As doenças da tiroide manifestam-se através de três condições clínicas, nomeadamente hipotiroidismo (produção hormonal insuficiente), hipertiroidismo (produção hormonal excessiva) e aparecimento de nódulos na tiroide. Vamos saber mais sobre este tema?
A tiroide é uma glândula endócrina situada na zona do pescoço constituída por dois lobos ligados pelo istmo, assemelhando-se assim à forma de uma borboleta, sendo um órgão de extrema importância.
É responsável pela secreção de hormonas, como tiroxina (T4), triiodotironina (T3) e calcitonina, que intervêm na regulação de diversos mecanismos fisiológicos, tais como frequência cardíaca, metabolismo celular, sistema digestivo, manutenção da pele, regulação térmica, metabolismo do cálcio e consequente crescimento ósseo, entre outros.
A atividade das hormonas iodadas (T4 e T3) é regulada pela hormona estimulante da tiroide ou tirotrofina (TSH), sintetizada na hipófise, por um mecanismo fisiológico de feedback negativo, com o objetivo de manter os níveis necessários de T3 e T4 no organismo.
As doenças da tiroide e os seus principais sintomas
Estas patologias manifestam-se por sintomas e sinais de diferentes graus e gravidade, relacionados com a etiologia, duração da doença, idade e presença/ausência de manifestações noutros órgãos. É importante referir que em ambas as manifestações de hipo e hipertiroidismo também é possível a causa ser de origem hipofisiária.
Em termos epidemiológicos estas patologias afetam mais de um milhão de portugueses, com uma prevalência de 4-8%, apresentando o hipotiroidismo uma prevalência superior ao hipertireoidismo.
Alguns dados estatísticos permitem inferir sobre uma maior predisposição para o género feminino, cerca de 83% dos utentes com esta patologia, especialmente em idade fértil.
Hipertiroidismo
Esta condição resulta no excesso da produção de hormonas tiroideias (glândula hiperativa), e consequentemente aumento do metabolismo. Tem uma prevalência superior no género feminino, sendo manifestada frequentemente pela Doença de Graves.
Entre os sinais e sintomas mais frequentes desta disfunção está:
- perda de peso;
- alterações de humor;
- ansiedade;
- cansaço (principalmente muscular);
- dispneia;
- intolerância ao calor;
- sudorese;
- tremores;
- palpitações;
- insónias;
- alterações menstruais;
- bócio (hiperplasia na tiroide);
- e, por vezes, é também acompanhada por alterações gastrointestinais (diarreia).
Relativamente ao tratamento, pode passar por terapêutica medicamentosa, diminuindo assim a síntese de produção hormonal, como também o tratamento com iodo radioativo (iodo-131) que elimina o tecido tiroideu hiperativo.
Por norma, é um procedimento bem tolerado pela maior parte dos pacientes, e utilizado muitas vezes após tiroidectomia (remoção total ou parcial da tiroide), a fim de evitar o reaparecimento da patologia.
Hipotiroidismo
O hipotiroidismo deriva de uma produção insuficiente das hormonas tiroideias, provocando uma diminuição generalizada do metabolismo.
A principal causa é a tiroidite de Hashimoto, onde o próprio organismo produz anticorpos contra o próprio órgão, prejudicando o seu funcionamento (auto-imune).
Outras causas incluem a cirurgia à tiroide, terapia com iodo radioativo, medicamentos que alteram a produção hormonal e alterações cerebrais, nomeadamente onde é sintetizada a TSH.
Os principais sinais e sintomas variam entre:
- aumento de peso;
- astenia;
- intolerância ao frio;
- fraqueza e dores musculares;
- pele seca e descamativa;
- depressão;
- disfunção sexual;
- ritmo cardíaco lento;
- obstipação;
- queda de cabelo;
- unhas frágeis;
- edemas (especialmente nos membros inferiores);
- irregularidades menstruais;
- lentificação nos movimentos e raciocínio;
- bócio e atraso na maturação óssea (no caso de hipotiroidismo congénito).
De uma forma geral a terapêutica (sobretudo oral) desta disfunção consiste, maioritariamente, pela reposição das hormonas tiroideias, sendo a dose ajustada pelo doseamento da TSH. Como se trata de uma patologia crónica, a medicação deve ser mantida de uma forma contínua.
