São cada vez mais comuns os relatos de queda de cabelo em indivíduos que estiveram infetados com o novo coronavírus. Porém, será que a COVID-19 pode causar queda de cabelo?
Até ao momento, sabe-se que o Sars-Cov-2 é capaz de causar febre, congestionamento nasal, fadiga, tosse, dores de cabeça e/ou musculares, entre outros sintomas possíveis. Além disso, a pesquisa já concluiu que a infeção pelo novo coronavírus é capaz de provocar sequelas no aparelho cardiovascular, renal e/ou neurológico. Contudo, será que já se sabe se realmente a COVID-19 pode causar queda de cabelo? Fique a perceber.
Covid-19 pode causar queda de cabelo? será este um sintoma ou uma consequência?

De acordo com aquilo que tem sido relatado, a queda de cabelo não parece ser um sintoma de infeção pelo novo coronavírus, mas antes um efeito secundário e colateral da doença. Contudo, esta consequência da COVID-19 pode surgir durante o período de infeção, bem como já durante a fase de recuperação.
Assim, a queda de cabelo parece ser mais um dano possível da COVID-19, seja pelas alterações metabólicas provocadas pela doença, seja pelos sentimentos de stress causados por ela. Contudo, é importante ser cauteloso a avaliar esta manifestação, já que nos estamos a aproximar de uma estação – o outono -, em que é normal perdermos cabelo.
Sintomas da COVID-19
A este propósito, vale a pena recordar alguns dos sintomas associados, até ao momento, à infeção pelo novo coronavírus. No site do Serviço Nacional de Saúde, é possível ler-se que os sintomas mais frequentes associados à infeção pela COVID-19 são 1:
- Febre (temperatura ≥ 38.0ºC)
- Tosse e dificuldade respiratória (ex: falta de ar)
- Corrimento nasal
- Diarreia
- Dores de garganta e/ou de cabeça e/ou musculares e cansaço
- Nos casos mais graves, pode desenvolver-se uma pneumonia com insuficiência respiratória aguda
Há ainda sintomas mais raros que também têm vindo a ser relacionados com a COVID-19. De acordo com um artigo publicado pelo New England Journal of Medicine, médicos franceses descreveram uma associação entre a infeção pelo novo coronavírus e manifestações como:
- Encefalopatia
- Agitação
- Confusão
- Sinais do trato corticoespinal com impacto na resposta motora
Além disso, um estudo realizado na Universidade de Mons, na Bélgica, concluiu que a perda de paladar e de olfato também pode ser outro sintoma da COVID-19 2.
o que dizem os especialistas?

Belgravia Centre
Especialistas do Belgravia Centre, de Londres, identificaram uma relação entre a COVID-19 e a queda de cabelo, frequentemente reportada por pacientes que estão ou estiveram infetados pelo novo coronavírus. Ao longo de seis semanas, os investigadores observaram que cerca de 64% dos homens e 38% das mulheres que tinham tido COVID-19 apresentavam queda de cabelo.
O estudo levado a cabo encontrou a explicação para esta evidência no eflúvio telógeno (TE), isto é, num fenómeno aumentado, difuso e temporário de perda de cabelo, o qual está geralmente associado a uma situação de trauma, stress ou choque. As alterações criadas por estas situações são capazes de interferir no relógio biológico dos próprios folículos capilares, provocando a sua queda.
Assim, os efeitos da COVID-19 alteram o metabolismo, podendo afetar o corpo de várias maneiras, nomeadamente o eflúvio telógeno. Neste caso, a queda de cabelo tende a manifestar-se, maioritariamente, 8 a 16 semanas após a realização de um teste negativo à infeção pelo novo coronavírus.
Rali Bozhinova, responsável pelo departamento de Tricologia do Belgravia Centre, afirmou: “O pico de diagnósticos de novos casos de queda de cabelo após recuperação da COVID-19 vem mostrar o impacto do stress que o vírus causa no organismo, causando não apenas eflúvio telógeno temporário, mas também outras doenças capilares associadas que podem ter efeitos a longo prazo se não forem tratadas” 2.
Universidade do Indiana, Estados Unidos da América
O eflúvio telogéno, de que já falámos, traduz-se numa perda temporária de cabelo, a qual pode ser provocada por perda de peso, cirurgias, stress, traumas físicos ou psicológicos, febres altas, mudanças nos hábitos alimentares, alterações hormonais, predisposição genética, entre outras motivos possíveis.
A Faculdade de Medicina da Universidade do Indiana, nos Estados Unidos da América, desenvolveu um estudo com mais de 1500 indivíduos recuperados da COVID-19, tendo concluído que a perda de cabelo é um dos 25 efeitos mais registados.
Apesar do eflúvio telogéno não ter consequências a longo prazo, a queda de cabelo pode aumentar em aproximadamente 50% 3.
E será que há relação entre a calvície e o novo coronavírus?

Paralelamente, a investigação também tem procurado saber se existe uma relação entre a calvície e os quadros mais graves de COVID-19.
Em Espanha, está a ser conduzido um estudo que pretende aferir se os indivíduos com alopecia androgenética (calvície comum) têm ou não maior probabilidade de desenvolverem infeções mais graves, causadas pelo Sars-Cov-2, necessitando, por exemplo, de internamento hospitalar.
Se as conclusões forem favoráveis à tese de que as pessoas carecas correm mais riscos de desenvolverem quadros mais severos de COVID-19, então pode ser equacionada a realização de terapia antiandrogénica aos indivíduos que se enquadrem neste hipotético grupo de risco 4.
- Serviço Nacional de Saúde. Covid-19. Disponível em: https://www.sns24.gov.pt/tema/doencas-infecciosas/covid-19/#sec-4
- Olfactory and Gustatory Dysfunctions as a Clinical Presentation of Mild to Moderate forms of the Coronavirus Disease (COVID-19): A Multicenter European Study. Disponível em: https://www.entnet.org/sites/default/files/uploads/lechien_et_al._-_covid19_-_eur_arch_otorhinolaryngol_.pdf
- Laura Blott. Can COVID-19- Cause Hair Loss? Disponível em: https://www.belgraviacentre.com/blog/can-covid-19-cause-hair-loss/
- Indiana University School of Medicine. COVID-19 “Long Hauler” Symptoms Survey Report. Disponível em: https://dig.abclocal.go.com/wls/documents/2020/072720-wls-covid-symptom-study-doc.pdf
- Andy Goren MD et al. A preliminary observation: Male pattern hair loss among hospitalized COVID‐19 patients in Spain – A potential clue to the role of androgens in COVID‐19 severity. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jocd.13443