Atualmente, além de estarmos a atravessar uma crise de saúde pública, estamos também a viver uma crise financeira, ou seja, para além da ansiedade relacionada com o surto, o desemprego e a perda de rendimentos são também preocupações bem reais. Mas qual a relação entre a situação financeira instável e saúde mental?
Situação financeira instável e saúde mental: que relação?

Quando confrontados com um inimigo tão imediato e presente, como é o caso da pandemia por COVID-19, é comum que outros fatores que impactam a nossa saúde física e mental não estejam tão presentes nas nossas preocupações.
Todavia, situações como desemprego, pobreza, dificuldade em manter a habitação ou em garantir as necessidades alimentares da família são extremamente prejudiciais para a saúde, ainda que tenham menor visibilidade na comunicação social.
Estes fatores sociais e financeiros não são tão visíveis como a pandemia que vivemos, no entanto, não devem ser ignorados já que contribuem para o ampliar das complicações de saúde a nível físico e mental, ainda que tal aconteça a longo prazo.
A instabilidade financeira, o desemprego e a perda significativa de rendimentos são fatores de risco para o emergir de sintomas depressivos, para o aumento do risco de suicídio e para um consumo aumentado de álcool e outras substâncias.
A perda de emprego/rendimentos pode levar a uma menor procura por cuidados de saúde pagos, maiores dificuldades em comprar a medicação habitual e ao adiamento de tratamentos ao nível da saúde mental (1).
A situação de desemprego, em particular, tem o potencial de afetar negativamente a saúde mental e emocional. O trabalho oferece sensação de segurança, realização e autoeficácia, é uma oportunidade de conexão com os colegas, confere propósito e significado à vida.
Quando o emprego se extingue, leva com ele muitas destas vantagens. Não se resume apenas à perda do salário, mas também há perda de uma rotina estruturante que contribui para a saúde mental (2).
Como sobreviver com saúde à instabilidade financeira?

Como vimos, a relação entre situação financeira instável e saúde mental é bastante estreita e perigosa para o bem-estar geral. Logo, importa adotar algumas medidas que contribuam para o bem-estar e para a saúde mental em tempos de pandemia e instabilidade financeira, tais como:
Deixar a culpa de lado
A culpa da instabilidade financeira associada ao surto por COVID-19 não nos pertence. Não nos podemos culpar pela redução dos rendimentos ou pela situação de desemprego. Atribuir culpas apenas será ainda mais prejudicial para a saúde mental.
Recorrer à rede social de apoio
Acima de tudo, devemos proteger a nossa saúde, nomeadamente a nossa saúde mental. Uma boa forma de o fazer passa por manter interações sociais frequentes e saudáveis. Estar desempregado ou estar a cumprir isolamento social não deve ser motivo para estar só e totalmente isolado.
Fugir das interações sociais tóxicas
Durante um período tão conturbado e desgastante, tudo o que não precisamos é de relações sociais negativas. Devemos rodear-nos de quem nos quer bem, nos apoia e nos quer ver prosperar.
Criar e manter uma rotina diária
A diminuição de horas de trabalho ou desemprego podem conduzir ao aborrecimento, ao tédio, a sentimentos de desesperança, ao isolamento e à depressão. Para combater estas situações é fundamental a existência de uma rotina diária que mantenha a atividade e a motivação. Idealmente, essa rotina deve incluir:
- Ciclo regular de sono/vigília
- Prática de atividade física
- Tempo para desenvolver uma nova habilidade ou um novo projeto
- Alimentação cuidada
- Tempo no exterior da habituação, sempre que possível e com os devidos cuidados
- Tempo de qualidade com outras pessoas (2)
Conclusão
Felizmente, algumas pessoas estão a conseguir ultrapassar este período de crise com exposição e risco mínimos, já que o teletrabalho e as entregas ao domicílio facilitam o dia-a-dia de muitas famílias.
No entanto, há profissões que não podem parar e exigem o trabalho presencial, bem como há famílias que dependem da reabertura dos seus negócios. É importante, por isso, tentar minimizar o saldo negativo que a relação entre situação financeira instável e saúde mental pode trazer.
- Barnhorst, A. (2020). The Hidden Cost of COVID Shutdowns. Psychology Today. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/in-crisis/202005/the-hidden-cost-covid-shutdowns
- Fuller, K. (2020). Mental Health and Job Loss. Psychology Today. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/happiness-is-state-mind/202005/mental-health-and-job-loss