A infância é um período repleto de importantes descobertas e aprendizagens que contribuem para o desenvolvimento global das crianças. Definir regras com as crianças é crucial para que estas aprendam a aprender (conhecendo o mundo envolvente), aprendam a fazer (colocando em prática o conhecimento), aprendam a viver em comunidade e aprendam a ser.
Definir regras com as crianças é importante? SIM!

Apesar da espontaneidade inerente à infância e à saudável descoberta do mundo, é importante que as crianças tomem consciência de que a vida em sociedade se rege por padrões comportamentais regulares e desejáveis.
A disciplina, ou seja, a definição de regras com as crianças, permite que as crianças aprendam a conhecer e a conviver com regras e limites.
Quando ouvimos falar em disciplina, muitos de nós associa este conceito à sua conceção mais tradicional e arcaica, que se resumia à obediência a regras e à submissão da criança às exigências dos adultos. No entanto, o conceito de disciplina é muito mais abrangente. Disciplinar implica ensinar as crianças a:
- Diferenciar o correto do errado
- Conviver com as frustrações
- Saber o quão importante é corrigir o que fazem de errado
Em suma, definir regras com as crianças ajuda a que estas se responsabilizem pelos seus atos e aprendam a corrigir os seus erros e tem um grande impacto na pessoa em que cada criança se vai transformar na vida da adulta e na perceção que vai desenvolver acerca da ordem e da autoridade. Mais ainda, definir regras com ascrianças parece ainda ter outras vantagens, nomeadamente:
- Maior tolerância à frustração.
- Maior capacidade de autocontrolo e autodisciplina.
- Maior capacidade de reconhecimento dos seus próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros.
- Maior sentido de justiça.
- Adoção de comportamentos altruístas.
- Desenvolvimento de comportamentos aceitáveis.
- Leva a que as crianças se tornem adultos emocionalmente mais maduros.
- Potencia o respeito pelo próximo e facilita a socialização (1)
Como definir regras com as crianças? Estas 10 dicas podem ajudar

Disciplinar de forma positiva passa por ensinar as crianças ao invés de as forçar a obedecer.
Para tal, é importante que a definição de regras seja consistente, percebida como justa e adequada ao nível de desenvolvimento e temperamento da criança. Mas como colocar este conceito de disciplina em prática da melhor forma? Estas 10 dicas vão ajudar:
- Reforçar o comportamento desejável. A aprovação e o elogio são os motivadores mais poderosos para o bom comportamento (1).
- Estabelecer limites definidos de comportamento;
- Explicar de forma clara (e repetindo as vezes que forem necessárias) as instruções, de forma a garantir que a criança tomou conhecimento dos comportamentos esperados;
- As regras devem ser simples, implementadas de forma progressiva e de uma forma moderadamente flexível.
- Assegurar que a criança não só conhece as regras como também entende o seu porquê.
- Evitar fazer ameaças sem consequências, porque podem reforçar o comportamento indesejado.
- Quando uma regra não é respeitada, o adulto deve assinalar imediatamente o comportamento da criança. Quando se aplica as consequências, estas devem ser breves e aplicadas o mais cedo possível, não entrando em argumentações ou disputas verbais com a criança.
- Não esquecer que as crianças tendem a aprender por imitação , logo, deve ser-lhes oferecida a oportunidade de observar e imitar comportamentos adequados. Se os adultos que rodeiam a criança corrigirem um comportamento e não agirem em conformidade, a criança não seguirá as regras, porque aquilo que vê é muito mais importante do que aquilo que ouve.
- Não confundir consistência com inflexibilidade. As regras devem ser consistentes, mas sempre adequadas ao grau de desenvolvimento da criança e às necessidades manifestadas pela criança a cada momento.
- A criança não deve nunca ser culpada, mas antes responsabilizada pelos seus atos, ou seja, a criança deve entender que a correção é dirigida ao comportamento e não a si enquanto pessoa, logo, a definição de regras e limites deve sempre ser feita com amor e confiança (2).
Conclusão
Importa relembrar que definir regras com as crianças de modo consistente traz inúmeras vantagens, por exemplo, leva a que as crianças aprendam a viver de forma cooperativa com os outros, ensina-as a distinguir o certo do errado e protege-as do perigo.
Esta definição de regras não deve ser adiada na medida em que os estudos têm vindo a mostrar que as crianças compreendem as regras sociais desde cedo e conseguem aplicá-las nos contextos adequados.
Pelo contrário, quando tal não acontece e as crianças são criadas sem o estabelecimento dos limites apropriados é mais provável que venham a ter dificuldades ao nível da adaptação social e menor tolerância face às frustrações e contrariedades.
Mais ainda, quando as regras não são bem definidas, as crianças não sabem o que é certo e o que é errado, o que leva a que se sintam ansiosas e perdidas diante das várias possibilidades de ação (1).
Em suma, dizer “não” a uma criança é um fator decisivo para o seu processo de construção do mundo e para a sua integração na sociedade em que vivemos.
- Psychosocial Paediatrics Committee/Canadian Paediatric Society (2004). Effective
discipline for children. Paediatrics & Child Health 9(1), 37-41. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2719514/ - Vale, V. (2009). Do tecer ao remendar: Os fios da competência socio-emocional. Exedra (2), 129-146. Disponível em: https://dokumen.tips/documents/do-tecer-ao-remendar-os-fios-da-competencia-socio-131-vera-vale-do-tecer.html