Resistir ao desconfinamento parece ser um comportamento comum por estes dias. Para uma grande maioria das pessoas impera o medo de sair de casa e só o fazem para o estritamente necessário.
É verdade que o distanciamento social e o dever de recolhimento continuam a ser regra, mas é importante que o medo de sair de casa não seja de tal ordem que afete a saúde e o bem-estar, nomeadamente devido ao evitamento de procura de cuidados de saúde necessários.
Desconfinar, mas devagar
Nas últimas semanas o mundo e as nossas vidas mudaram de forma drástica, já que a COVID-19 representa não só uma crise de saúde, com todas as consequências negativas que lhe estão associadas, mas também uma crise social e económica que está a afetar muitas famílias.
Após um longo período de confinamento, é pedido que regressemos, de forma faseada e progressiva, a algumas das nossas rotinas habituais. Este desconfinamento procura alcançar, dentro do possível, o equilíbrio entre o nível de exposição e transmissão do vírus com o levantamento de restrições que podem trazer benefícios sociais e económicos.
É comum e natural que predominem na população sentimentos de incerteza e dúvida, e que o medo de sair de casa esteja presente. Contudo, de acordo com o plano de desconfinamento apresentado, será possível recuperar algumas atividades quotidianas em segurança, desde que sejam cumpridas com rigor todas as recomendações das entidades com responsabilidade ao nível da saúde pública.
Apesar de não podermos “baixar a guarda”, algumas rotinas habituais podem já ser retomadas. No entanto, enquanto houver risco de infeção pelo novo coronavírus, há cuidados especiais a manter (distanciamento social, etiqueta respiratória e higienização das mãos e espaços), a bem da segurança de todos.
Em suma, o comportamento do vírus depende, em grande parte, do comportamento de cada um de nós, pelo que sempre que possível devemos permanecer parte do nosso tempo em casa, contudo, tal não significa que o medo de sair de casa deve imperar e que nos deve limitar por completo a liberdade (1).
Do medo do isolamento ao medo de sair de casa
O cenário de isolamento e distanciamento social vieram mudar a forma como vivíamos em sociedade e vieram influenciar a forma como percecionamos a permanência e a saída de casa.
Apesar das tecnologias digitais terem permitido que muitos de nós permanecêssemos conectados aos amigos, à família e ao resto do mundo, enquanto nos mantínhamos protegidos em casa, nada substitui o contacto físico e a interação social presencial.
Durante o período de confinamento fomos inundados de notícias e avisos acerca da necessidade de permanecer em casa, como forma de travar a propagação da doença. Recebemos instruções para, sempre que nos aventurarmos fora de casa, recorrer ao uso de equipamentos de proteção e permanecer a uma distância de segurança de todas as outras pessoas.
Perante esta nova realidade de desconfinamento as perguntas parecem ser muitas e nem sempre parece ser fácil encontrar as respostas. É seguro sair? É seguro ir a determinado local? Qual será a melhor hora para sair? Como praticar atividade física no exterior sem colocar ninguém em risco? São algumas das questões com que muitas pessoas se debatem.
Por tudo isto, para muitas pessoas, sair de casa tornou-se um acontecimento de tal forma desagradável e receado que preferem evitá-lo. Todavia, quanto mais esta preocupação toma proporções desmedidas e o medo de sair de casa ganha lugar, o sofrimento psicológico tende a aumentar, bem como a ansiedade, insegurança e preocupação (2).
Como enfrentar o medo de sair de casa? 7 dicas que podem ajudar!
Como vimos, é natural que predominem ainda sentimentos de incerteza e medo relativos à exposição ao vírus. Contudo, gradualmente, é possível retomar algumas rotinas habituais e perder o medo de sair de casa.
- Planear e antecipar as adaptações pessoais necessárias para o regresso à normalidade possível, tendo em consideração as situações que podem constituir uma fonte de ansiedade.
- Reenquadrar as exigências da nova realidade. A COVID-19 não desapareceu, nem desaparecerá brevemente, pelo que não resta alternativa que não seja aprender a viver com ela. Assim sendo, importa cumprir todas as recomendações emitidas pelas entidades de saúde.
- Recomeçar, com coragem. Amanhã é sempre um novo dia e esta fase é apenas mais um desafio. Certamente não será o primeiro grande desafio que vencemos. Importa lembrar todos os desafios e momentos exigentes ultrapassados no passado, reconhecer as estratégias empregadas nesses momentos e emprega-las no desafio presente.
- Não ceder ao pânico e procurar focar naquilo que está dentro do alcance controlar.
- Os locais e as situações de aglomeração podem levar a um maior medo de sair de casa. Se possível, há que procurar evitar esses períodos e horário de grande aglomeração, por exemplo, adotando horários mais flexíveis para sair de casa.
- Aceitar a normalidade da ansiedade. Nos primeiros tempos de desconfinamento é expectável que as pessoas se mostrem mais hipervigilantes, o que até pode ser útil para um maior cumprimento das recomendações de segurança. No entanto, é natural e desejável, que com o passar do tempo, todos se mostrem mais adaptados à nova realidade e, consequentemente, a ansiedade e o medo diminuam.
- Procurar ajuda. Se os sentimentos de ansiedade, falta de controlo e medo de sair de casa forem muito intensos, duradouros e/ou se tiverem impacto na forma de gerir o dia a dia, importa pedir ajuda junto de um profissional de saúde mental (1).
- Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2020). COVID-19 Desconfinamento – regressar a (algumas) rotinas habituais. Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/covid_19_desconfinamento_gestores.pdf
- Schluger, A. (2020). From Fear of Missing Out to Fear of Going Out. Psychology Today. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/words-wellness/202004/fear-missing-out-fear-going-out