Share the post "Dieta sem glúten: quem deve fazer e quais os erros mais comuns"
A dieta sem glúten tem ganho muita popularidade como técnica para perda de peso e melhoria do bem-estar geral.
Esta dieta envolve a exclusão de todos os alimentos que contenham um conjunto de proteínas vegetais – as proteínas do glúten – que são de difícil digestão no trato gastrointestinal de indivíduos mais suscetíveis. Os alimentos ricos em glúten são os que classicamente têm os cereais trigo, centeio e cevada – ou derivados – como base.
No entanto, será mesmo benéfico retirar os cereais da sua alimentação, mesmo que não apresente nenhuma intolerância à sua porção proteica?
Quem deve seguir uma dieta sem glúten?
O glúten é a designação dada à família de proteínas encontradas no trigo, centeio, cevada e espelta. O nome contém a palavra latina para cola (“glue”), uma vez que a principal propriedade destas proteínas é conferir consistência e elasticidade após mistura com água.
Algumas pessoas sofrem de uma doença gastrointestinal autoimune, a doença celíaca, desenvolvendo alguns sintomas desagradáveis após consumir alimentos com glúten. Esta doença pode provocar lesões na parede do intestino, dificultando a absorção de nutrientes, quando em crianças, afetando o crescimento e desenvolvimento normais.
Esta dieta deve ser seguida em 3 casos específicos: doença celíaca, intolerância ao glúten não-celíaca e alergia à proteína do trigo.
A doença celíaca
A doença celíaca tem origem autoimune, ou seja, envolve uma reação imunológica exacerbada à presença de glúten no intestino, e afeta cerca de 1% da população.
Os doentes celíacos podem experimentar sintomas como dores de estômago, diarreia, obstipação, eczema, inchaço, anemia, cansaço e depressão.
Intolerância ao glúten não-celíaca
Para além da doença celíaca, existe uma outra forma de sensibilidade ao glúten, designada não-celíaca, que é frequentemente discutida e é altamente controversa entre profissionais de saúde.
Embora não tenha o mesmo mecanismo autoimune, os sintomas da sensibilidade ao glúten não-celíaca podem ser semelhantes aos da doença celíaca.
Alergia à proteína do trigo
Por fim, uma outra doença que está associada ao glúten é a alergia à proteína do trigo, mas é relativamente rara, especialmente em adultos, e afeta menos de 1% da população mundial.
Quais os alimentos a evitar numa dieta sem glúten
Evitar por complete o glúten pode ser uma tarefa complicada, principalmente porque os cereais e as suas farinhas são parte quase indispensável de muitos dos alimentos que consideramos essenciais no nosso dia a dia.
As principais fontes de glúten da dieta são:
- Farelo e a farinha de trigo, espelta, kamut e semolina;
- Centeio e alimentos que o contenham;
- Cevada e alimentos que a contenham;
- Aveia, por contaminação cruzada com os cereais acima, que ocorre nos centros de processamento;
- Triticale;
- Malte;
- Levedura de cerveja.
Sendo os cereais a principal fonte de glúten, alguns alimentos podem ser problemáticos para as pessoas que a ele sejam intolerantes, como por exemplo:
- Pão de trigo, centeio e cevada;
- Massas e couscous;
- Cereais de pequeno-almoço;
- Produtos de pastelaria e confeitaria como bolos, muffins, pizzas e sobremesas;
- Alimentos de snack como doces, barras de cereais, bolachas, refeições pré-confecionadas, alguns tipos de batatas fritas de pacote e alguns tipos de frutos secos;
- Molhos como o de soja, teriyaki, hoisin, marinadas e alguns molhos para saladas;
- Bebidas como a cerveja e whisky.
Assim sendo, a forma mais simples e fácil de evitar o glúten é tentar ingerir alimentos pouco processados ou que contenham apenas um ingrediente – como leite, frutas e vegetais, ou frutos secos não processados.
Outra forma é ler com atenção os rótulos e garantir que não aparecem denominações como:
- Trigo e variantes, centeio, cevada e aveia;
- Malte, extrato de malte e xarope de malte;
- Cereais (sem indicar a origem);
- Amido de…/ amido modificado;
- Proteína vegetal (sem indicar a origem);
- Fibras alimentares (sem indicar a origem);
- Aditivos do grupo dos E-14XX.
