Camila Farinhas
Camila Farinhas
02 Jun, 2023 - 08:00

Nódulos na tiróide: o que são, diagnóstico e tratamentos

Camila Farinhas

O diagnóstico de nódulos na tiróide pode causar ansiedade e dúvida, uma vez que esta glândula endócrina regula funções vitais do corpo.

Mulher a fazer ecografia para avaliar nódulos na tiróide

Os nódulos na tiróide ou bócio nodular, são massas palpáveis na sua maioria esféricas, que surgem no interior desta glândula endócrina.

São mais comuns no sexo feminino (80% dos casos) e a sua prevalência aumenta com a idade.

Uma vez que a tiróide é responsável pela regulação de diversos processos corporais, importa perceber qual é o impacto que estas alterações podem ter.

O que é a tiróide e qual a sua função?

Médico com maquete de tiróide na mão

A tiróide é a maior glândula do sistema endócrino, pesa entre 15 a 20 g no adulto e mede aproximadamente 2,5 cm. É uma estrutura com localização anterior e bilateral em relação à cartilagem tiroideia (ou “maçã de Adão”), na zona de junção da laringe e traqueia. Possui dois lobos unidos anteriormente e na zona média pelo istmo, assemelhando-se a uma borboleta.

Produz as hormonas tiroideias T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina) e ainda a calcitonina, responsáveis pela regulação e velocidade dos processos metabólicos essenciais à vida. Estas hormonas desempenham também um papel importante no crescimento e desenvolvimento do organismo, nomeadamente:

  • mecanismo de cálcio;
  • temperatura corporal;
  • frequência cardíaca;
  • pressão arterial;
  • funcionamento intestinal;
  • controlo de peso;
  • estados de humor.

Como se avalia a função da tiróide?

A atividade da tiróide é regulada pelas hormonas tiroideias T3 e T4 e outras duas importantes glândulas localizadas no cérebro: a hipófise e o hipotálamo. A hipófise produz TSH (hormona estimulante da tiróide ou tireotrofina) e o hipotálamo produz TRH (hormona libertadora da tireotrofina).

Interação do eixo hipotálamo-hipófise-tiróide

A interação deste eixo busca o equilíbrio hormonal.

  • Níveis de T3 e T4 muito baixos: o hipotálamo liberta TRH que estimula a produção e libertação da TSH pela hipófise. Consequentemente os níveis de TSH vão potenciar a produção de T3 e T4 pela tiróide, repondo os valores normais destas hormonas tiroideias.
  • Níveis de T3 e T4 muito elevados: o hipotálamo diminui a produção de TRH que inibe também a produção de TSH pela hipófise, havendo menor produção de hormonas tiroideias.

Nódulos na tiróide: o que são?

Mulher a fazer auto-exame à tiróide

Os nódulos na tiróide são massas indolores que surgem no pescoço, geralmente benignas. Não existe uma causa específica para o aparecimento de nódulos na tiróide, mas existem fatores que podem desencadear o seu aparecimento, tais como: sexo, idade, a carência de iodo, fatores hereditários, tiroidite (inflamação da tiróide) e a exposição a radiações na infância.

Características dos nódulos da tiróide

Geralmente, o diagnóstico é feito por palpação ou em exame imagiológico de rotina (ecografia). A endocrinologia é uma das especialidades médicas que trata as doenças da tiróide.  

Assim, quando surgem nódulos na tiróide, estes podem ser classificados como:

  • benignos – são os mais comuns e podem ser quistos, nódulos hiperplásicos (colóides) ou adenomas;
  • malignos – menos comuns, representam 5% dos nódulos na tiróide diagnosticados. O grau de malignidade está associado à capacidade de invasão das estruturas adjacentes e pode assumir várias histologias, nomeadamente: carcinoma papilar, carcionoma folicular, carcinoma anaplásico e carcinoma medular.

Quais os sintomas dos nódulos na tiróide?

A maioria das pessoas que apresenta nódulos na tiróide são assintomáticas. No entanto, e caso existam sintomas, estes podem ser decorrentes do mau funcionamento da tiróide (nódulos tóxicos ou hiperfuncionantes) ou quando são muito volumosos. O tratamento precoce faz toda a diferença, e deverá consultar um médico se verificar:

  • um nódulo ou inchaço indolor na parte da frente do pescoço;
  • saliência no pescoço;
  • alterações no peso e humor;
  • rouquidão inexplicável que não melhora após algumas semanas;
  • dor de garganta sem melhoria;
  • dificuldade em engolir ou em respirar.

Como são diagnosticados os nódulos da tiróide?

1.

Exame físico

A palpação da tiróide pelo médico, associada aos sintomas descritos pelo paciente, é sugestiva do tipo de alteração da tiróide. No entanto, estas informações devem ser complementadas com os meios de diagnóstico abordados em seguida.

2.

Análises sanguíneas

Os níveis séricos de T3 e T4 totais e suas fracções livres, assim como os níveis de TSH  são atualmente suficientes para detetar alterações no funcionamento da tiróide. Os restantes parâmetros, podem ser pedidos de acordo com o paciente em questão e decididos pelo médico.

