O leite sem lactose é, tipicamente, mais doce que o leite com lactose. Este facto pode parecer contraditório visto que a lactose é o açúcar naturalmente presente no leite. Ora se o leite sem lactose não contém este açúcar, seria de esperar tudo, menos que este leite tivesse, efetivamente um sabor doce!
Mas porque é que o leite sem lactose é mais doce? Será que o leite sem lactose tem açúcar adicionado? Ou tem algum tipo de açúcar para substituir a lactose? Esclarecemos agora as suas dúvidas.
Porque é que o leite sem lactose é mais doce?
Para aumentar a digestibilidade do leite, no caso do leite sem lactose é adicionada uma enzima chamada de lactase, à sua constituição. Esta enzima tem como função decompor a lactose em dois açúcares para que são mais facilmente digeridos: a galactose e glicose.
Exemplo de lista de ingredientes do leite sem lactose
INGREDIENTES: LEITE MEIO-GORDO (ORIGEM: PORTUGAL), ENZIMA LACTASE.
A glicose e a galactose são açúcares simples fazendo com que o leite sem lactose fique mais doce. Assim, o sabor adocicado é resultado dos açúcares simples que se originaram por da ação da enzima lactase sob a lactose, e não necessariamente a adição de outros açúcares ao leite.
Como se pode constatar, a composição nutricional do leite sem lactose é muito próxima da do leite com lactose (versões naturais, sem sabores).
Leite Meio gordo (valores por 100g)
Energia | 47 Kcal |
Lípidos | 1,6 g |
Dos quais saturados | 0,9 g |
Hidratos de carbono | 4,9 g |
Dos quais açúcares | 4,9 g |
Proteína | 3,3 g |
Leite Meio gordo sem lactose (valores por 100g)
Energia | 58 Kcal |
Lípidos | 1,6 g |
Dos quais saturados | 0,9 g |
Hidratos de carbono | 5,1 g |
Dos quais açúcares | 4,9 g |
Proteína | 3,3 g |
A glicose e a galactose são os mesmos açúcares que irão ser originados no final da digestão no intestino delgado de uma pessoa tolerante. No caso do leite sem lactose, a enzima é adicionada antes para evitar a dificuldade de digestão da lactose.
Com o desdobramento da lactose em componentes mais simples, os sintomas provocados pela sua má digestão não se verificam.
Como se desenvolve a intolerância à lactose?
A intolerância à lactose define-se como a incapacidade total ou parcial para digerir a lactose, o açúcar presente no leite, devido, maioritariamente, à produção insuficiente da enzima lactase, responsável pela digestão deste açúcar. Esta condição leva a transtornos gastrointestinais após o seu consumo, nomeadamente diarreias, náuseas, vómitos, flatulência, entre outros.
Neste sentido, e devido à importância deste grupo alimentar para a maioria da população, surgiram no mercado diversas alternativas para colmatar esta necessidade, entre os quais os lacticínios (leite, queijo e iogurtes) sem lactose.
A digestão da lactose
O intestino delgado é o órgão onde ocorre a maior parte da digestão e absorção dos nutrientes, sendo também o responsável pela produção da enzima lactase.
Como o organismo não consegue absorver a lactose inteira, a lactase tem como função decompor a lactose (açúcar mais complexo – dissacarídeo) em dois açúcares mais simples (monossacarídeos), a glicose e a galactose, de modo a que estes sejam absorvidos e utilizados para produção de energia.
No entanto, para que este processo ocorra de forma eficaz é necessário produzir lactase suficiente, algo que não acontece nas pessoas com intolerância a este açúcar.
Intolerância à lactose
Neste contexto, é ainda importante referir que a produção de lactase tende a diminuir com a idade, sendo este um processo natural que ocorre como uma adaptação genética às mudanças dos hábitos alimentares, em que gradualmente se vai aumentando o consumo de alimentos sólidos em detrimento do leite.
Além disso, a modificação da composição da microbiota intestinal, derivado de hábitos alimentares menos equilibrados, parece também estar associada à diminuição da tolerância a este açúcar.
Quais as soluções para quem sofre de intolerância à lactose?
Os sintomas de intolerância à lactose podem ser facilmente minimizados ou até mesmo eliminados com a redução ou eliminação da ingestão de lactose, de acordo com o grau de intolerância.
Note-se que, a maior parte das pessoas que sofre de intolerância à lactose, consegue tolerar uma dose de cerca de 6g de lactose por dia sem sofrer sintomas adversos após a sua ingestão.
Neste sentido, a primeira medida para evicção dos sintomas é a diminuição dos principais alimentos com lactose, mais precisamente o leite e, em alguns casos, os derivados e sua substituição pelas alternativas vegetais ou sem lactose.
Contudo, é importante salientar que, por norma, o queijo e os iogurtes possuem quantidades de lactose muito mais reduzidas, sendo bem tolerados por quem sofre desta condição.
Para os casos mais complicados existem medicamentos contendo a enzima lactase, que podem ser tomados em conjunto com as refeições, de modo a minimizar a sintomatologia.
Em suma
Como se pode constatar, a diferença do leite sem lactose reside apenas no facto de possuir o açúcar original e natural do leite, a lactose, já desdobrada nos seus componentes mais simples, de modo a ser mais facilmente absorvida pelo organismo de quem sofre de intolerância.
Por esse motivo, a sua composição nutricional é muito aproximada da versão original, não sendo mais nem menos saudável do que esta última.
É recomendado o seu consumo por quem sofre de intolerância diagnosticada a este açúcar ou outra patologia que provoque sensibilidade e mau estar após o seu consumo, de modo a manter o consumo de lacticínios, um grupo de alimentos ricos em proteína de elevado valor biológico e de vitaminas e minerais essenciais ao organismo.
As pessoas que não têm qualquer sintomatologia adversa após o consumo de leite, devem manter o consumo da sua versão original, pois não advém nenhum benefício da sua alteração para a versão sem lactose.