Drª Patricia Azevedo | Médica Veterinária
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29 Abr, 2020 - 07:05

COVID-19 e animais de estimação: verdades e mitos

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O que se sabe afinal sobre COVID-19 e animais de estimação? As notícias e informações são várias, no entanto, nem todas são credíveis.

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Apesar de ser uma patologia infeciosa que atinges os humanos, existem muitas questões relacionadas com COVID-19 e animais de estimação.

A realidade, é que o SARS-CoV-2, vírus responsável pela COVID-19 é um vírus relativamente recente, que surgiu em Dezembro na China, e rapidamente infetou mais de um milhão de pessoas por todo o mundo. Assim, ainda pouco se sabe sobre este novo vírus, no entanto, está a ser exaustivamente estudado, e todos os dias surgem novas informações.

No meio de várias questões relacionados com este novo coronavírus, uma grande problemática é a COVID-19 e os animais de estimação. Será que estes têm um papel no meio desta pandemia? Que cuidados os tutores devem ter? Para já existem muitas perguntas e poucas respostas.

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Covid-19 e animais de estimação: verdades E mitos

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Verdade

Existem coronavírus que afetam os animais de estimação

Existem, de facto, tipos de coronavírus que podem afetar os animais de estimação, todavia, isto não significa que este coronavírus em específico o faça.

Os coronavírus pertencem a uma família de vírus que partilham várias caraterísticas, no entanto, dentro desta família, existem diversos tipos de coronavírus que afetam diferentes espécies.

Alguns coronavírus podem afetar mais do que uma espécie, porém, o mais comum, é que coronavírus que afetam uma determinada espécie sejam específicos da mesma e, portanto, não provoquem doença noutras.

No caso dos gatos, existe o coronavírus felino (FCoV) que pode provocar desde sintomas ligeiros de enterite a sintomas mais severos, inclusive levar à sua morte. Este vírus afeta apenas os felinos, não sendo patogénico para o homem nem para outra espécie.

No caso dos cães, também existe um tipo de coronavírus que os afeta – CcoV- especialmente os cachorros, que pode causar diarreia e outros sintomas gastrointestinais. Tal como o FCoV, este é um vírus que afeta especificamente a espécie canina, não sendo patogénico para outras espécies, de igual forma.

Mito

Os animais podem transmitir vírus

Como já referimos anteriormente, o vírus transmite-se através de gotículas infeciosas e de pessoa para pessoa. O pelo dos animais, pode eventualmente, funcionar como um objeto em que a partícula infeciosa se deposita.

No entanto, para já ainda não existem provas de que tal aconteça. Ainda assim, recomenda-se que existam cuidados de higiene antes e depois de manusear os animais de estimação.

Não existe até à data relação entre COVID-19 e animais de estimação, ou seja, não existem dados que comprovem que os animais podem transmitir a doença às pessoas ou a outros animais – e é de salientar que o medo e desconhecimento desta situação está a levar ao abandono em massa em muitos países.

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Verdade

Pessoas infetadas devem evitar contacto com animais

Apesar de, até à data, não existirem estudos que indiquem que os animais de companhia possam ter um papel fundamental na transmissão da doença, alguns cuidados devem ser tomados para evitar contaminações.

O facto é que o SARS-CoV-2 se transmite através de pequenas gotículas com partículas infeciosas que podem ser diretamente transmitidas de pessoa para pessoa pelo ar ou então, podem depositar-se em objetos e contaminar quem neles tocar posteriormente.

Neste caso, do ponto de vista infecioso, os animais, mais precisamente o seu pelo, pode ser considerado como qualquer outro objeto, sendo que é possível que, caso ocorra grande contacto próximo entre uma pessoa infetada e o animal, se possam depositar pequenas partículas infeciosas no seu pelo.

Não existem ainda dados que comprovem se este é um meio eficiente de infeção, ou sequer se as partículas virais permanecem durante muito tempo no pelo dos animais. No entanto, por uma questão de prevenção, o melhor será prevenir e, caso esteja infetado, deve evitar contacto com o seu animal.

Mito

Os animais desempenham um papel importante na disseminação do vírus

Segundo a OIE (Organização mundial de saúde animal) e OMS (Organização mundial de saúde), os animais domésticos não desempenham um papel fundamental na transmissão de COVID-19 às pessoas.

Ou seja, não existem provas de que os cães e gatos possam transmitir a doença para humanos, sendo que a via de contágio documentada é de pessoa para pessoa.

