Psicóloga Ana Graça
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06 Fev, 2023 - 18:37

Ansiedade infantil: quando os pais não devem ignorar

Psicóloga Ana Graça

Entre 4 a 10 por cento das crianças sofre de alguma perturbação de ansiedade. A ansiedade infantil é uma realidade a ter em atenção.

criança com ansiedade infantil

Quando os medos e as preocupações são excessivos e persistentes podemos estar perante uma perturbação de ansiedade infantil que requer ajuda especializada.

Tal como nos adultos, também nas crianças a ansiedade é um sentimento normal, frequente, que pode trazer um contributo importante no enfrentamento das situações diárias mais desafiantes.

Afinal, o que é a ansiedade?

Os dias parecem cada vez mais compridos e preenchidos, para adultos e crianças, e as palavras stress, preocupação e ansiedade pairam sobre nós, mas afinal o que é a ansiedade? De forma concisa e clara, a ansiedade pode ser definida como um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, no seguimento de alguma tensão ou desconforto derivados da antecipação de um perigo, de algo desconhecido ou estranho.

A ansiedade em níveis adequados é fundamental dado que a nossa capacidade de reação é melhor quando estamos ansiosos, ou seja, é uma resposta normal e adaptativa quando nos deparamos com ameaças, estimulando o organismo a agir perante as situações de perigo.

A ansiedade, num grau saudável, desempenha uma função protetora, contudo, passa a ser considerada patológica quando é exagerada e desproporcional em relação ao estímulo, ou quando é qualitativamente diferente do que é tido como normativo para faixa etária em questão.

A ansiedade não é um sentimento exclusivo dos adultos. Pelo contrário, desde que somos bebé experienciamos medos, assustamo-nos perante alguns estímulos, ficamos inquietos perante a ausência das figuras de referência ou perante a presença de figuras que nos são estranhas.

Todas estas manifestações são normativas e fazem parte do desenvolvimento saudável, no entanto, quando a sua vivência e manifestação são exageradas, quando interferem no dia-a-dia da criança, afetando a sua qualidade de vida, as suas relações na escola e na família, podemos estar perante um quadro de ansiedade infantil patológico.

Quais as particularidades da ansiedade infantil?

Ansiedade infantil: ansiedade por separação

Os medos, a ansiedade e as preocupações são emoções comuns na infância, pelo que importa ajudar as crianças a reconhecer quando estes são exagerados ou irracionais. Estamos perante uma perturbação de ansiedade infantil quando a ansiedade ou o medo:

  • causam stress ou levam a criança a evitar atividades e situações associadas a determinado medo;
  • ocorrem durante duas ou mais atividades diárias ou afetam dois ou mais relacionamentos interpessoais;
  • são sentidos como incontroláveis na maioria das situações;
  • prejudicam o funcionamento da criança, da família ou o desenvolvimento expectável da criança;
  • persistem ao longo do tempo.

As perturbações de ansiedade infantil são um dos quadros mais frequentes na psiquiatria infantil e constituem um dos principais motivos de consulta em contextos de saúde mental infantil, imediatamente a seguir às perturbações do comportamento, e com uma prevalência superior às perturbações depressivas ou às perturbações de hiperatividade e défice de atenção.

Ansiedade infantil: quais tipologias mais comuns?

Criança com síndrome de Aperger a olhar pela janela

As perturbações de ansiedade infantil estão agrupadas em diferentes tipologias. Importa conhecer algumas das mais comuns e estar atentos aos sinais de alerta.

Perturbação de ansiedade de separação

Medo e ansiedade excessivos e inadequados face ao nível de desenvolvimento da criança relativos à separação daqueles a quem está vinculada, que se manifesta pela presença de alguns sintomas, nomeadamente:

  • mal-estar excessivo e recorrente sempre que antecipa a separação de casa ou dos pais;
  • preocupação excessiva pela possível perda das figuras de vinculação, por possíveis males que possam acontecer;
  • recusa em sair de casa para a escola por medo da separação;
  • medo de estar sozinha em casa, ou noutras situações, sem a presença dos pais;
  • pesadelos repetidos que envolvem o tema da separação;
  • queixas repetidas de sintomas físicos quando ocorre ou antecipa a separação.

Mutismo seletivo

Incapacidade persistente em falar em situações sociais específicas em que se espere que fale (por exemplo, na escola) apesar de o fazer noutras situações.

Fobia específica

  1. Medo ou ansiedade em relação a um objeto ou situação específica (por exemplo, levar uma injeção). Nas crianças, o medo e a ansiedade podem ser expressos através do choro, birras, ou ficar colado às pessoas.
  2. O medo e a ansiedade podem ser expressos por choro, birras, imobilidade, colar-se aos outros, retraimento ou incapacidade de falar em situações sociais.

Perturbação de ansiedade social

Medo ou ansiedade de uma ou mais situações sociais em que está exposta à possível avaliação dos outros. A criança não sente esta ansiedade apenas na interação com os adultos, mas também na interação com as outras crianças.

Perturbação de ansiedade generalizada

Caracteriza-se pela presença de ansiedade e preocupações excessivas e incontroláveis sobre diferentes aspetos da vida. Pode também apresentar um ou mais dos seguintes sintomas:

  • agitação, nervosismo ou tensão interior;
  • fadiga fácil;
  • dificuldades de concentração;
  • irritabilidade;
  • tensão muscular;
  • perturbações do sono.

Ajuda especializada? Sim!

É comum que as crianças pequenas apresentem um sem número de medos, no entanto, com a idade, é natural e desejável que o número de medos diminua.

Também o conteúdo dos medos infantis deve sofrer alterações ao longo do desenvolvimento. Se as crianças mais pequenas tendem a temer os monstros e o escuro, as mais crescidas tendem a preocupar-se com o desempenho escolar e com a relação que estabelecem com as outras crianças.

A ansiedade infantil deve ser motivo de preocupação quando interfere na vida diária da criança, prejudicando-a. Nestes casos, é fundamental procurar o aconselhamento do pediatra que acompanha a criança, visto que as perturbações de ansiedade infantil devem ser avaliadas e tratadas o mais precocemente possível, de forma a aliviar o sofrimento vivido pela criança.

As consequências da ansiedade infantil podem ser várias e sérias. As investigações têm vindo a mostrar que as crianças que apresentam níveis de ansiedade mais elevados revelam um desempenho académico e aceitação dos pares inferior às demais e níveis superiores de depressão.

A intervenção psicológica pode ser uma mais-valia na ansiedade infantil, tendo em conta também que, em alguns casos, o recurso à terapia farmacológica pode também ser necessário.

Fontes

Veja também

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