Quais os alimentos a incluir numa dieta sem glúten
- Todas as carnes e peixes, exceto se forem panadas, como douradinhos.
- Ovos.
- Produtos lácteos, exceto alguns aromatizados.
- Frutas e vegetais.
- Grãos como arroz, quinoa, tapioca, millet, milho, trigo sarraceno e aveia, desde que rotulada “sem-glúten”.
- Amidos e farinhas à base de batata, milho, soja, amêndoa e coco.
- Oleaginosas, incluindo frutos secos e sementes, desde que não processadas.
- Óleos e cremes vegetais.
- Especiarias.
- Grande parte das bebidas, exceto cerveja e whisky.
Quais os principais erros de quem faz uma dieta sem glúten?
Não interpretar corretamente os rótulos
É bastante fácil eliminar o pão e as bolachas da dieta. No entanto, há muito mais numa dieta sem glúten além de eliminar estes alimentos. A leitura dos rótulos é indispensável uma vez que, como referido acima, nem todos os ingredientes se resumem a trigo ou centeio.
Denominações ou termos como amido, proteínas vegetal, fibra vegetal e até mesmo alguns aditivos podem ser sinónimos de glúten que facilmente escapam aos olhos daqueles que apenas procuram pelos nomes dos cereais na lista de ingredientes.
Como a indústria não é legalmente obrigada a listar todos os ingredientes que contenham glúten – apenas aqueles que contêm trigo, um alergénio –, o mais fácil é mesmo escolher os alimentos que contenham a denominação “gluten-free” ou sem glúten.
Considerar que todos os alimentos sem glúten são saudáveis
É importante esclarecer que muitos dos alimentos sem glúten, nomeadamente bolos, biscoitos e snacks são altamente processados, ricos em gorduras trans e açúcar, e podem facilmente contribuir para o aumento de peso.
Mau planeamento de refeições
Embora haja cada vez mais opções, a dieta sem glúten pode ser algo limitadora e por vezes monótona, principalmente porque uma boa parte das refeições – especialmente as “cheat-meals” – têm por base algum tipo de cereal.
Está já confirmado que uma dieta sem glúten para a vida é a única forma de tratamento para a doença celíaca e oportunidades para “pecar” podem traduzir-se em complicações que, quando repetidas com frequência, vão desde carências vitamínicas até ao aumento significativo do risco de cancro do cólon.
No entanto, saber destes riscos não é suficiente para muitas pessoas e na verdade, cerca de ¼ das pessoas diagnosticadas com doença celíaca não aderem corretamente à dieta.
Acreditar que uma dieta sem glúten irá resolver todos os problemas de saúde
Caso seja doente celíaco ou apresente uma sensibilidade ao glúten não-celíaca, uma dieta sem glúten irá sem dúvida melhorar a sua digestão e os seus níveis de energia, entre outras vantagens.
Porém, não espere que esta dieta resolva todos os seus problemas de saúde. Por exemplo, embora algumas pessoas percam peso com esta dieta – sendo esta uma das principais razões da sua popularidade -, nem toda a gente tem os mesmos resultados e há inclusive quem ganhe peso.
Para além disso, outros problemas como carências nutricionais específicas e obstipação podem resultar de uma dieta sem glúten.
Os estudos referem que seguir uma dieta isenta de glúten não previne ou trata carências nutricionais específicas. Isto deve-se ao facto de as pessoas que seguem esta dieta optarem por alimentos processados em detrimento de outros mais nutritivos como frutas e vegetais.
Por outro lado, grande parte dos alimentos sem glúten não é fortificada com vitaminas do complexo B, incluindo o ácido fólico. Uma vez que o pão fortificado é uma fonte interessante destas vitaminas, as pessoas que seguem uma dieta isenta de glúten estão em risco de carência.
Quanto à obstipação, é do conhecimento geral que a ingestão de fibras é de extrema importância para a saúde intestinal. No entanto, partindo do principio que a dieta sem glúten envolve a eliminação de fontes importantes de fibras – como o pão e outros derivados de grãos e cereais – a obstipação constitui um dos efeitos secundários desta dieta.
Paralelamente a isso, a grande maioria dos substitutos isentos de glúten são extremamente pobres em fibras, o que pode piorar ainda mais a obstipação.