As alterações benignas mais comuns detetadas através das análises sanguíneas são:

  • Hipertiroidismo (produção excessiva de T3 e T4) – sistema nervoso simpático exarcebado em que os principais sintomas são palpitações, perda de peso, irritabilidade e tiróide aumentada. Doença de Graves ou bócio tóxico é a mais comum, seguida do bócio multinodular tóxico;
  • Hipotiroidismo (produção diminuída de T3 e T4) – associada normalmente a uma dieta deficiente em iodo, ou devido à presença de doença auto-imune como a Tiroidite de Hashimoto.
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3.

Ecografia

A ecografia (ou ultrassonografia) é um exame de diagnóstico por imagem muito preciso, de baixo custo, indolor e inócuo, pois não utiliza radiação ionizante. Pode ser realizado em qualquer faixa etária, inclusivamente em crianças e grávidas.

Através da interação de ultrassons com o corpo (utilizando a sonda ecográfica), são geradas imagens da área a estudar para que possam ser analisadas pelo médico radiologista.

Este exame tem a duração aproximada de 10 minutos e no caso do estudo da tiróide, não necessita de jejum. São obtidas informações sobre: dimensão do(s) nódulo(s), risco de malignidade (embora não seja um diagnóstico definitivo) e avaliação dos gânglios cervicais.

4.

Citologia com Aspiração por Agulha Fina (CAAF)

A Citologia com Aspiração por Agulha Fina (CAAF), permite a recolha de células do nódulo identificado, para que sejam analisadas ao microscópio (exame anatomopatológico).

Guiada por sonda ecográfica, uma agulha de calibre fino punciona o nódulo e uma amostra de células são aspiradas. É um procedimento relativamente rápido e pouco doloroso. Caso existam vários nódulos, serão puncionados aqueles que sejam mais suspeitos.

A citologia não está indicada em nódulos de dimensões inferiores a 1 cm/ 1,5 cm. Mesmo com um diagnóstico de malignidade, a massa deverá ser analisada em laboratório na sua totalidade após cirurgia.

Em alguns casos, o médico pode ainda decidir recorrer a outros exames, nomeadamente: Tomografia Computorizada (TC) ou Cintigrafia da Tiróide.

5.

Auto-exame da tiróide

O diagnóstico precoce de alterações na tiróide poderá fazer toda a diferença. Assim, o auto-exame assume especial importância, principalmente se existirem fatores genéticos associados. Lembrando que este exame não substitui a avaliação clínica e, por isso, devem também ser realizadas consultas periodicamente.

Para realizar o auto exame deve:

  1. começar por localizar e sentir a cartilagem tiroideia que sobe e desce quando engole (conhecida como maçã de adão e mais pequena nas mulheres);
  2. em seguida, deslize os dedos para baixo até sentir a próxima cartilagem saliente;
  3. por fim, coloque os dedos em ambos os lados e engula. Se sentir alguma proeminência, deve ser avaliada por um médico.

Tenho nódulos na tiróide. Qual é o tratamento?

Caso os nódulos sejam diagnosticados como benignos pela citologia, ou se forem de pequenas dimensões, a recomendação é para que sejam vigiados por ecografia a cada 6-12 meses e, anualmente, seja realizado exame físico pelo médico endocrinologista.

Na patologia benigna a cirurgia pode estar indicada no caso de nódulos múltiplos ou de maiores dimensões associados a dificuldade respiratória ou dismorfia cervical.

Se por outro lado forem diagnosticados como malignos, a cirurgia está indicada para remoção parcial ou total da tiróide e gânglios cervicais se afetados, de acordo com decisão médica.

Conclusão

Os nódulos na tiróide, apesar de maioritariamente benignos, devem ser alvo de avaliação periódica. É importante estar atento e caso verifique oscilações anormais de peso, no apetite, fadiga, palpitações cardíacas ou nervosismo em excesso, deve consultar o seu médico endocrinologista. O diagnóstico precoce resulta em um tratamento com melhores resultados.

Fontes

  1. Sociedade Portuguesa de Diabetes e Metabolismo (2020). Cancro da tiróide. Acedido em 18 de Junho de 2020. Disponível em: http://www.spedm.pt/grupo-de-estudo-da-tiroide/cancro-da-tiroide-2/
  2. Direção-Geral da Saúde (2015). Abordagem Diagnóstica do Nódulo da Tiroide em Idade Pediátrica e no Adulto. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0192013-de-26112013-pdf.aspx
  3. American Thyroide Association (2020). Thyroide Nodules. Acedido a 17 de Junho de 2020. Disponível em: https://www.thyroid.org/thyroid-nodules/
  4. American Thyroide Association (2020). Thyroide Function Tests. Acedido a 17 de Junho de 2020. Disponível em: https://www.thyroid.org/thyroid-function-tests/
  5. American Thyroide Association (2020). Thyroide Surgery. Acedido a 18 de Junho de 2020. Disponível em: https://www.thyroid.org/thyroid-surgery/
Veja também

A não esquecer

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