Não sei quando é que me tornei nesta pessoa que faz as coisas com muita antecedência. Não sou pessoa de se atrapalhar quando os planos fogem dos trilhos, sofro de uma generosa preguicite aguda, o que faz de mim uma mestre na bela arte lusitana do desenrascanço (mas em bom), de tal modo, que há quem me considere o seu canivete suíço. Aliás, se o meu pai algum dia ler isto (ando a fugir disso como o diabo da cruz), é muito possível que faleça de riso logo depois daquela primeira frase. Conclusão: não se percebe esta necessidade de organização seletiva.
Onde é que eu quero chegar com isto? Aqui: eu planeei esta gravidez com detalhe. Não quer isto dizer que tenho um guião para seguir à risca, tampouco que não vou falhar, ter medo, fazer asneiras, sentir-me a pior ou a melhor nesta coisa de ser mãe, nem sequer que não há espaço a surpresas ou inversões de marcha. Nada disso. Quer apenas dizer que estudei. Muito. E não, isto também não quer dizer que sei tudo. Mas quer dizer uma coisa: estou informada e as minhas decisões são tomadas com base nisto.
O que é que esta informação faz por mim? Para começar, não deixa que a minha ansiedade dispare, para terminar, não papo grupos e não como tudo o que me querem vender, seja em produtos, seja em conselhos, seja em pseudociência. No entanto, o que eu não sabia é que, apesar de toda informação e da forma como me tento proteger, com unhas e dentes, da estupidez alheia… ela grava-se na minha pele sem que eu controle o seu efeito devastador.
Por isso, calem-se, porra! Para começar, se eu quero estar informada deixem-me e poupem-se os “livros e formações são muito úteis mas depois vais ver que não servem para nada”. Se eu quiser a vossa opinião, eu peço. Se possível, não façam perguntas mas se tiverem mesmo que as fazer, não questionem as respostas. Porque ao questionarem as minhas decisões in-for-ma-das, o estupor do meu cérebro vai gravar as vossas perguntas idiotas e transformar isso em insegurança. E ninguém quer parir em pânico.
(sim, já sei que ninguém faz por mal. mas fazem-me mal.)
Veja também:
- #1: o princípio
- #2: não são perguntas normais
- #3: ninguém nos diz isto
- #4: terato… quê?
- #5: tenho medo
- #6: já faltou mais…
- #7: vamos lá fazer um bebé!
- #8: positivo!
- #9: hallo, hallo, estás aí?
- #10: vão ser avós!
- #11: público ou privado?
- #12: um exibicionista
- #13: como assim não sou imune?
- #14: que fome é esta?
- #15: cansam-me
- #16: são puns, pessoas!
- #17: salvem-me das férias
- #18: as papas, os morangos e a morcela
- #19: está tudo no sítio
- #20: as grávidas inventam
- #21: habemus mau feitio
- #22: planear para não panicar!
- #23: eu não quero um baby shower
- #24: o baby shower aconteceu
- #25: uma lufada de ar fresco
- #26: quero relatos, não sermões!
- #27: diz que gravidez não é doença
- #28: nada para vestir
- #29: mixórdia de cenas#30: temos que falar sobre isto
- #30: temos que falar sobre isto
- #32: Bêbada de amor
- #33: Tenho que voltar a isto
- #34: Uma gravidez santa
- #35: O meu plano de parto