Drª Patricia Azevedo | Médica Veterinária
Drª Patricia Azevedo | Médica Veterinária
16 Abr, 2020 - 11:07

Medidas restritivas nas clínicas: se o meu animal adoecer o que devo fazer?

Drª Patricia Azevedo | Médica Veterinária

Neste contexto de emergência de saúde pública, se o seu animal adoecer por qualquer razão sabe o que pode e deve fazer?

Tutora a segurar patinhas de animal doente

A pandemia atual de COVID-19 impôs algumas restrições quanto ao normal funcionamento da maioria dos estabelecimentos. Assim, uma das grandes preocupações dos tutores de animais é se, caso estes adoeçam, poderão recorrer igualmente ao apoio do veterinário.

As clínicas veterinárias estão abertas durante este período?

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Neste momento, Portugal encontra-se em Estado de Emergência, o que, neste contexto, significa que o Governo tomou medidas restritivas para evitar a propagação do contágio e, assim, assegurar a proteção da saúde pública.

De entre as medidas tomadas, uma das que mais preocupa a população foi a obrigatoriedade de fecho ao público de vários estabelecimentos comerciais. No entanto, estão previstas algumas exceções, que permitem o funcionamento de alguns estabelecimentos que asseguram necessidades básicas, onde estão incluídas as clínicas veterinárias.

Apesar da situação que o mundo atravessa, os animais, tal como as pessoas, continuam a poder adoecer, e portanto, têm de estar assegurados os cuidados básicos de saúde.

Todavia, nem todas as clínicas se encontram em funcionamento, e as que estão funcionam sob um plano de contingência que visa minimizar o contacto entre pessoas e reduzir assim as hipóteses de contágio.

As clínicas onde sejam detetados casos de COVID-19 serão obrigadas a fechar durante o período decretado pelo delegado de saúde, e, também pode acontecer que algumas clínicas, por decisão da administração, optem mesmo por fechar ou trabalhar em horários mais reduzidos.

Assim, é aconselhável, mesmo sabendo que as clínicas veterinárias podem estar abertas, ligar para a clínica antes de se deslocar até lá.

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Medidas de contigência adotadas pelas clínicas veterinárias

No sentido de reduzir a propagação do contágio, e ao abrigo da legislação, as clínicas veterinárias estão a trabalhar sob medidas estabelecidas pelo seu plano de contigência, portanto não estranhe se o seu médico veterinário informar que o modo de funcionamento da clínica foi alterado.

As medidas de contigência tomadas pelas clínicas veterinárias diferem consoante a clínica, pois cada administração tem autonomia para definir e criar o seu plano. Porém, algumas das medidas mais comuns são as seguintes.

Visitas interditas

Para quem tem o seu animal de companhia doente internado numa clínica, sabe o quão difícil será ter de o deixar e não o poder ir visitar. No entanto, esta é uma medida que visa diminuir a quantidade de pessoas dentro do mesmo espaço, e assim diminuir as possibilidade de contágio entre pessoas.

Trata-se de uma situação muito triste e que pode causar nos tutores grande revolta, todavia, estamos a atravessar uma fase complicada mundialmente, e as medidas de proteção devem continuar a ser asseguradas.

Veterinário ao domicílio a tratar de gato

Marcação prévia

Muitas clínicas veterinárias já funcionam desta forma, mesmo sem estarem sob o plano de contigência pela COVID-19. No entanto, neste momento, torna-se uma medida muito importante, que passou a ser implementada pela grande maioria das clínicas.

As marcações são agendadas com o intervalo suficiente para que se possa garantir que os tutores não se encontrem entre si e que os colaborados da clínica possam garantir uma higienização e desinfeção adequada ao momento.

Assim, ligue sempre para a clínica veterinária antes de se deslocar, ainda que se trate de uma eventual emergência, para que o pessoal clínico se possa preparar para o receber em segurança.

Domicílios suspensos

É aconselhável que neste momento os serviços ao domicílio sejam suspensos, de forma a proteger os tutores e também o médico veterinário, pois, os primeiros, podem conter partículas infeciosas no interior da sua casa e transmitir ao profissional, criando uma cadeia de transmissão.

Por sua vez, os médicos veterinários, ao lidarem com vários tutores ao longo do dia, e visitando várias casas, podem ser também um veículo de contágio. Portanto, neste momento, as visitas ao domicílio são totalmente desanconselhadas.

Algumas clínicas continuam, no entanto, com serviço de entrega de medicamentos ou alimentos, mas neste caso, todo o processo é realizado de acordo com as normas de segurança, preferencialmente com a entrega no exterior da habitação e com material de proteção individual.

Algumas clínicas disponibilizaram também um serviço especial de transporte de animais que necessitem de acompanhamento ou consulta urgente, caso os seus tutores pertençam a um grupo de risco. Neste caso não existe consulta ao domicilio, mas a clínica veterinária garante o transporte do animal de casa para a clínica para ser avaliado, e depois novamente de volta a casa.

Informe-se com a sua clínica veterinária habitual acerca dos serviços que disponibilizam de momento e quais os seus custos.

Interdição da entrada do tutor

Esta é uma medida que pode ser pouco compreendida pelos tutores, uma vez que é uma prática pouco usual, e a maioria dos tutores gosta e sente-se mais confortável em acompanhar o seu melhor amigo durante toda a consulta.

Neste momento, a grande maioria das clínicas adotou como uma medida de contingência a restrição dos tutores ao interior da clínica, sendo que apenas é permitida a entrado do animal, devendo o tutor aguardar no exterior, ou preferencialmente no seu carro.

Atendimento apenas de consultas urgentes ou inadiáveis

Segundo as recomendações da OMV (Ordem dos Médicos Veterinários), apenas os procedimentos médicos veterinários que não possam ser adiados e que comprometam a saúde e bem-estar do animal, devem ser realizadas de momento.

Cabe ao médico veterinário realizar essa triagem via telefónica, ou recorrendo às novas tecnologias como videochamada ou fotografias/ vídeos que possam indicar os sintomas do animal. Assim, em caso de dúvida, deve contactar o seu médico veterinário para que este indique se existe urgência ou não no atendimento do animal.

Mulher infetada com COVID-19 e animal de companhia

Telemedicina

Está já é uma prática recorrente na medicina humana, no entanto existem mais limitações, uma vez que, para garantir um correto diagnóstico e tratamento, é necessário que o médico veterinário realize um exame físico presencial ao animal.

Ainda assim, perante a atual situação, a OMV permite que sejam realizadas consultas por videochamada em determinadas circunstâncias, como em seguimentos crónicos. Este procedimento nunca deve ser utilizado numa primeira consulta, estando apenas reservada para acompanhamento de pacientes.

Estas são, então, as medidas que a maioria das clínicas veterinárias tomou relativamente à proteção contra a COVID-19. Os tutores podem ficar descansados, pois, caso os animais de companhia fiquem doentes, podem, ainda assim, ser consultados e tratados devidamente. No entanto, é sempre aconselhável, por vários motivos, ligar com o seu médico veterinário habitual, antes de se deslocar à clinica.

Fontes

  1. Decreto n.º 2-A/2020 – Diário da República n.º 57/2020, 1º Suplemento, Série I de 2020-03-20. Disponível em: https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=3f8e87a6-3cf1-4d0c-b5ee-72225a73cd4f
  2. BSAVA – Triage Tool Portuguese. Disponível em: https://wsava.org/wp-content/uploads/2020/04/BSAVA-Triage-Tool-Portuguese.pdf
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