Drª Patricia Azevedo | Médica Veterinária
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27 Jul, 2020 - 08:56

Sabe como interpretar análises clínicas de cães e gatos?

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Gostava de aprender como interpretar análises clínicas de cães e gatos? Partilhamos algumas dicas e noções para o ajudar a perceber se o seu pet está saudável.

Como interpretar análises clínicas de cães e gatos

Como interpretar análises clínicas de cães e gatos não é tarefa para leigos. No entanto, saber os tipos de análises mais comuns, quais as alterações que se podem observar e o que geralmente significam, pode ajudá-lo a entender melhor o que o seu médico veterinário lhe quer transmitir.

É importante ressalvar que qualquer tipo de análise clínica que o seu animal faça deve sempre ser interpretado pelo médico veterinário assistente. Muitas vezes, só observando o animal em conjunto com o resultado das análises é possível que o médico veterinário chegue a um diagnóstico.

Portanto, muito cuidado com a interpretação errada de análises, pois cada caso é um caso e, portanto, esta interpretação requer sempre um profissional habilitado.

Como interpretar análises clínicas de cães e gatos? Que tipos de análises existem?

Veterinário com cão e gato ao colo

Existem vários tipos de análises clínicas de cães e gatos que podem ser classificados por diferentes tipos de fluidos (como sangue, urina, fezes, entre outros). Iremos abordar as mais comuns.

1.

Sangue

Hemograma

O hemograma é um tipo de exame que avalia as células sanguíneas como glóbulos brancos (e os seus diferentes tipos), glóbulos vermelhos e plaquetas.

Podem existir alterações no número dessas células sanguíneas. No caso de uma baixa de glóbulos vermelhos, por exemplo, significa que estamos perante uma anemia, ainda assim, as causas de anemias podem ser várias.

Quando se trata de uma alteração do número de glóbulos brancos é comum observar um aumento em caso de infeções agudas, no entanto, em infeções crónicas ou viroses graves pode também haver um decréscimo no número destas células.

Já as plaquetas, se estiverem baixas, significa que existe um problema na coagulação.

Bioquímicas

As análises bioquímicas são análises que permitem quantificar determinados marcadores bioquímicos que, por sua vez, caracterizam a função de determinado órgão.

Por exemplo, a creatinina, que é um marcador do rim, se estiver aumentada pode significar que existe alguma doença renal que deve posteriormente ser estudada.

Outros exemplos de análises bioquímicas:

  • Albumina: é a proteína mais abundante no sangue, o seu valor pode estar alterado em caso de doença hepática
  • Eletrólitos como o sódio, potássio, cloro: são minerais que se encontram nos tecidos e no sangue e mantêm o equilíbrio hídrico saudável e auxiliam a manter o pH normal no organismo
  • Glicose: é um tipo de açúcar que está presente no organismo a um determinado nível. Estando aumentado pode reflectir stress (especialmente em gatos), doenças endócrinas como diabetes, entre outros
  • Enzimas hepáticas: indicam a função hepática, em caso de aumento sugerem doença hepática.
2.

Serologia

A serologia refere-se à pesquisa de anticorpos específicos de uma determinada doença presentes no sangue do cão ou gato, sendo possível não só identificar a presença desses anticorpos como também quantificá-los.

Os anticorpos são proteínas (imunoglobulinas) que protegem o individuo contra determinados agentes. Existem diferentes tipos de anticorpos (imunoglobulinas): IgA, IgD, IgE, IgG, IgM.

Os anticorpos mais comummente pesquisados são as imunoglobulinas G (IgG) e as imunoglobulinas M (IgM), sendo que, com estes últimos, é possível distinguir uma reação aguda ou crónica.

É necessário cautela quanto à interpretação de resultados de serologia, em especial distinguir IgM e IgG. As IgM estão aumentadas normalmente numa fase aguda de doença, ou seja, quando o animal entrou há pouco tempo em contacto com o agente infecioso e o organismo começou a reagir.

