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As mulheres são as mais afectadas pelas infeções urinárias. Alguns fatores estão associados a esta maior predisposição relativamente aos homens. No entanto, adotar alguns comportamentos pode diminuir o risco de sofrer desta doença. Fique a saber se urinar depois das relações sexuais é um deles.
Urinar depois das relações sexuais diminui o risco de infeções urinárias? 7 perguntas e respostas
O que são as infeções urinárias?

A infeção urinária é uma doença muito comum, principalmente no sexo feminino. Cerca de 60 % das mulheres terão pelo menos um episódio ao longo da vida (1, 2).
Existem três tipos de infeção urinária:
- Cistite: infeção da bexiga.
- Pielonefrite: infeção dos rins.
- Uretrite: infeção da uretra.
A cistite, ou inflamação da bexiga, é a forma mais comum de infeção urinária após as relações sexuais. No entanto, em alguns casos, pode existir também inflamação da uretra.
O que está na sua origem?
Em 80% dos casos, a bactéria Escherichia coli (E.coli) é responsável pelos quadros de infeção urinária. Estas bactérias habitam naturalmente na flora intestinal, e são inofensivas. No entanto, quando conseguem migrar e colonizar a região envolvente à vagina, dá-se o primeiro passo para desenvolver cistite. Além da E.coli, outras bactérias do trato intestinal também podem causar cistite: Proteus mirabilis, Enterococcus e Klebsiella pneumoniae.
Em casos mais graves, as bactérias responsáveis pela cistite podem deslocar-se para os rins, causando pielonefrite. Enquanto que a cistite é uma doença relativamente simples e de fácil tratamento, a pielonefrite pode levar à sepsis e consequentemente à morte por infeção generalizada.
Por que razão as mulheres são mais propensas a desenvolver infeções urinárias do que os homens?

O principal fator para as mulheres desenvolverem mais frequentemente infeções urinárias que os homens está na anatomia genito-urinária, mais precisamente na distância entre a saída da uretra e do ânus:
- Homens: distância entre 8 a 12 cm
- Mulheres: distância entre 4 a 5 cm
Ou seja, anatomicamente é muito mais fácil para as bactérias vindas do ânus chegarem até à bexiga da mulher do que do homem, pois a distância a percorrer é muito inferior.
Outros dois fatores contribuem para a mulher ser mais propensa a desenvolver cistite:
- A uretra é mais pequena (cerca de 4 cm) em relação à dos homens (20 cm) o que facilita o acesso rápido da E.coli à bexiga.
- A uretra feminina está localizada logo acima da vagina, que é uma zona húmida e mais favorável a proliferação de bactérias. Já nos homens, a próstata segrega substâncias anti-bacterianas o que auxilia no combate a qualquer bactéria que possa surgir no trato genito-urinário.
Quais são os fatores de risco?
Existem fatores que podem aumentar o risco de cistite em homens e mulheres (1, 2):
- Diabetes Mellitus
- Vida sexual ativa
- Fatores genéticos e história familiar de cistite
- Novo parceiro/a sexual
- Incontinência urinária
- Doenças da próstata
Quais são os sintomas da cistite e como é diagnosticada?

A cistite, embora seja uma doença simples, causa grande desconforto. Os seus sintomas são:
- Disúria (ardor ao urinar)
- Urgência para urinar e dificuldade em reter a urina
- Vontade de urinar mesmo com a bexiga vazia
- Sensação de peso na bexiga
- Hematúria (sangue na urina)
Em casos mais graves, pode também ocorrer febre e dor lombar. No entanto, se estes sintomas se agravarem e surgirem vómitos, perda de apetite e mau estar geral pode estar presente um caso de pielonefrite.
As características da urina também podem estar alteradas, passando a ser mais amarela e com um odor mais forte. Significa que está muito concentrada, pelo que deverá ingerir mais água para diluir esta concentração.
Habitualmente, a cistite é diagnosticada clinicamente e em alguns casos é solicitada uma análise à urina para confirmar a presença de leucócitos (ou glóbulos brancos – presentes em maior quantidade quando o organismo está a combater uma infeção).
A urocultura é o exame mais específico para os casos de infeção urinária, demorando entre 2 a 4 dias para se obter o resultado. É possível saber qual a bactéria que está na origem da infeção urinária, e quais os antibióticos eficazes para a combater (antibiograma).
Qual o tratamento da cistite?

A terapêutica mais utilizada no tratamento da cistite são os antibióticos, que atuam no combate às bactérias. Geralmente, o tratamento pode variar entre 3 a 7 dias. Lembrando que todas as cistites devem ser tratadas para evitar a progressão para pielonefrites e desencadear quadros clínicos mais graves (1, 2).
A prescrição é feita pelo médico e as substâncias mais utilizadas são:
- Sulfametoxazol-Trimetoprima (da família das quinolonas)
- Derivados de penincilina (durante 5 dias)
- Nitrofurantoína (durante 7 dias)
Como prevenir as infeções urinárias?
Alguns comportamentos podem ser adotados para prevenir as infecções urinárias:
- Urinar depois das relações sexuais: promove a limpeza da uretra, fazendo com que as possíveis bactérias sejam expulsas. O uso de preservativo não diminui o risco de infeção urinária, pois a bactéria não vem do parceiro/a.
- Lavar a região do períneo antes das relações sexuais.
- Nas mulheres, deve utilizar o papel higiénico da frente para trás e nunca o contrário.
- Evitar higiene íntima excessiva: a flora natural da vagina contem agentes que impedem a chegada de bactérias vinda do ânus. Quando a higiene é excessiva, esta defesa é removida.
- Beber muita água: quanto mais diluída for a urina, menor a probabilidade das bactérias se alojarem na bexiga e rins.
- Evitar reter a urina por muito tempo: ir à casa de banho várias vezes ao dia ajuda a eliminar possíveis bactérias.
- Usar roupas de algodão.
- Evitar o uso indiscriminado de antibióticos.
- Vacina oral: Nos casos de infeções do trato urinário (ITU) recorrentes, a vacina oral Uro-vaxon pode ser tomada. É elaborada a partir do lisado de estruturas da membrana celular de 18 estirpes diferentes da bactéria E.coli, responsável por 80% a 90% das cistites.Esta vacina confere proteção apenas contra infeções provocadas por esta bactéria.
- Danson, S., et al. (2011). Guidelines for the diagnosis and management of recurrent urinary tract infection in women. Canadian Urological Association. 5(5): 316-22. Disponível em: http://www.cua.org/themes/web/assets/files/guidelines/en/1121.pdf
- Glover, M., et al. (2014). Recurrent urinary tract infections in healthy and nonpregnant women. Urol Sci. 25(1): 1–8. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4973860/