Nutricionista Inês Sanches
Nutricionista Inês Sanches
05 Nov, 2016 - 01:25

Restrição calórica : a chave para a longevidade?

Nutricionista Inês Sanches

Será que os benefícios da restrição calórica se aplicam na verdade? Vamos fazer a análise e verificar se se trata ou não de um elixir da juventude.

Restrição calórica : a chave para a longevidade?

A restrição calórica é uma intervenção nutricional que restringe a ingestão de energia, mas a nutrição adequada não fica comprometida e são fornecidos todos os nutrientes essenciais. 

Atualmente é uma forma de intervenção muito estudada com o objetivo de se saber se aumenta o tempo de vida de várias espécies, inclusive seres humanos. 

Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que este tipo de intervenção, quando não existe malnutrição, aumenta o tempo de vida em roedores e em certos primatas, onde inclusive, se verificou que a restrição calórica está relacionada com a redução de algumas causas de mortalidade.

Restrição calórica em humanos

doencas cardiovasculares


1. Melhoria do estado de saúde 

Já foi realizado um estudo em humanos que demonstrou que houve uma melhoria do perfil lipídico, redução do índice de massa corporal, diminuição da tensão arterial, melhoria dos valores glicémicos e da insulina em jejum.

No entanto, no final da intervenção os valores voltaram, gradualmente, aos seus números iniciais.

 


2. Restrição calórica e doenças cardiovasculares 

O facto da restrição calórica atrasar a progressão destas doenças em animais pode ser um dos mecanismos pelos quais promove a longevidade. 

No entanto, apesar de alguns estudos apontarem para uma redução fatores de risco cardiovascular, onde está inserido o perfil lipídico e a tensão arterial, não seria justo igualar as condições de vida entre animais e humanos, principalmente da vida social e profissional.

Mais ainda, a diferença de mortalidade entre animais e humanos é difícil de comparar. 

 


3. Restrição calórica ao longo da história

Foi uma realidade em muitos povos ao longo do tempo, e ainda hoje é visível em alguns países mais carenciados.

Contudo, estes acontecimentos naturais não trazem muitas informações relativamente ao seu efeito na longevidade.

Além de serem, normalmente, dietas com baixas calorias são também deficientes em alguns nutrientes essenciais. Estas carências estão relacionadas com a prevalência de doenças infecciosas agudas e/ou crónicas.

 


4. Restrição calórica e seus efeitos na densidade óssea

Algumas das consequências indesejáveis desta dieta relaciona-se com a dimuição significativa da densidade mineral óssea total, femoral e da coluna lombar.

 


5. Restrição calórica e reprodução

Esta intervenção pode comprometer a capacidade reprodutiva dos animais, por afectar múltiplos sistemas, incluindo hormonas envolvidas na reprodução. 

A capacidade de gerar e manter gâmetas está relacionada com a aptidão de assegurar e consumir energia na forma de alimentos.

Esta relação é mais evidente em mulheres, pois o desvio é considerável no que respeita à energia necessária ao suporte alimentar dos embriões e recém-nascidos.

Quando há uma diminuição da ingestão calórica, a energia disponível será direccionada para manter as necessidades básicas em detrimento da reprodução, entrando em ação os mecanismos de sobrevivência.

Um exemplo disso são as amenorreias (falta de menstruação) em doentes com anorexia nervosa, mas também pode acontecer em indivíduos sujeitos a restrição calórica. 

Que conclusões?

  1. A restrição calórica é um tema que tem apresentado resultados muito controversos;
  2. Existem estudos que nos indicam que os benefícios são evidentes, no entanto, outros indicam-nos que são mais os contras do que os prós;
  3. A restrição calórica na idade adulta pode diminuir a quantidade de mortes relacionadas com a idade, mas este tipo de intervenção ao longo da vida pode não ser o melhor procedimento.

“A restrição calórica é a chave para uma longa vida?” 

Ainda não se consegue dizer com toda a certeza que a restrição calórica aumenta a longevidade, apesar de terem sido descritos alguns mecanismos que podem realmente ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares e outras patologias prevalentes em pessoas com mais idade.

Será prioritário estudar esta intervenção em amostras maiores e perceber a implicação no estado físico e mental dos participantes, para se perceber se a restrição calórica não tem influência na qualidade de vida dos mesmos. 


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