Em tempos de pandemia e isolamento social como os que agora vivemos, é-nos recomendado que utilizemos as videochamadas para encurtar as distâncias profissionais e a distância daqueles de quem mais gostamos. Mas será que o excesso de videochamadas pode, de alguma forma, ser prejudicial à saúde mental? Vamos tentar descobrir!
O novo normal…

Quantas videochamadas faz por dia? Provavelmente, muitas. Para os pais e avós, para aqueles amigos especiais, para os colegas de trabalho, para os clientes, e muitos mais. Sejam quais forem os destinatários, o mais provável é que as videochamadas ocupem parte do seu dia.
A tecnologia que parece “salvar-nos” nos períodos de isolamento e quarentena pode também estar a causar impacto negativo ao nível da saúde mental e parece que este impacto pode estar associado ao excesso de videochamadas.
De facto, sentimo-nos gratos pelas inúmeras possibilidades que as novas plataformas de comunicação nos oferecem, mas alguns de nós sentem-se emocionalmente e energeticamente exaustos perante o excesso de videochamadas diárias (1).
Excesso de videochamadas: a “fadiga do zoom”
A pandemia por COVID-19 trouxe novas experiências e novas formas de vida. Conceitos e comportamentos de distanciamento social e etiqueta respiratória passaram a fazer parte do dia a dia, mas também as novas plataformas de comunicação e termos como a “fadiga do zoom”.
A “fadiga do zoom” é uma experiência totalmente nova mas que parece ser prevalente e intensa. Descreve o cansaço, a preocupação e/ou o esgotamento associados à utilização excessiva das plataformas virtuais de comunicação.
A ciência tem feito um esforço para compreender este fenómeno e quais as suas motivações e implicações, nomeadamente ao nível da saúde mental. Vamos conhecer algumas delas:

A falta de recompensa percebida
Sentimo-nos mentalmente desgastados/exaustos quando apesar de despendermos a nossa atenção, energia e motivação, não recebemos a recompensa desejada por esse esforço/desempenho.
As interações sociais estão muito associadas aos nossos circuitos cerebrais de recompensa e, as interações sociais realizadas cara-a-cara ativam mais esses circuitos cerebrais quando comparadas com as interações virtuais, ou seja, fazem-nos sentir mais recompensados, mais satisfeitos, mais motivados e menos fatigados.
A falta de contacto ocular
O contacto ocular contribui para uma maior qualidade das interações sociais. Tendem a ser mais rápidas, facilita a memorização dos rostos, incentiva a maior simpatia e atratividade pelo outro.
A comunicação por vídeo parece comprometer estes benefícios, na medida em que o olhar tende a ser direcionado para a câmara e a dividir-se entre os diferentes interlocutores da videochamada.
Maior esforço cognitivo
Grande parte da comunicação é inconsciente e não-verbal, na medida em que o conteúdo emocional é rapidamente processado através de pistas sociais como o toque, a atenção conjunta e a postura corporal.
Estas pistas não-verbais não são usadas apenas para adquirir informações sobre as outras pessoas, mas também para preparar um resposta adaptativa e para permitir uma comunicação recíproca, tudo isto em milissegundos.
No vídeo, a maioria destas pistas são difíceis de visualizar (o ambiente não é compartilhado, limitando a atenção conjunta; as expressões faciais mais subtis e as de corpo inteiro dificilmente são visualizadas). Sem a ajuda destas pistas, das quais dependemos para avaliar o outro e criar vínculos sociais e emocionais, é necessário um esforço cognitivo e emocional compensatório.
Maior sedentariedade
A prática de atividade física está associada a uma redução do risco de fadiga mental. No momento atual, com o dia preenchido de videochamadas, o dia a dia torna-se mais sedentário, o que propicia a “fadiga do zoom” (2).
Mas quais são as soluções?
Não há fim à vista para o distanciamento social e para a necessidade de ter o dia repleto de videochamadas. Mas há formas de aprimorar o uso destas plataformas, cuidando melhor do nosso bem-estar mental, por exemplo:
1. Estar alerta para o nosso bem-estar mental. Avaliá-lo com frequência. Perceber as nossas necessidades e desejos. Respeitar os momentos de sobrecarga e exaustão e, nessas alturas, fazer uma pausa das interações por videochamada.
2. Escolher quais as plataformas de comunicação à distância que mais se adequam a cada um de nós. Refletir sobre quais são menos desgastantes, mais dinâmicas, menos exaustivas.
3. Ser criativo. Aumentar a espontaneidade e a autenticidade dos encontro digitais (1).
- Dodgen—Magee, D. (2020). Why Video Chats Are So Exhausting. Psychology Today. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/intl/blog/deviced/202004/why-video-chats-are-so-exhausting
- Lee, J. (2020). A Neuropsychological Exploration of Zoom Fatigue. Psychiatric Times. Disponível em: https://www.psychiatrictimes.com/view/psychological-exploration-zoom-fatigue