Psicóloga Ana Graça
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06 Dez, 2018 - 10:30

Perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto: um problema frequente

Psicóloga Ana Graça

Duas a seis semanas após o parto, 11% das mulheres têm sintomas obsessivo-compulsivos. Saiba mais sobre a perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto.

Perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto: um problema frequente

A maternidade é um dos momentos mais marcantes da vida da mulher e o pós-parto é uma altura particularmente desafiante. As alterações hormonais, as experiências de parto traumáticas, as dores, o cansaço extremo e a privação do sono são fatores que potenciam o aparecimento de alterações emocionais e mal-estar psicológico. A depressão pós-parto é uma das patologias mais conhecidas, mas não é a única que pode afetar as recém-mamãs. Vamos saber mais acerca da perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto.

Os desafios emocionais do pós-parto

perturbacao obsessivo-compulsiva no pos-parto e bebe a chorar

Embora muitas mães vivam o pós-parto de forma serena e segura, admitindo o cansaço e aceitando a ajuda dos que lhe são próximos, nem todas as recém-mamãs têm uma vivência tão positiva desta fase.

Os desafios que são colocados às mães logo após o nascimento do bebé são imensos. Sentimentos de medo, insegurança, desilusão e culpa são frequentemente mencionados pelas recém-mamãs. No pós-parto, também é comum o surgimento de problemas emocionais (por exemplo, depressão pós-parto e perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto), acompanhados de alguns dos seguintes sintomas: choro fácil; labilidade emocional; irritabilidade; apatia; melancolia.

Na presença destes sintomas, as recém-mamãs devem ser ajudadas quer por familiares e amigos, quer por profissionais de saúde qualificados, para que sintam maior bem-estar emocional e maior confiança na sua capacidade de lidar com o bebé.

Compreender a perturbação obsessivo-compulsiva

mulher com obsessao pela sujidade no chao

A perturbação obsessivo-compulsiva caracteriza-se pela presença de pensamentos recorrentes, incontroláveis e desagradáveis ou/e comportamentos repetitivos e ritualizados, que a pessoa dificilmente consegue evitar. As obsessões e as compulsões consomem tempo excessivo e causam mal-estar significativo:

1. Obsessões

  • Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum período da perturbação, são experienciados como intrusivos ou indesejados e que na maioria das pessoas causa ansiedade ou mal-estar significativos;
  • A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens com algum outro pensamento ou ação, ou seja, realizando uma compulsão.

2. Compulsões

  • Comportamentos repetitivos (por exemplo, lavar as mãos) ou atos mentais (por exemplo, repetir palavras silenciosamente) que a pessoa se sente compelida a realizar em resposta a uma obsessão;
  • Estes comportamentos e atos mentais têm como objetivo prevenir ou reduzir a ansiedade e o mal-estar ou prevenir acontecimentos ou situações temidas.

Compreender a perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto

mae triste com bebe

A depressão pós-parto é já uma patologia bastante estudada e conhecida da população em geral, no entanto, não é a única perturbação associada a este período desafiante da vida da mulher. Apesar de ser ainda pouco reconhecida, inclusive pelos profissionais de saúde, a perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto é relativamente comum e geralmente tem um efeito avassalador nas recém-mamãs.

O nascimento de um filho representa uma mudança enorme e imprevisível na vida de uma mulher e de uma família, trazendo grandes desafios e exigências para a rotina diária, sendo muitas vezes percebido como um acontecimento stressante.

As preocupações, os medos intensos, a insegurança e a sensação de grande responsabilidade potenciam sentimentos de ansiedade que muitas vezes deixam de ser normativos e se tornam patológicos, tornando-se difíceis de suportar.

Neste contexto de grande ansiedade, as recém-mamãs podem desenvolver uma perturbação obsessivo-compulsiva, que como já vimos, se caracteriza essencialmente pela presença de pensamentos intrusivos e obsessivos e por manifestações comportamentais (por exemplo, comportamentos repetitivos).

A perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto tem as suas especificidades e caracteriza-se pela presença de uma preocupação exagerada com o bebé e de comportamentos de proteção excessivos, que acontecem de forma ritualizada.

Apesar de ser ainda pouco estudada, não há como negar a forte prevalência da perturbação obsessivo-compulsiva no pós-parto. Um estudo recente analisou cerca de 460 mães, 2 semanas após o parto, e descobriu que 11% dessas recém-mamãs apresentavam sintomas obsessivo-compulsivos. 6 meses após o parto, sendo os sintomas já manifestados por 50% das mulheres. Mais ainda, grande parte destas mulheres demonstrava simultaneamente sintomas obsessivo-compulsivos e sintomas depressivos.

Alguns dos exemplos de obsessões mais comummente apresentados no pós-parto são: poder ferir ou magoar o bebé; o bebé deixar de respirar; imagem do bebé em perigo, não podendo ajudá-lo; o bebé apanhar alguma doença; dúvidas constantes acerca dos cuidados a prestar ao bebé.

Já as compulsões mais comuns passam por: rituais diversos; verificações constantes ao bebé; limpeza excessiva; refazer várias vezes os procedimentos de cuidado do bebé; procura constante e excessiva de informação; evitar estar só com o bebé.

Felizmente este é um problema que pode ser prevenido e tratado, nomeadamente através de sessões de consciencialização acerca dos primeiros sinais desta perturbação e do ensino de técnicas para lidar com as mesmas no período. Se foi mãe há pouco tempo, reconhece a presença destes sintomas e sente que interferem com o seu bem-estar e com o seu dia-a-dia, procure aconselhamento médico.

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