Psicóloga Ana Graça
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10 Jul, 2022 - 18:35

Não consigo amamentar, e agora?

Psicóloga Ana Graça

“Não consigo amamentar, e agora?”. O que fazer quando amamentar com sucesso não é possível? Eis algumas dicas.

Não consigo amamentar

As vantagens do aleitamento materno são numerosas e reconhecidas, existindo consenso de que a sua prática exclusiva é a melhor forma de alimentar os bebés até aos 6 meses de vida. Todavia, nem todas as mães conseguem cumprir o objetivo de dar de mamar, o que pode acarretar sentimentos de tristeza e frustração. Como enfrentar estes sentimentos e como ajudar uma mãe que diz “não consigo amamentar”?

“Não consigo amamentar”

Porque é que nem sempre tudo corre bem?

Mãe deitada ao lado de bebé

A investigação mostra que mais de 90% das mães portuguesas iniciam o aleitamento materno. Todavia, esses mesmos estudos mostram que quase metade das mães desiste durante o primeiro mês de vida do bebé, ou seja, a maior parte das mães não consegue cumprir o objetivo de dar de mamar.

Assim sendo, parecem ser muitas as mães que dizem ter dificuldades significativas ao longo deste processo, pelo que importa conhecer quais as dificuldades que enfrentam, quais as expectativas destas mães em relação à amamentação e quais os fatores que influenciam este processo.

Fatores que influenciam o sucesso da amamentação

São vários os fatores que influenciam a decisão pelo aleitamento materno e pela sua permanência, nomeadamente:

  1. A idade da mãe.
  2. A experiência prévia em amamentar.
  3. Os conhecimentos.
  4. O auxílio dado pelo companheiro e/ou família.
  5. O acesso a modelos com experiência positiva no aleitamento materno.
  6. Fatores relacionados com o bebé (a idade gestacional, o peso à nascença, o tipo de parto e as condições de saúde do recém-nascido).
  7. Qualidade da interação entre mãe e bebé durante a mamada.

Principais dificuldades encontradas na amamentação

É perfeitamente comum surgirem dificuldades no início da amamentação, sobretudo quando uma mãe está a amamentar pela primeira vez. Eis algumas das dificuldades habituais que conduzem, muitas vezes, ao abandono da amamentação:

  • Dificuldades relacionadas com o posicionamento e pega;
  • Problemas específicos, tais como: traumas mamários, mamilos invertidos, dor, desconforto, entre outros;
  • Crenças (como a do “leite fraco”);
  • Falta de confiança ou baixa autoestima (dificuldades em acreditar na capacidade de amamentar).

Amamentar ou não amamentar, eis a questão

Biberão com leite em cima de mesa

Os benefícios da amamentação são sobejamente conhecidos, todavia, este nem sempre é um processo feliz e bem-sucedido. Falamos em amamentação bem-sucedida quando dar de mamar contribui para uma interação positiva entre a mãe e o bebé, bem como quando garante satisfação a ambos.

De acordo com Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco, para que a amamentação tenha sucesso devem conjugar-se 3 fatores:

  1. O desejo e a decisão de amamentar;
  2. O estabelecimento da lactação;
  3. O suporte à amamentação.

A experiência de amamentação é uma das principais preocupações da maior parte das mães, sendo que o ato de dar de mamar é muitas vezes veiculado como um ato “instintivo e natural” e, portanto, com a mensagem implícita de que a boa mãe deve ser capaz de amamentar sem dificuldade.

No entanto, essa não é a realidade de muitas mães, para quem a experiência de amamentação é complexa e marcada pelo sentimento de frustração.

4 dicas que podem ajudar na amamentação

Mãe a segurar mão de bebé
1

Procurar aconselhamento junto de profissionais de saúde capacitados

O aconselhamento deve ser iniciado logo na gravidez, uma vez que muitas mulheres tomam a decisão de amamentar nessa altura, devendo ser mantido após o nascimento do bebé, facultando à mãe um apoio contínuo para que se possam esclarecer dúvidas, desmistificar crenças erróneas, medos, tabus e receios.

É importante que as mães tenham acesso a diálogos francos e honestos, sem que estejam sujeitas a julgamentos. É importante que tenham profissionais de referência a quem possam recorrer para se sentirem mais seguras e capazes, e onde possam recolher informações que facilitem uma decisão bem informada, que tenha em conta não só o melhor para os seus bebés, mas também o melhor para as recém-mães.

2

Procurar apoio junto de amigos e família

A experiência de amamentar pode ser especialmente desafiante. Muitas vezes, as orientações adquiridas durante a gravidez nem sempre estão em harmonia com a prática experienciada pelas mães, o que leva a que a amamentação esteja rodeada de dúvidas e dificuldades, que podem levar a que a mãe se sinta mais vulnerável e insegura. Nestes momentos, o apoio da família e dos amigos é fundamental.

3

Cuidar da saúde mental

É importante que as recém-mães consigam trabalhar a sua capacidade de autoestima, de forma a terem confiança de que o seu próprio leite é capaz de garantir a saúde e o bem-estar do seu bebé.

Para além do reforço da autoconfiança e autoestima, há que ter especial atenção às situações de depressão pós-parto, que afeta aproximadamente 10-15% das mulheres no período de 12 meses após o parto.

A depressão pós-parto tem sido associada de forma negativa à duração do aleitamento materno, na medida em que as mulheres que experimentam a depressão pós-parto têm um maior risco de interromper a amamentação.

4

Deixar a culpa de lado

São muitas as mulheres que pedem ajuda durante a fase de maior dificuldade para amamentar. Muitas estão exaustas, outras sentem que o leite não flui, outras sentem que o bebé rejeita a mama e há ainda quem tenha problemas de saúde que impedem a amamentação.

Seja qual for a motivação, todas estas mulheres sofrem com as expectativas esmagadoras que commumente lhes são colocadas, havendo quase uma exigência para que todas as mulheres amamentem.

Estas expectativas e exigências levam a que grande parte das mulheres que não amamentam vivam com enorme culpa e questionam desnecessariamente o seu valor enquanto mães.

Assim, é importante que estas mães, bem como as pessoas que as rodeiam, reconheçam e aceitem que não podem ou que optaram por não amamentar. Que recebam compreensão e apoio, ao invés de julgamento.

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