Share the post "Sem vontade para sexo? Saiba o que fazer quando há falta de desejo sexual"
A falta de desejo sexual pode afetar-nos de forma significativa e alterar a qualidade das relações de intimidade. O nosso bem-estar sexual está fortemente associado ao nosso bem-estar geral e à satisfação com a vida, pelo que importa conhecer em maior detalhe as perturbações que afetam o desejo sexual feminino e masculino.
fALTA DE DESEJO SEXUAL: Em que consiste a perturbação de desejo sexual hipoativo?

Desejo sexual hipoativo, muitas vezes definido como falta de desejo sexual ou diminuição da libido, consiste na ausência ou diminuição do desejo sexual, pensamentos e /ou fantasias sexuais, ou recetividade para a atividade sexual, que causa mal-estar pessoal (1).
É a disfunção sexual feminina mais frequente, estimando-se que afete cerca de 38,7% das mulheres, a partir dos 18 anos de idade (2), nas quais provoca grande mal-estar, angústia pessoal, diminuição da qualidade de vida, da satisfação física e emocional, e de forma geral, da felicidade (3). Apesar de ser comum no sexo feminino, desengane-se quem pensa que os homens são imunes à falta de desejo sexual.
Na 5ª Edição do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais encontramos duas perturbações especialmente relacionadas com a falta de desejo sexual:
- Perturbação do Interesse/Excitação Sexual Feminino
Ausência ou redução significativa do interesse/excitação sexual, manifestadas por pelo menos 3 dos seguintes sintomas, que causam mal-estar clinicamente significativo:
- Ausência/redução do interesse na atividade sexual
- Ausência/redução de pensamentos sexuais/eróticos ou de fantasias
- Ausência/redução da iniciativa para a atividade sexual e tipicamente não recetiva às tentativas do parceiro para iniciar atividade sexual
- Ausência/redução da excitação/prazer sexual durante a atividade sexual em todos ou quase todos os encontros sexuais
- Ausência/redução do interesse/excitação sexual em resposta a quaisquer estímulos sexuais/eróticos internos ou externos
- Ausência/redução das sensações genitais ou não genitais durante a atividade sexual em todos ou quase todos os encontros sexuais
2. Perturbação do Desejo Sexual Hipoativo Masculino
Pensamentos ou fantasias sexuais/eróticos e desejo de atividade sexual persistentemente ou recorrentemente diminuídos ou ausentes. Esta situação de diminuição ou falta de desejo sexual causa mal-estar clinicamente significativo (4).
Como avaliar e tratar as disfunções sexuais?

Cada uma das várias componentes do sexo (desejo; ativação fisiológica; orgasmo) pode sofrer um desvio. As disfunções sexuais, entre as quais se encontra a falta de desejo sexual, podem ser devidas a causas psicológicas (por exemplo, ansiedade ou depressão), físicas (por exemplo, doenças crónicas ou desequilíbrios hormonais) ou ambas.
A avaliação da função sexual, de forma geral, cobre diversas áreas e implica que sejam colocadas variadas questões. Contudo, as perguntas relacionadas com o sexo habitualmente causam embaraço e desconfiança, no entanto, tal não deve acontecer. É importante que os profissionais de saúde tranquilizem aos seus pacientes, assegurando-lhes que os problemas sexuais são comuns, recorrendo sempre a linguagem adequada à sua idade e cultura.
O tratamento psicológico das disfunções sexuais pode seguir diversas vias e deve ter sempre em conta a avaliação previamente realizada, nomeadamente o descartar da presença de possível causa médica subjacente à disfunção apresentada.
Se por um lado, em algumas situações pode ser suficiente uma simples tranquilização, disponibilização de informação ou consulta de manuais de autoajuda, outras situações requerem a realização de terapia sexual, administrada por profissionais de saúde mental devidamente habilitados.
A terapia sexual utiliza métodos comportamentais e tende a ser eficaz. Alguns dos seus princípios são:
- Tratar o casal em conjunto
- Educar sobre o sexo e os fatores que o afetam
- Encorajar a discussão aberta dos sentimentos e diminuir a ansiedade e o embaraço existentes
- Encorajar o casal a reconstruir, de forma progressiva e gradual, o seu relacionamento sexual, dedicando-lhe todo o tempo e compromisso necessários (5)
A falta de desejo sexual interfere com a sua felicidade? Procure ajuda!
Uma vida sexual saudável está intrinsecamente associada a uma maior sensação de bem-estar geral, maior sensação de relaxamento e melhoria do humor. Quando as disfunções sexuais surgem, nomeadamente a falta de desejo sexual persistente e recorrente, importa procurar ajuda especializada de forma a conhecer a origem do problema (causa orgânica ou psicológica) e encontrar o tratamento mais adequado e eficaz.
É importante que os casais não se acomodem e não desistam de procurar ajuda. Assumir que algo não corre bem na vida sexual não é motivo de vergonha ou embaraço. Pelo contrário, é importante colocar de lado a desinformação, os tabus e os preconceitos de forma a alcançar uma vida sexual mais plena e feliz.
- Basson R, Berman J, Burnett A, Derogatis L, Ferguson D, Fourcroy J, Goldstein I, Graziottin A, Heiman J, Laan E, Leiblum S, Padma-Nathan H, Rosen R, Segraves K, Segraves RT, Shabsigh R, Sipski M, Wagner G, Whipple B (2000) Report of the international consensos development conference on female sexual dysfunction: definitions and classifications. J Urol 163(3):888-893 Disponível em: https://www.academia.edu/3518650/REPORT_OF_THE_INTERNATIONAL_CONSENSUS_DEVELOPMENT_CONFERENCE_ON_FEMALE_SEXUAL_DYSFUNCTION_DEFINITIONS_AND_CLASSIFICATIONS?auto=download
- Shifren JL, Monz BU, Russo PA, Segreti A, Johannes CB (2008) Sexual problems and distress in United States women: prevalence and correlates. Obstet Gynecol 112(5):970-978. Disponível em: https://journals.lww.com/greenjournal/fulltext/2008/11000/sexual_problems_and_distress_in_united_states.3.aspx
- Laumann EO, Paik A, Rosen RC (1999) Sexual dysfunction in the United States: prevalence and predictors. JAMA 281(6):537-544. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/188762
- APA (2014). DSM 5. Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais, 5ª Edição. Lisboa: Climepsi Editores.
- Harrison, P., Geddes, J., Michael, S. (2006). Psiquiatria Guia Prático de Medicina. Lisboa: Climepsi Editores.