Se tiver dúvidas sobre a informação veiculada acerca do COVID-19 e animais de estimação contacte o seu médico veterinário. Saiba que pode contar com o apoio dos profissionais e serviços da rede Vetecare. Desde 13€ por mês para dois animais de estimação, pode ter acesso a uma vasta rede de clínicas veterinárias e serviços que podem ajudar.

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Verdade

Deve desinfetar as patas dos seus animais quando chegam a casa

Ao ir à rua, os animais podem pisar secreções com partículas infeciosas e portanto podem, posteriormente, trazer essas mesmas partículas para o interior da habitação.

Por norma, limpar as patas dos animais quando voltam da rua para dentro de caso já deve ser um hábito de higiene regular, especialmente animais que vivem no interior da casa e têm por hábito ir para sofás e camas.

No entanto, considerando o cenário atual, torna-se ainda mais importante que haja uma boa lavagem das patas dos animais à entrada de casa, tal como deve haver uma separação de “zona suja” para “zona limpa” para as pessoas.

Mito

Devo desinfetar com álcool ou lixívia as patas do meu cão ou gato

As patas dos animais quando voltam da rua devem ser desinfetadas, no entanto é preciso ter cuidado com o tipo de produtos que utiliza.

O álcool seca muito as almofadas plantares dos animais e pode ser prejudicial, para além de que os animais ao lamberem posteriormente as suas patas podem ingerir o álcool, o que também é prejudicial.

A lixívia, por sua vez, também não é indicada para utilizar nas patas dos cães e gatos, pois pode causar queimaduras químicas graves.

A lixívia e álcool são produtos que devem ser evitados para desinfetar os animais de companhia. Deve dar preferência a soluções de lavagem apropriadas ou lavar mesmo as patas com sabão.

O sabão não destrói o vírus, no entanto, uma boa lavagem da zona, faz com que o vírus seja eliminado da superfície, tal como acontece quando as pessoas lavam as mãos.

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Existem casos de animais que testaram positivo para SARS-CoV-2

De facto, é verdade que existem 4 casos de animais que foram reportados por conviverem com pessoas com COVID-19 e que foram testados e acusaram positivo.

Todavia, é de salientar que o laboratório IDEXX realizou cerca de 4000 testes a animais que conviviam com pessoas diagnosticadas com COVID-19 e testaram todos negativo.

Como referido, os estudos até à data ainda são poucos e com pouca informação, sendo que, num momento em que mais de um milhão de pessoas está infetado em todo o mundo, o numero de animais que se “acha” infetado é muito reduzido, pelo que não será estatisticamente relevante este tipo de contágio, ou seja, de pessoas para animais.

Também um estudo recente da equipa de Harbin Veterinary Research Institute, na China, revela que os felinos e os furões podem ser suscetíveis ao SARS-CoV-2, no entanto, este estudo ainda não foi publicado.

Nesse mesmo estudo, vários animais foram inoculados propositadamente com o vírus e após serem testados, alguns destes produziram anticorpos, o que significaria que desenvolviam a doença.

No entanto, este é o único estudo experimental realizado até à data, e é necessário que haja muita cautela na sua interpretação. As condições de infeção, a carga viral e a forma de transmissão foram realizadas em laboratório o que dificilmente corresponde às condições de infeção na natureza.

É certo que são necessários mais estudos com mais certezas, mas também podemos considerar como certo que os animais domésticos não transmitem a doença para os humanos.

Fontes

  1. ABCD – SARS – Coronavirus – 2 and cats. Disponível em: http://www.abcdcatsvets.org/sars-coronavirus-2-and-cats/
  2. Addie, Diane D. (2017). What is Feline Infectious Peritonitis (FIP) – Cat virus . Disponível em: http://www.catvirus.com/WhatIsFIP.htm
  3. European Advisory Bord On Cat Diseases (ABCD) – Feline Infectious Peritonitis. Disponível em: http://www.abcdcatsvets.org/feline-infectious-peritonitis/
  4. Centers for Disease Control and Prevention – Emerging Infectious Diseases – Canine Coronavirus Highly Pathogenic for Dogs – Volume 12. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/topics/veterinary-science-and-veterinary-medicine/canine-coronavirus
  5. OIE – Questions and answers on 2019 novel coronavirus. Disponível em: https://www.oie.int/en/scientific-expertise/specific-information-and-recommendations/questions-and-answers-on-2019novel-coronavirus/
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