Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
19 Mar, 2023 - 17:31

Valores de referência da Diabetes: conheça-os

Nutricionista Hugo Canelas

A auto-monitorização é a chave para controlar a glicemia. Damos a conhecer os valores de referência da diabetes.

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Na prática clínica, o controlo da diabetes é baseado em valores de referência. Este controlo é avaliado principalmente através da análise da hemoglobina glicada A1C (HbA1C), um parâmetro que reflete a média de glicemias nos três meses anteriores à realização do teste.

A monitorização individual parece ser útil e eficaz, particularmente na necessidade de ajuste da medicação e especialmente no caso de diabéticos do tipo 1, cujo tratamento envolve a administração de insulina.

Esta prática permite uma avaliação individual da resposta à terapêutica, tanto medicamentosa como nutricional, não só guiando os profissionais de saúde para uma personalização das prescrições, mas dando ferramentas ao doente para gerir potenciais desregulações do açúcar do sangue.

Descrita a importância desta prática, torna-se então imprescindível conhecer os valores de referência da diabetes atualmente aceites para evitar variações e sintomas indesejados.

Em que consiste a diabetes?

diabetes é uma doença metabólica crónica que se caracterizada por estados de hiperglicemia (níveis elevados de açúcar no sangue) constantes, os quais resultam de uma deficiência na produção / secreção de insulina (hormona que atua na regulação da glicemia), de uma alteração na sua ação ou de ambas, resultando num metabolismo anormal dos macronutrientes ingeridos através da alimentação.

Neste contexto, é importante manter as glicemias o mais controladas possível e dentro dos valores de referência da diabetes, previamente estipulados.

Tipos de diabetes existentes

De um modo geral, a doença pode ser classificada em três categorias major. Veja.

  • Diabetes tipo 1: é uma doença autoimune, na qual o próprio sistema imune destrói as células pancreáticas produtoras de insulina. Por esse motivo, é também chamada de insulino-dependente, uma vez que a sobrevivência da pessoa depende da administração de insulina exógena.
  • Diabetes tipo 2devida à perda de função progressiva das células pancreáticas produtoras de insulina, resultando numa expressão menor de insulina. Está intimamente relacionada com a obesidade ou excesso de peso, maus hábitos alimentares e elevados níveis de sedentarismo.
  • Diabetes gestacionalquando a anormalidade na glicemia é diagnosticada no 2º ou 3º trimestre da gravidez, sem diabetes prévia à gestação.
  • Outros tipos específicos, associados a doenças que afetam a porção exócrina do pâncreas como fibrose cística, pancreatite ou induzidos por medicamentos como corticoides, imunossupressores ou anti-retrovirais.

Classificação dos valores de referência da diabetes

Os valores de referência da diabetes ajudam a estabelecer condições de normoglicemia, hiperglicemia ou hipoglicemia e a fazer o diagnóstico da doença.

Normoglicemia

É o mesmo que dizer que os valores da glicose estão dentro da normalidade. Para que os valores sejam considerados normais, a glicose deve estar os 80 mg/dl e os 140 mg/dl, dependendo se a análise foi feita em jejum ou após a refeição.

Hiperglicemia

Acontece quando os valores da glicose ultrapassam os valores normais, ou seja, os níveis de açúcar no sangue são altos. Isto acontece por três razões: o organismo produz insulina a menos, o organismo não utiliza bem a insulina ou uma combinação das duas.

Quando os valores de glicose em jejum no sangue são superiores a 100 mg/dL, é sinal de hiperglicemia; depois de uma refeição, esse valor é de 140 mg/dL.

Além disto, deve testar imediatamente a glicemia se sentir sensação de sede constante e intensa, boca seca, fome, cansaço, visão turva e vontade frequente de urinar.

Hipoglicemia

Por outro lado, quando os valores de açúcar estão baixos demais, os doentes podem ter sintomas como tremores, suores, fraqueza, batimentos cardíacos rápidos ou fortes, tonturas, visão dupla ou desmaios.

Se não for detetada e tratada pode ter ainda consequências mais graves como lesões cerebrais ou morte. Se ingerir algo doce, como um sumo de fruta, os valores devem voltar ao normal.

Pode ser classificada em grau 1 (glicose ≥ 54 e < 70 mg/dL), grau 2 (glicose < 54 mg/dL) e grau 3 (caracterizada por alterações de consciência e necessidade de assistência médica).

Quais as recomendações para os valores de glicemia na diabetes?

A glicemia deverá ser avaliada não só em jejum mas também 1 a 2 horas após as refeições.