A IgG está aumentada normalmente numa fase crónica da doença, ou seja, quando o animal já se encontra imunizado, protegido, contra determinada doença ou já esteve exposto ao agente infecioso há algum tempo.

Recomenda-se que estes resultados sejam cuidadosamente interpretados por um médico veterinário, pois vários fatores devem ser tidos em conta, tais como sintomas manifestados, estado de vacinação, tempo desde que contactou com o agente infecioso, entre outros.

Veterinária com ampola de sangue para análise
3.

Hormonais

É possível fazer uma medicação de determinadas hormonas presentes na corrente sanguínea através de análises ao sangue, como por exemplo, a quantidade de progesterona, que pode ser indicativo de altura de ovulação.

Várias outras hormonas podem ser medidas através de análises sanguíneas. É importante, porém, interpretar sempre os valores hormonais tendo em conta os valores de referência.

4.

Fármacos

Determinados fármacos podem também ser mensurados através de análises sanguíneas, especialmente quando pretendemos que um determinado fármaco atinja uma concentração específica no sangue do animal.

Consoante o valor encontrado pode ser necessário posteriormente aumentar a dose ou diminuir, consoante o resultado pretendido.

5.

Urina

Existem vários tipos de análises à urina, e este tipo de análises podem fornecer bastante informação, por isso é muito importante saber como interpretar análises clínicas de cães e gatos.

A urina também pode ser recolhida para análise por vários métodos:

  • Micção espontânea: quando o animal urina e o tutor recolhe para um frasco estéril directamente
  • Algaliação: em que o médico veterinário necessita de algaliar o animal e depois recolhe a urina através desse procedimento;
  • Cistocentese: um procedimento também obrigatoriamente realizado pelo médico veterinário que requer uma ecografia para localizar a bexiga e depois esta é puncionada por uma agulha e seringa diretamente.

Urina tipo I

Com este tipo de análise é possível verificar vários parâmetros na urina, como densidade, presença de sangue, glóbulos brancos, glicose, proteínas, entre outros. O resultado do exame é comparado aos valores de referência e devem ser analisados em conjunto com os sintomas manifestados e estado geral do animal.

A presença ou aumento de determinados parâmetros podem sugerir patologias específicas que necessitem de mais exames complementares.

Urina tipo II

Neste tipo de exame a urina é centrifugada e é possível fazer uma avaliação quantitativa das substâncias da urina, sendo também possível a observação ao microscópio de bactérias e outras células presentes na urina.

6.

Fezes

Podem ser realizados vários tipos de análises utilizando este tipo de material biológico, sendo que o mais comum são exames de pesquisa de parasitas, em que são recolhidas fezes para posterior observação ao microscópio, de forma a distinguir o tipo de parasitas e posteriormente medicar o animal caso esteja parasitado.

Veterinária a analisar amostra de fezes ao microscópio
7.

Análises microbiológicas

Como saber interpretar análises clínicas de cães e gatos microbiológicas também é importante, pois estas análises são uma grande ajuda para escolher o melhor tratamento para o animal.

Por norma, quando o animal apresenta alguma infeção por agentes infeciosos como fungos ou bactérias, pode ser requerido pelo médico veterinário este tipo de análises, sendo que o material biológico pode ser variável, dependendo do local afectado, como por exemplo, pelos, urina, sangue, fezes, exsudados.

8.

Análises citológicas

As análises citológicas são realizadas através da observação do material biológico ao microscópio, focando na observação do tipo de células predominante, para um possível diagnóstico.

9.

Análises histopatológicas

Estas análises são também conhecidas como biópsias, em que são enviadas amostras de órgãos ou o órgão na totalidade para posteriormente ser observado ao microscópio. Estes exames são normalmente requisitados quando existem massas ou tecido anormal.

Fontes

  1. Blackwell’s Five-Minute Veterinary Consult: Laboratory Tests and Diagnostic Procedures.
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