Danielle Paiva
Danielle Paiva
02 Jan, 2020 - 15:51

Embolia cerebral: o princípio do AVC

Danielle Paiva

A embolia cerebral ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) acontece quando o fornecimento de sangue para uma parte do cérebro é impedido. Conheça os fatores de risco.

Embolia cerebral: o princípio do AVC

A embolia cerebral, também chamada de Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. Há dois tipos de embolia cerebral (1), o AVC isquémico (enfarte), que acontece quando uma artéria entope, impedindo o oxigénio e alimento de chegar a uma zona do cérebro; e o AVC hemorrágico (hemorragia), que acontece quando uma artéria rompe, causando um hematoma no cérebro.

Embolia cerebral: como se manifesta?

 Depende do local do cérebro afetado, o doente pode ficar subitamente com (2):

  • Fraqueza ou paralisia do braço, perna ou face, de um lado do corpo
  • Desvio da face (“boca ao lado”)
  • Fala dificultada ou não entender as palavras que ouve
  • Diminuição do equilíbrio e instabilidade
  • Perda de visão, visão dupla, visão turva
  • Dor de cabeça intensa e súbita, incomum

Às vezes os sintomas de um AVC são difíceis de reconhecer. Infelizmente, a falta de conhecimento pode levar a uma tragédia que poderia ser evitada ou reduzida. Três perguntas simples podem ajudar na identificação de um AVC (3 F’s):

  • Fala: pedir à pessoa que diga uma frase. Foi capaz de dizer a frase e com as palavras claramente pronunciadas?
  • Face: pedir para sorrir. Fica com a boca simétrica ou de um lado não mexe tão bem, ficando com a boca torta?
  • Força nos membros: pedir que levante os braços. Foi capaz de levantar os dois e mantê-los esticados para a frente de forma igual, ou um tem tendência a cair?

Factores que aumentam o risco de embolia cerebral

1. Hipertensão arterial

Tensão arterial

A tensão arterial alta não se sente, razão pela qual deve medir a tensão arterial (deve ser menor que 140/90). Se for hipertenso, cumpra a medicação passada pelo seu médico – não reduza nem pare de a tomar se a tensão arterial ficar normal com a medicação. Consulte regularmente o seu médico, coma pouco sal, normalize o peso e faça exercício.

2. Fibrilação auricular (arritmia) e outras doenças do coração

Fibrilação auricular é a arritmia mais comum, e a sua frequência aumenta com a idade. Desenvolve-se geralmente em doentes que sofrem de outras doenças cardíacas (como insuficiência cardíaca, doença da válvula do coração ou aterosclerose coronária).

Esta arritmia diminui a contração eficaz das aurículas do coração. Sangue que flui de forma anormalmente lenta tende a coagular e a causar trombos de sangue que podem ser depois conduzidos ao cérebro, entupindo artérias e causando uma embolia cerebral.

3. Tabagismo

Embolia cerebral: o princípio do AVC

Cinco anos após deixar de fumar, o risco de embolia cerebral é igual ao de um não fumador. