoas
  • Preocupação excessiva e persistente pela possibilidade de que um acontecimento adverso possa levar à separação de uma importante figura de vinculação
  • Relutância ou recusa em, por medo da separação, sair de casa para a escola, para o trabalho, ou outro local
  • Relutância ou medo excessivo e persistente de estar em casa ou noutras situações sozinho ou sem as principais figuras de vinculação
  • Relutância ou recusa em dormir fora de casa ou em adormecer sem estar próximo de uma importante figura de vinculação
  • Pesadelos que envolvem este tema da separação
  • Queixas repetidas de sintomas físicos quando ocorre ou se antecipa a separação

2. Mutismo seletivo

Incapacidade persistente em falar em situações sociais específicas em que se espera que fale, apesar de o fazer noutras situações.

3. Fobia específica

Medo ou ansiedade marcados em relação a um objeto ou situação específicos (por exemplo, viajar de avião, alturas, animais, levar um injeção, ver sangue).

4. Perturbação de ansiedade social

Medo ou ansiedade marcados de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo está exposto ao possível escrutínio dos outros, por exemplo: interações sociais (como numa conversa ou num encontro com pessoas desconhecidas), ser observado (como a comer ou a beber) e em situações de desempenho perante os outros (como a falar em público).

5. Perturbação de pânico

Ataques de pânico (períodos abruptos de medo ou desconforto intensos que atingem um pico em minutos) inesperados e recorrentes. Durante os ataques de pânico podem desenvolver-se alguns sintomas, nomeadamente:

  • Palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado
  • Suores
  • Tremores ou estremecimentos
  • Sensação de falta de ar
  • Desconforto ou dor no peito
  • Náuseas ou mal-estar abdominal
  • Sensação de tontura ou desequilíbrio
  • Medo de perder o controlo ou enlouquecer
  • Medo de morrer

6. Agorafobia

Medo ou ansiedade marcados acerca de algumas situações, nomeadamente:

  • Utilização de transportes públicos
  • Estar em espaços abertos
  • Estar em espaços fechados
  • Estar em pé numa fila ou estar numa multidão
  • Estar fora de casa sozinho

7. Perturbação de ansiedade generalizada

Ansiedade e preocupação excessivas que ocorrem em mais de metade dos dias durante pelo menos 6 meses, sobre vários acontecimentos ou atividades. Nesta perturbação, o indivíduo tem muita dificuldade em controlar a preocupação e pode apresentar alguns dos seguintes sintomas:

  • Agitação, nervosismo ou tensão interior
  • Fadiga fácil
  • Dificuldades de concentração
  • Irritabilidade
  • Tensão muscular
  • Perturbações do sono

8. Perturbação de ansiedade induzida por substância/medicamento

Nesta perturbação, ataques de pânico ou ansiedade predominam no quadro clínico. Estes sintomas desenvolveram-se durante ou pouco depois da intoxicação, abstinência ou depois da exposição a um medicamento.

9. Perturbação de ansiedade devida a outra condição médica

Nesta perturbação, ataques de pânico ou ansiedade predominam no quadro clínico, e há evidência de que a perturbação é uma consequência patofisiológica direta de outra condição médica (2).

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QUAL O MELHOR TRATAMENTO PARA a ANSIEDADE?

A combinação de tratamento farmacológico e tratamento não farmacológico traz reduções mais acentuadas no controlo da sintomatologia ansiosa, face à sua aplicação individual. Assim sendo, a farmacologia é apenas uma parte de um processo que deve incluir apoio psicológico, conselhos sobre estilo de vida e educação da pessoa com perturbação de ansiedade. É imperativa uma sinergia entre farmacologia e apoio psicológico (3).

Fontes

  1. Clinical Research Unit for Anxiety and Depression. (2010). Generalized Anxiety Disorder. Patient Treatment Manual. Disponível em: https://crufad.org/wp-content/uploads/2017/01/crufad_GADmanual.compressed.pdf
  2. APA (2014). DSM 5. Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais, 5ª Edição. Lisboa: Climepsi Editores.
  3. Blomhoff, S., Haug, T. T., Hellström, K., Holme, I., Humble, M., Madsbu, H. P., & Wold, J. E. (2001). Randomised controlled general practice trial of sertraline, exposure therapy and combined treatment in generalised social phobia. The British Journal of Psychiatry, 179, 23–30. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/services/aop-cambridge-core/content/view/D72431812E94A67EFF32D6BAF24A3081/S0007125000266117a.pdf/randomised_controlled_general_practice_trial_of_sertraline_exposure_therapy_and_combined_treatment_in_generalised_social_phobia.pdf
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