Revisão Vida Ativa
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15 Set, 2020 - 11:27

Hospital de São João faz cirurgia inédita em doente epilético

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Portugal reacendeu a esperança para a epilepsia, tornando-se no primeiro país do mundo a implantar um novo modelo de neuroestimulador num doente epilético.

Médico a analisar resultados de exame ao cérebro

O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) realizou uma cirurgia inédita: implantou, num doente com epilepsia crónica e incapacitante, um novo modelo de neuroestimulador que permite em simultâneo gerar estímulos e efetuar a leitura do sinal cerebral nas zonas profundas do cérebro. O objetivo? Estudar novas abordagens para a terapia por estimulação adaptativa nesta doença neurológica.

Sabe-se que o novo modelo de neuroestimulador foi aprovado para uso humano na Europa em janeiro deste ano e, no final de junho, aplicado no Hospital de São João, sendo a primeira vez a nível mundial que este modelo é usado na monitorização de um doente epilético ao longo de uma semana.

Os dados obtidos durante a monitorização irão agora ser objeto de estudo por parte de uma equipa pluridisciplinar, que inclui médicos dos serviços de Neurofisiologia e de Neurocirurgia do CHUSJ e engenheiros do INESC TEC.

Uma esperança para a epilepsia?

Médico a dar apoio a paciente

A epilepsia afeta mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo e, em Portugal, estima-se que existam cerca de 50 mil pessoas com esta doença, definida com um transtorno neurológico crónico que atinge pessoas de todas as idades e afeta profundamente a sua qualidade de vida 1.

Apesar de a estimulação cerebral ser um procedimento utilizado há alguns anos em casos de doentes com epilepsia refratária, a verdade é que, até aqui, o único feedback do sistema era dado pelo próprio doente, que relatava ter mais ou menos crises. Agora, a nova geração de neuroestimuladores, poderá fazer essa monitorização em vídeo 3D-EEG de longo termo, abrindo novas possibilidades de tratamento.

Ricardo Rego, coordenador da Unidade de Monitorização de Epilepsia do Serviço de Neurologia do São João e do Centro de Referência de Epilepsia Refratária, revelou, numa entrevista dada ao jornal “Observador”, datada do dia 10 de setembro, que este novo modelo de neuroestimulador, a longo prazo, “poderá ter também a vantagem de detetar uma crise, programar, ajustar e personalizar o próprio neuroestimulador, acrescentando impulsos elétricos, de forma a atacar precocemente um desequilíbrio” 2.

O segundo passo, de acordo com o especialista, “poderá passar por encontrar alterações pré-crises, para conseguirmos antecipá-las”, acrescentando ter esperança de que esta nova geração de neuroestimuladores possa vir a ser mais eficaz do que as atuais, “uma vez que a médio prazo seremos capazes de modular os parâmetros elétricos de estimulação de forma bem individualizada” 2.

Também de acordo com uma notícia avançada pelo CHUSJ, os serviços do Hospital de São João preveem implantar mais neuroestimuladores iguais noutros doentes e existe ainda uma forte colaboração nesta área, com o Hospital Universitário de Tampere na Finlândia e com o Hospital Universitário de Munique na Baviera, que permitirá elevar muito o número destes casos para acelerar a descoberta de novas terapias de estimulação adaptativas em epilepsia 3.

Fontes

  1. Organização Mundial da Saúde. “Epilepsy”. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/epilepsy
  2. Martinho, M. (2020, 10 de setembro). “Esperança para a epilepsia. Portugal é o primeiro país do mundo a implantar neuroestimulador que trata e monitoriza o doente”. Jornal Observador. Acedido a 15 de setembro em: https://observador-pt.cdn.ampproject.org/c/s/observador.pt/2020/09/10/esperanca-para-a-epilepsia-portugal-e-o-primeiro-pais-do-mundo-a-implantar-neuroestimulador-que-trata-e-monitoriza-o-doente/amp/
  3. CHUSJ. São João implanta neuroestimulador com monitorização de longo termo em doente epilético. Disponível em: https://portal-chsj.min-saude.pt/frontoffice/pages/16?news_id=946
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