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A esclerose múltipla é uma doença que afeta o sistema nervoso central, nomeadamente a mielina, bainha que reveste os neurónios. O sistema nervoso central é constituído pelo cérebro e medula espinhal e é responsável pelo controlo de todas as funções motoras, sensoriais e cognitivas do corpo humano.
O mecanismo da esclerose múltipla assenta num erro do sistema imunitário, que leva a que a mielina seja considerada como um corpo estranho, sendo assim atacada. A destruição da mielina impede a correta comunicação entre o cérebro e o corpo, causando a perda de diversas funções.
É caracterizada por surtos e remissões, constituindo atualmente a maior causa não traumática de incapacidade no jovem adulto (1).
Tipos de esclerose múltipla
A esclerose múltipla pode apresentar-se de várias formas, que evoluem da maneiras distintas (2):
Esclerose múltipla recidivante-remitente
Esta é a forma mais comum de esclerose múltipla, sendo que acontece em 85% dos casos e é mais recorrente nos jovens adultos. Neste caso, ocorrem surtos sucessivos que duram dias a semanas, sem progressão contínua da doença.
Esclerose múltipla secundariamente progressiva
A doença evolui de forma lenta e progressiva, não havendo recuperação total dos sintomas, podendo os défices acumular-se a cada surto.
Esclerose múltipla primariamente progressiva
É uma forma progressiva em que os sintomas agravam desde o início da doença, não havendo períodos sem surtos. Acontece em 15% dos casos e acontece acima dos 40 anos, aumentando a incapacidade gradualmente.
Esclerose múltipla remitente-progressiva
Descrita como surto-remissão, esta forma evolui de forma evidente desde o início, no entanto, podem ocorrer períodos sem surtos.
Fatores de risco da doença
Esta doença não parece ser genuinamente hereditária. A esclerose múltipla surge de um conjunto de factores, ainda por esclarecer. Entre os prováveis fatores de risco, existem:
- Factores genéticos
- Os vírus, nomeadamente o vírus de Epstein Barr da família do herpes que é mais conhecido como a causa da mononucleose infecciosa
- Valores baixos de de vitamina D
- Tabagismo (1)
Sintomas mais comuns da esclerose múltipla
Os sintomas da doença são variáveis, imprevisíveis e dependem muito das áreas afetadas no sistema nervoso central. Muitas das vezes, acabam por influenciar a capacidade para as atividades de vida diárias e a produtividade, independentemente do grau de incapacidade ou do curso da doença.
Problemas mais comuns:
- Problemas de visão: cerca de 20% das pessoas apresenta visão turva, contraste pobre, diminuição da capacidade para ver cores e dor no movimento dos olhos. Muitas vezes, este é o primeiro sintoma
- Dormência: dormência na face, tronco e extremidades são também dos primeiros sintomas deste tipo de doença
- Espasticidade: refere-se à sensação de rigidez e espasmos musculares. Pode ocorrer em qualquer um dos membros, mas é muito mais comum de acontecer nas pernas
- Alterações na marcha: estão relacionadas com diversos factores incluindo fraqueza, espasticidade, perda de equilíbrio, défice sensorial e fadiga. Nos primeiros 15 anos, 50% das pessoas com esclerose múltipla têm dificuldades na marcha
- Fraqueza: resulta da falta de condicionamento dos músculos ou lesões nos nervos que estimulam os músculos, podendo ser controlada na reabilitação
- Fadiga: ocorre em cerca de 80 a 90% das pessoas com esclerose múltipla. Pode ser o sintoma mais importante visto que provoca limitações nas atividades do dia-a-dia
- Tonturas: pessoas com esta patologia podem sentir falta de equilíbrio ou tonturas
- Disfunção da bexiga: ocorre pelo menos em 80% das pessoas com a doença
- Depressão: estudos têm sugerido que a depressão clínica – a forma mais grave de depressão – está entre os sintomas mais comuns da esclerose múltipla
Outras alterações fisiológicas:
- Problemas sexuais: as respostas sexuais podem ser afetadas por lesões no sistema nervoso central, bem como por sintomas como a fadiga e espasticidade
- Problemas intestinais: a obstipação é uma preocupação especial entre as pessoas com esclerose múltipla, assim como a perda de controlo do intestino
- Dor: síndromes de dor são comuns nesta patologia. Um estudo indicou que 55% das pessoas com a doença tinha “dor clinicamente significativa” num dado momento e quase metade tinha dor crónica
- Alterações cognitivas: afetam cerca de 50% das pessoas com esclerose múltipla, incluindo a capacidade de aprender e de se lembrar de informações, organizar e resolver problemas, bem como focar a atenção
- Alterações emocionais: crises de depressão, alterações do humor, irritabilidade e episódios de riso incontrolável e choro, colocam desafios significativos para as pessoas com esta doença e para as suas famílias
Os défices menos comuns na Esclerose Múltipla:
- Problemas na fala: a disartria (dificuldade em articular) e a disfonia (perda de volume) ocorrem em cerca de 25 a 0% das pessoas com esclerose múltipla, particularmente numa fase tardia da doença e durante períodos de fadiga extrema
- Alterações de deglutição: conhecidos como disfagia, os problemas de deglutição resultam das lesões dos nervos que controlam os pequenos músculos da boca e garganta
- Tremor: pode ocorrer em várias partes do corpo devido às áreas danificadas ao longo das complexas vias nervosas que são responsáveis pela coordenação dos movimentos
- Convulsões: são o resultado de um fenómeno electro-fisiológico anormal e temporário que ocorre no cérebro (descarga bio-energética) e que resulta em contrações involuntárias dos músculos. Outras reações como o desvio dos olhos e tremores ou mesmo alterações do estado mental podem acontecer
- Problemas respiratórios: ocorrem em pessoas cujos músculos do peito estejam enfraquecidos por lesões nos nervos que os controlam
- Prurido: é uma das sensações “anormais” que podem ser induzidas pela doença e que é descrita como “picadas de alfinete ou agulhas”, sensação de queimadura e/ou de facadas
- Perda de audição: cerca de 6% das pessoas que apresentam esclerose múltipla, queixam-se de défices auditivos.
Diagnóstico da esclerose múltipla
O diagnóstico da doença não é imediato visto que muitos sintomas podem ser confundidos com outras patologias. Assim, para um diagnóstico completo, é necessário a observação dos dados e sintomas clínicos por uma equipa médica e a realização de alguns exames, nomeadamente:
- Ressonância Nuclear Magnética (RNM): permite a observação das áreas lesadas na bainha de mielina dos doentes, mesmo que sem sintomas visíveis
- Punção lombar: é utilizada uma agulha para a remoção de amostra do líquido cefalorraquidiano que apresenta modificações específicas, indicando a presença de inflamação
- Potenciais evocados: conjunto de exames neurofisiológicos que avaliam a função do Sistema Nervoso Central e Periférico, através da medição da atividade elétrica do cérebro em resposta a estímulos visuais, táteis e sonoros (3)
Tratamento para a Esclerose Múltipla
Ainda não existe cura para a esclerose múltipla no entanto, os fármacos utilizados hoje em dia são cada vez mais eficazes na contenção da doença, evitando e espaçando os episódios de surto-remissão. Por esta razão, são chamados de modificadores da doença, pois podem alterar o curso de evolução da mesma. O tratamento habitual inclui:
- Corticosteroides, utilizados quando ocorre um surto da doença, com o intuito de controlar a inflamação aguda
- Imunomoduladores, modulando o sistema imunitário e imunossupressores, bloqueando a resposta imunitária. São utilizados para diminuir o risco de ocorrência de surtos e desacelerar a progressão da incapacidade
- Terapêutica sintomática utilizada com o objetivo de aliviar as manifestações da esclerose múltipla
Nem todos os fármacos se destinam à mesma fase de progressão da esclerose múltipla e a sua eficácia difere sempre de pessoa para pessoa (2).
- Multiple Sclerosis Society. Disponível em https://www.mssociety.org.uk/
- Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla. Disponível em http://spem.pt/
- Associação Nacional de Esclerose Múltipla. Disponível em http://www.anem.org.pt/