A tiroide é uma glândula endócrina situada na zona do pescoço constituída por dois lobos ligados pelo istmo, assemelhando-se assim à forma de uma borboleta, sendo um órgão de extrema importância. É responsável pela secreção de hormonas, como tiroxina (T4), triiodotironina (T3) e calcitonina, que intervêm na regulação de diversos mecanismos fisiológicos, tais como frequência cardíaca, metabolismo celular, sistema digestivo, manutenção da pele, regulação térmica, metabolismo do cálcio e consequente crescimento ósseo, entre outros.
A atividade das hormonas iodadas (T4 e T3) é regulada pela hormona estimulante da tiroide ou tirotrofina (TSH), sintetizada na hipófise, por um mecanismo fisiológico de feedback negativo, com o objetivo de manter os níveis necessários de T3 e T4 no organismo (1, 2).
As doenças da tiroide manifestam-se através de três condições clínicas, nomeadamente hipotiroidismo (produção hormonal insuficiente), hipertiroidismo (produção hormonal excessiva) e aparecimento de nódulos na tiroide (2).
doenças da tiroide e os seus principais sintomas

Estas patologias manifestam-se por sintomas e sinais de diferentes graus e gravidade, relacionados com a etiologia, duração da doença, idade e presença/ausência de manifestações noutros órgãos (1). É importante referir que em ambas as manifestações de hipo e hipertiroidismo também é possível a causa ser de origem hipofisiária (8).
Em termos epidemiológicos estas patologias afetam mais de um milhão de portugueses, com uma prevalência de 4-8%, apresentando o hipotiroidismo uma prevalência superior ao hipertireoidismo. Alguns dados estatísticos permitem inferir sobre uma maior predisposição para o género feminino, cerca de 83% dos utentes com esta patologia, especialmente em idade fértil (3,4).
Hipertiroidismo
Esta condição resulta no excesso da produção de hormonas tiroideias (glândula hiperativa), e consequentemente aumento do metabolismo. Tem uma prevalência superior no género feminino, sendo manifestada frequentemente pela Doença de Graves (1, 2).
Entre os sinais e sintomas mais frequentes desta disfunção está (1, 2):
- Perda de peso
- Alterações de humor
- Ansiedade
- Cansaço (principalmente muscular)
- Dispneia
- Intolerância ao calor
- Sudorese
- Tremores
- Palpitações
- Insónias
- Alterações menstruais
- Bócio (hiperplasia na tiroide)
- E por vezes É também acompanhada por alterações gastrointestinais (diarreia)
Relativamente ao tratamento, pode passar por terapêutica medicamentosa, diminuindo assim a síntese de produção hormonal, como também o tratamento com iodo radioativo (iodo-131) que elimina o tecido tiroideu hiperativo. Por norma, é um procedimento bem tolerado pela maior parte dos pacientes, e utilizado muitas vezes após tiroidectomia (remoção total ou parcial da tiroide), a fim de evitar o reaparecimento da patologia (1).

Hipotiroidismo
O hipotiroidismo deriva de uma produção insuficiente das hormonas tiroideias, provocando uma diminuição generalizada do metabolismo.
A principal causa é a tiroidite de Hashimoto, onde o próprio organismo produz anticorpos contra o próprio órgão, prejudicando o seu funcionamento (auto-imune).
Outras causas incluem a cirurgia à tiroide, terapia com iodo radioativo, medicamentos que alteram a produção hormonal e alterações cerebrais, nomeadamente onde é sintetizada a TSH. (1,2)
Os principais sinais e sintomas variam entre (1, 2, 5):
- Aumento de peso
- Astenia
- Intolerância ao frio
- Fraqueza e dores musculares
- Pele seca e descamativa
- Depressão
- Disfunção sexual
- Ritmo cardíaco lento
- Obstipação
- Queda de cabelo
- Unhas frágeis
- Edemas (especialmente nos membros inferiores)
- Irregularidades menstruais
- Lentificação nos movimentos e raciocínio
- Bócio e atraso na maturação óssea (no caso de hipotiroidismo congénito)
De uma forma geral a terapêutica (sobretudo oral) desta disfunção consiste, maioritariamente, pela reposição das hormonas tiroideias, sendo a dose ajustada pelo doseamento da TSH. Como se trata de uma patologia crónica, a medicação deve ser mantida de uma forma contínua (1).