Valores de referência em jejum

  • inferior 70 mg/dl: hipoglicemia
  • 80 mg/dl a 100 mg/dl: normal
  • 100 mg/dl a 125 mg/dl: pré-diabetes
  • superior 126 mg/dl: diabetes

Valores de referência 2 horas após a refeição

  • inferior 70 mg/dl: hipoglicemia
  • 70 mg/dl a 140 mg/dl: normal
  • 140 mg/dl a 199 mg/dl: pré-diabetes
  • superior 200 mg/dl: diabetes

Cuidados para atingir os valores de referência da diabetes

Estes são alguns princípios relativos a estilos de vida que poderão ser adotados no sentido de atingir os valores de referência da diabetes, descritos na última revisão das linhas orientadoras da prática clínica da Associação Americana de Diabetes (ADA).

Macronutrientes

  • Não estão definidas percentagens ideais de proteínas, hidratos de carbono ou gorduras para diabéticos ou pré-diabéticos. A distribuição de macronutrientes deve ser baseada na avaliação individualizada dos padrões alimentares, gostos e objetivos de glicemia.
  • Estratégias de auto-monitorização da ingestão de hidratos de carbono como forma de otimizar o timing das refeições, levando em consideração a toma de medicamentos e a prática de atividade física são importantes para atingir o controlo metabólico.
  • A ingestão de fibras é a mesma que a recomendada para a população saudável (25 a 38 gramas por dia), preferencialmente através de vegetais e leguminosas, frutas e cereais integrais; esta prática pode ter um impacto positivo no controlo da A1C.

Padrões alimentares

São aceites várias combinações de alimentos de forma a atingir o controlo glicémico pretendido. De forma geral, os fatores chave comuns a todos os padrões parecem ser:

  • ênfase nos vegetais não-amiláceos (aipo, beringela, brócolo, cebola, espargo, espinafre, nabo, tomate entre outros);
  • reduzir a ingestão de cereais refinados e açúcares de adição;
  • evitar alimentos processados;
  • reduzir a ingestão total de hidratos de carbono (45 a 55% do valor energético total);
  • alguns doentes podem ter necessidade de reduzir a toma de anti-diabéticos orais, nestes casos, a prescrição de uma dieta pobre a muito pobre em hidratos de carbono (≤ 50 gramas por dia) pode ser uma opção viável.

Balanço energético e perda de peso

  • Em doentes com diabetes tipo 2 está recomendada uma perda de peso de 5 a 15% de forma a obter os benefícios em termos glicémicos e cardiovasculares.
  • Em doentes com critérios para inclusão, pode ser associado ao plano alimentar hipoenergético a toma de medicação e/ou cirurgia metabólica, como forma de atingir e manter benefícios em termos glicémicos e cardiovasculares.
  • Pré-diabéticos com peso saudável devem ser encorajados à prática de atividade física e à adoção de padrões alimentares mais saudáveis como a dieta Mediterrânica.

Uso de adoçantes

  • Substituir bebidas açucaradas por água sempre que possível.
  • Ao utilizar adoçantes de forma a reduzir a ingestão global de hidratos de carbono, os doentes deverão ser acautelados relativamente ao possível consumo energético exacerbado proveniente de outros macronutrientes (gorduras).

Consumo de bebidas alcoólicas

  • Em doentes diabéticos e pré-diabéticos é recomendada moderação na ingestão de bebidas alcoólicas (≤1 copo para mulheres e ≤2 copos para homens).
  • Estes doentes deverão ser elucidados quanto aos sinais e sintomas da hipoglicemia tardia associada à ingestão de bebidas alcoólicas, especialmente quando houver toma de secretagogos ou insulina.

Vitaminas, minerais e suplementos herbais

  • Não há evidência científica que suporte a toma de vitaminas e minerais em doses super-fisiológicas por doentes diabéticos, salvo em casos de carência pré-existente pelo que não se recomenda a toma de suplementos deste tipo.
  • Recomenda-se a avaliação anual dos níveis de vitamina B12 nos doentes com metformina, e a respetiva suplementação em caso de carência.
  • A toma rotineira de crómio ou vitamina D, bem como suplementos supostamente hipoglicemiantes – canela, aloé vera e curcuma – não têm validade científica e, como tal, não é recomendada.

Conclusão

O conhecimento dos valores de referência da diabetes é de extrema importância para a auto-monitorização da doença, sendo esta da responsabilidade do doente e é a chave para evitar complicações cardiovasculares, renais e neurológicas.

Se sofre desta doença (ou está a ponto de) consulte o seu médico e nutricionista, de forma a obter o tratamento mais personalizado possível.

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