Nódulos na tiroide
Os nódulos na tiroide (vulgarmente designados por “caroços”), com uma proporção de 1:15 nas mulheres e 1:60 nos homens aparecem frequentemente no interior da glândula e podem estar relacionados com carência de iodo, alterações genéticas, inflamação da tiroide e exposição de radiação durante a infância.
Por vezes estão associados ao cancro da tiroide, no entanto, e felizmente, a maior parte dos nódulos aparecem numa condição benigna. Para isso é importante identificar a presença de um só nódulo ou de vários nódulos (condição benigna mais frequente, como bócio multinodular), através de exame físico por palpação e exames imagiológicos.
Como a maior parte dos casos apresentam uma condição benigna, o tratamento incide por reduzir o tamanho do nódulo se a avaliação médica assim o determinar. No entanto pode existir a possibilidade de ser intervencionado cirurgicamente em casos mais particulares.
Normalmente, não apresentam sintomatologia específica, sendo muitas vezes detetados em exames de rotina. Em alguns casos pode provocar:
- dor na parte frontal do pescoço;
- algum desconforto na deglutição de alimentos sólidos ou líquidos, no caso de nódulos de maiores dimensões;
- mais raramente alguns nódulos podem provocar tosse ou falta de ar, caso possam comprimir a traqueia.
De acordo com a British Thyroid Foundation é importante salientar que estas patologias, além de apresentarem uma variedade sintomas físicos, exigem o controlo de sintomas psicológicos inerentes (depressão, ansiedade, alterações de humor e insónias), pois podem manifestar-se por mais tempo, mesmo com os resultados laboratoriais de monitorização normais, e assim condicionar gravemente a rotina diária.
Para isso, é necessário não negligenciar esse tipo de sintomatologia, devendo ser exposta ao médico especialista, pois também faz parte da doença. Adicionalmente, como forma de prevenção e controlo pessoal, deve evitar sobrecargas de stress (sendo considerada uma fonte de agravamento) e outros estímulos negativos, assim como fazer uma dieta equilibrada conjugada com a prática de exercício físico moderado.
Diagnóstico das doenças da tiroide
A disfunção tiroideia é frequentemente associada a um fenótipo subtil e inespecífico, muitas vezes subclínico, requerendo estudos laboratoriais, imagiológicos (ecografia) e exames de medicina nuclear (cintigrafia) para o correto diagnóstico e monitorização.
Relativamente aos estudos laboratoriais, requerem a determinação da concentração da TSH, geralmente o primeiro parâmetro a sofrer alterações, em combinação com as frações livres das hormonas tiroideias, tiroxina livre (FT4) e triiodotironina livre (FT3) e a pesquisa dos anticorpos anti-tiroideus (anti-tiroglobulina e anti-tiroperoxidase), para a avaliação de uma condição autoimune de hipo ou hipertiroidismo.
De acordo com o algoritmo da Direção-Geral da Saúde, referentes aos exames laboratoriais para a avaliação da tiroide, podemos concluir que para uma condição de: hipertiroidismo é espectável um aumento da FT4 (ou T3 total) e diminuição de TSH, ou se perante hipertiroidismo subclínico os valores de FT4 apresentam-se normais mantendo a TSH diminuída; hipotiroidismo é esperada uma diminuição de FT4 e aumento de TSH, o que não se verifica numa condição de hipotiroidismo subclínico onde a FT4 apresenta valores normais e aumento de TSH.
Condição Clínica Parâmetro analítico | TSH | FT4 |
Hipertiroidismo | Diminuída | Aumentada (e/ou T3 Total aumentada) |
Hipertiroidismo subclínico | Diminuída | Dentro dos valores de refêrencia |
Hipotiroidismo | Aumentada | Diminuída |
Hipotiroidismo subclínico | Aumentada | Dentro dos valores de refêrencia |
Adicionalmente, o doseamento de tiroglobulina (proteína sintetizada e específica do tecido tiroideu) é importante no seguimento pós-tiroidectomia e não como parâmetro isolado de diagnóstico.
Aliado à avaliação laboratorial, e especialmente em casos de presença de nódulos, é possível efetuar exames mais específicos como é o caso da citologia aspirativa com agulha fina (CAAF), sendo a sua intervenção avaliada previamente pela confirmação ecográfica de nódulo da tiroide. Este exame é realizado com controlo através de ecografia, e consiste na aspiração de células, para posterior estudo citológico.