Nódulos na tiroide
Os nódulos na tiroide (vulgarmente designados por “caroços”), com uma proporção de 1:15 nas mulheres e 1:60 nos homens aparecem frequentemente no interior da glândula e podem estar relacionados com carência de iodo, alterações genéticas, inflamação da tiroide e exposição de radiação durante a infância.
Por vezes estão associados ao cancro da tiroide, no entanto, e felizmente, a maior parte dos nódulos aparecem numa condição benigna. Para isso é importante identificar a presença de um só nódulo ou de vários nódulos (condição benigna mais frequente, como bócio multinodular), através de exame físico por palpação e exames imagiológicos.
Como a maior parte dos casos apresentam uma condição benigna, o tratamento incide por reduzir o tamanho do nódulo se a avaliação médica assim o determinar. No entanto pode existir a possibilidade de ser intervencionado cirurgicamente em casos mais particulares (2, 6).
Normalmente, não apresentam sintomatologia específica, sendo muitas vezes detetados em exames de rotina. Em alguns casos pode provocar (2, 6):
- Dor na parte frontal do pescoço
- Algum desconforto na deglutição de alimentos sólidos ou líquidos, no caso de nódulos de maiores dimensões
- Mais raramente alguns nódulos podem provocar tosse ou falta de ar, caso possam comprimir a traqueia
De acordo com a British Thyroid Foundation é importante salientar que estas patologias, além de apresentarem uma variedade sintomas físicos, exigem o controlo de sintomas psicológicos inerentes (depressão, ansiedade, alterações de humor e insónias), pois podem manifestar-se por mais tempo, mesmo com os resultados laboratoriais de monitorização normais, e assim condicionar gravemente a rotina diária.
Para isso, é necessário não negligenciar esse tipo de sintomatologia, devendo ser exposta ao médico especialista, pois também faz parte da doença. Adicionalmente, como forma de prevenção e controlo pessoal, deve evitar sobrecargas de stress (sendo considerada uma fonte de agravamento) e outros estímulos negativos, assim como fazer uma dieta equilibrada conjugada com a prática de exercício físico moderado (7).
Diagnóstico das doenças da tiroide

A disfunção tiroideia é frequentemente associada a um fenótipo subtil e inespecífico, muitas vezes subclínico, requerendo estudos laboratoriais, imagiológicos (ecografia) e exames de medicina nuclear (cintigrafia) para o correto diagnóstico e monitorização.
Relativamente aos estudos laboratoriais, requerem a determinação da concentração da TSH, geralmente o primeiro parâmetro a sofrer alterações, em combinação com as frações livres das hormonas tiroideias, tiroxina livre (FT4) e triiodotironina livre (FT3) e a pesquisa dos anticorpos anti-tiroideus (anti-tiroglobulina e anti-tiroperoxidase), para a avaliação de uma condição autoimune de hipo ou hipertiroidismo (3, 8).
De acordo com o algoritmo da Direção-Geral da Saúde, referentes aos exames laboratoriais para a avaliação da tiroide, podemos concluir que para uma condição de: hipertiroidismo é espectável um aumento da FT4 (ou T3 total) e diminuição de TSH, ou se perante hipertiroidismo subclínico os valores de FT4 apresentam-se normais mantendo a TSH diminuída; hipotiroidismo é esperada uma diminuição de FT4 e aumento de TSH, o que não se verifica numa condição de hipotiroidismo subclínico onde a FT4 apresenta valores normais e aumento de TSH (1, 8).
Condição Clínica Parâmetro analítico | TSH | FT4 |
Hipertiroidismo | Diminuída | Aumentada (e/ou T3 Total aumentada) |
Hipertiroidismo subclínico | Diminuída | Dentro dos valores de refêrencia |
Hipotiroidismo | Aumentada | Diminuída |
Hipotiroidismo subclínico | Aumentada | Dentro dos valores de refêrencia |
Adicionalmente, o doseamento de tiroglobulina (proteína sintetizada e específica do tecido tiroideu) é importante no seguimento pós-tiroidectomia e não como parâmetro isolado de diagnóstico (8).
Aliado à avaliação laboratorial, e especialmente em casos de presença de nódulos, é possível efetuar exames mais específicos como é o caso da citologia aspirativa com agulha fina (CAAF), sendo a sua intervenção avaliada previamente pela confirmação ecográfica de nódulo da tiroide. Este exame é realizado com controlo através de ecografia, e consiste na aspiração de células, para posterior estudo citológico (6, 9).
- METIS. Alterações funcionais da Tiroide. Disponível em: http://www.metis.med.up.pt/index.php/Altera%C3%A7%C3%B5es_funcionais_da_tir%C3%B3ide
- HFF-Ministério da Saúde. Doenças da tiroide, saiba como reconhecer os sintomas. Disponível em: https://hff.min-saude.pt/doencas-da-tiroide-saiba-como-reconhecer-os-sintomas/
- Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Avaliação da função tiroideia na população adulta portuguesa. Disponível em: http://repositorio.insa.pt/bitstream/10400.18/4874/4/Boletim_Epidemiologico_Observacoes_N20_2017_artigo3.pdf
- Associação das doenças da tiroide. Semana da tiroide 2020. Disponível em: https://adti.pt/2020/05/27/semana-internacional-da-tiroide-2020-a-mae-e-o-bebe/
- Associação das doenças da tiroide. Hipotiroidismo congénito-alterações da tiroide desde o nascimento. Disponível em: https://adti.pt/?s=hipotiroidismo+cong%C3%A9nito&x=0&y=0
- Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. Nódulo da Tiroide. Disponível em: http://www.spedm.pt/grupo-de-estudo-da-tiroide/nodulo-da-tiroide/
- British Thyroid Foundation. Psychological symptoms and thyroid disorders. Disponível em: https://www.btf-thyroid.org/psychological-symptoms-and-thyroid-disorders
- DGS. Prescrição de Exames laboratoriais para avaliação e monitorização da função tiroideia. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0392011-de-30092011-atualizada-a-26122012-jpg.aspx
- DGS. Abordagem de diagnóstico do nódulo da tiroide em idade pediátrica e no adulto. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0192013-de-26112013-pdf.aspx