Uma intolerância caracteriza-se por uma reação adversa, reprodutível, que ocorre após a exposição a um determinado alergénio, mas que ao contrário da alergia alimentar não envolve o sistema imunológico
A principal diferença entre alergia e intolerância é o envolvimento do sistema imunológico na alergia, ao contrário da intolerância, em que geralmente estão envolvidos défices nos mecanismos enzimáticos.
A alergia é a resposta excessiva do sistema imunológico aos alergénios, partículas estranhas ao organismo mas habitualmente inócuas.
Esta resposta concreta do organismo pode ser devida a alimentos (por exemplo, leite, ovo, peixe) ou alergénios respiratórios, como pós ou ácaros. Trata-se de uma resposta que se desenvolve em minutos ou em poucas horas.
As reacções de intolerância podem manifestar-se clinicamente da mesma forma que as alergias. Contudo, estas reações são desencadeadas por outros mecanismos que não implicam directamente o envolvimento do sistema imunológico. Podem estar envolvidos mecanismos enzimáticos, farmacológicos ou outros, ainda desconhecidos.
A intolerância à lactose é um exemplo desta condição, que se caracteriza pela incapacidade do organismo de digerir a lactose, um açúcar naturalmente presente no leite, devido a deficiência ou mesmo ausência das enzimas (lactases) necessárias à sua digestão.
As manifestações da intolerância à lactose incluem diarreia, flatulência e dor ou desconforto abdominal, quando o doente ingere leite e derivados.
Como se diagnostica a alergia e intolerância?
O diagnóstico inicia-se pela colheita da história clínica detalhada do doente que evidencie a relação entre o contacto com o alergénio e a ocorrência dos sintomas.
Após a identificação dos alergénios suspeitos são efetuados testes cutâneos de alergia e/ou determinações de IgE (imunoglobulinas E) específicas no sangue.
É fundamental que o diagnóstico de alergia alimentar seja estabelecido por Imunoalergologista. A interpretação dos resultados dos testes exige experiência e perícia.
Para o estabelecimento do diagnóstico definitivo de alergia, poderá ser necessária a realização da prova de provocação oral (PPO) que consiste na ingestão de quantidades crescentes do alimento suspeito. Nas intolerâncias alimentares, a PPO é o único método atualmente disponível que permite confirmar o seu diagnóstico. A execução desta prova não é isenta de riscos, devendo ser sempre efetuada por imunoalergologista experiente, em ambiente hospitalar, e sujeita a uma vigilância de pelo menos 2 horas após a sua realização, para as reações imediatas.
Quais são os principais alimentos envolvidos na alergia alimentar
As alergias alimentares mais comuns são ao leite de vaca, ovo, amendoim e frutos de casca rija, como as nozes (conhecidos por “frutos secos”), peixe, marisco, trigo e soja, sendo estes alimentos responsáveis por 90% das reações.
Embora com menos frequência, alguns indivíduos são alérgicos a mais do que um alimento, sofrendo portanto de alergia alimentar múltipla.
Em alguns casos, para além dos alimentos diretamente implicados nas reações alérgicas, ocorrem manifestações perante a exposição a outros alergénios alimentares ou mesmo a alergénios respiratórios. Este fenómeno designa-se reatividade cruzada e surge devido às semelhanças estruturais moleculares entre os alergénios.
Por exemplo, a alergia ao marisco, nomeadamente ao camarão, está associada à alergia a ácaros; a alergia a pólen de gramíneas pode estar associada a sensibilização ao tomate.
Quais são as causas mais comuns da intolerância alimentar
Na origem da intolerância alimentar, poderão estar alguns hidratos de carbono presentes nos alimentos, quando o organismo sofre de uma deficiência ou diminuição da actividade enzimática, que impede a sua metabolização eficaz. Podem ocorrer como:
- Defeitos raros congénitos, tais como deficiências de sacarase, isomaltase ou lactase, observadas nos recém-nascidos
Formas generalizadas secundárias a doenças (como acontece na doença de Crohn e na doença Celíaca), que danificam o epitélio intestinal, provocando uma redução na produção de lactase - Forma geneticamente adquirida (deficiência de lactase), a mais comum, que usualmente aparece após a infância, mas pode aparecer até aos 2 anos de idade. Há redução da produção de lactase com o avançar da idade
O desenvolvimento de intolerância está dependente da quantidade. Quando a quantidade de exposição ao alergénio ultrapassa o conforto da pessoa, esta passa a ter sintomas. Portanto, uma pessoa poderá ser intolerante e não apresentar sintomas.
Em que consiste o tratamento da alergia e intolerância
O tratamento da alergia e intolerância alimentares baseia-se, atualmente, no tratamento dos episódios agudos provocados pela ingestão e na identificação e eliminação dos alimentos, ingredientes, aditivos alimentares ou alergénios respiratórios responsáveis pela ocorrência dos sintomas.
Para o tratamento do episódio agudo, o doente é ensinado a transportar sempre consigo medicamentos como anti-histamínicos, broncodilatadores e corticóides. Se existe risco de anafilaxia – reação alérgica mais grave, que pode resultar em dificuldade respiratória, perda de consciência ou mesmo morte se não for imediatamente tratada – deve ser prescrito dispositivo de adrenalina para auto-administração.