Ao longo da vida, a experiência de luto é inevitável. É uma das mais dolorosas e intensas experiências de vida, e requer tempo, até alcançar a paz e a aceitação.
Importa compreender como decorre habitualmente o processo de luto e qual a melhor forma de lidar com a perda de alguém que amamos.
O que é luto?
![Luto: mulher a sofrer pela perda de uma pessoa amada](https://cdn.vidaativa.pt/uploads/2020/05/sofrimento-luto.jpg)
O luto é a resposta natural que ocorre devido à perda de uma pessoa ou de algo importante. É uma parte natural da vida e não uma resposta patológica. Numa situação de luto, perante a perceção de perda, são experienciadas reações psicológicas, sociais e somáticas, naturais e esperadas face à situação.
Assim sendo, são vários os sintomas que de forma comum surgem durante o processo de luto, nomeadamente:
Sintomas físicos
- Hiperatividade ou baixa atividade
- Irrealidade
- Dores somáticas
- Alterações no apetite
- Flutuações de peso
- Cansaço
- Problemas de sono
- Falta de ar
- Aperto na garganta
Sintomas emocionais
- Tristeza
- Raiva
- Alívio
- Medo
- Solidão
- Saudade
- Ansiedade
- Abandono
- Falta de sentido
- Apatia
- Vulnerabilidade
Sintomas sociais
- Dependência dos outros
- Afastamento dos outros
- Evitamento dos outros
- Falta de iniciativa
Sintomas comportamentais
- Comportamentos de procura pela pessoa falecido
- Sentir a presença da pessoa falecida
- Vaguear sem objetivo
- Não falar sobre o que aconteceu para não deixar os outros desconfortáveis
- Precisar de contar a história da morte da pessoa querida
O normal processo de luto pode durar algum tempo e ser acompanhado por sofrimento físico e psicológico, o que torna difícil determinar quando este se torna patológico.
O luto patológico tende a ser mais prolongado (duração exagerada dos sintomas) e mais intenso (maior interferência dos sintomas nas atividades quotidianas ou maior intensidade dos sintomas).
Quais as fases do luto?
![Fases do luto: apoio amigos e familiares](https://cdn.vidaativa.pt/uploads/2020/05/fases-luto.jpg)
Diferentes autores apresentaram diferentes fases do processo de luto. Uma das posições defendidas passa pela existência de 3 fases essenciais.
1. Choque/Negação: processo de evitamento, com características como entorpecimento, incredulidade, procura.
2. Desorganização/Desespero: processo de consciencialização, com características como dor emocional, preocupações e recordações recorrentes, dificuldades de memória a curto prazo, desespero, perda de objetivos, isolamento e sintomas físicos.
3. Reorganização/Recuperação: processo de restabelecimento, reajustamento ao novo mundo e reinvestimento identitário.
O que fazer quando alguém que amamos vai embora?
Quando alguém que amamos parte de forma irremediável, há determinadas tarefas que têm de ser concretizadas para que se restabeleça o equilíbrio e para que o processo de luto fique concluído.
Aceitar a realidade da perda
Quando alguém que amamos morre, mesmo que essa seja uma morte de alguma forma previsível, há sempre um sentimento de que tal não aconteceu. Assim, para superar o sofrimento e ultrapassar o processo de luto, a primeira tarefa passa por aceitar a inevitabilidade da perda, aceitar que a pessoa que amamos não irá voltar.
Muitas pessoas recusam-se a acreditar e a aceitar esta realidade, ficam paralisadas. De facto, aceitar a realidade da perda leva tempo, já que envolve não só uma aceitação intelectual, mas também emocional, esta última mais morosa e dolorosa.
Apesar de levar inevitavelmente tempo e ser uma tarefa difícil de concluir, os rituais tradicionais, como o funeral, parecem ajudar na aceitação da perda.
Trabalhar a dor da perda
Perder alguém que amamos pode provocar diferentes tipos de dor (física; emocional). Evitar ou suprimir essa dor irá, muito provavelmente, prolongar o processo de luto e o sofrimento. Assim sendo, é importante que a dor da perda seja reconhecida, vivida e legitimada.
Ajustar-se ao ambiente onde está a faltar a pessoa que faleceu
O ajuste ao novo ambiente depende muito da relação que se tinha com a pessoa falecida e dos vários papéis que esta desempenhava.
Por exemplo, no caso de um casal, a perda de um dos cônjuges pode significar muitas perdas, dependendo dos papéis que este normalmente desempenhava (por exemplo, um parceiro sexual; um amigo; um bom gestor das finanças familiares; etc.).
Há três áreas de ajustamento a ter em consideração após perder alguém que nos é próximo: ajustamentos externos (funcionamento diário no mundo); ajustamentos internos (sentido de si mesmo); ajustamento de crenças (valores, crenças, considerações sobre o mundo).
Reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar a vida
Esta última e importante tarefa passa por encontrar um local adequado na vida emocional para a pessoa que faleceu, que ao mesmo tempo permita à pessoa enlutada viver bem no presente.
O processo de luto termina quando a pessoa enlutada deixar de sentir a necessidade de reativar a representação da pessoa falecida com uma intensidade exagerada no dia-a-dia. Para muitas pessoas, esta é a tarefa mais difícil de alcançar, contudo, pode ser alcançada e a pessoa enlutada acaba por perceber que pode voltar a amar sem deixar de amar a pessoa que perdeu.
Conclusão
O processo de luto termina quando as quatro tarefas acima descritas estão concluídas. O processo de luto é intenso e doloroso, daí que algumas pessoas optem por contorná-lo ao invés de o vivenciar.
No entanto, de forma a diminuir o sofrimento imposto pela partida de alguém que amamos importa aceitar e expressar a dor sentida.
Por fim, importa ressalvar que durante o processo de luto é fundamental que sejam mantidas rotinas saudáveis (refeições regulares e nutritivas; períodos de descanso adequados; rotinas de sono regulares; atividade física; vigilância médica), bem como a interação social, já que o processo de luto não precisa ser um processo solitário.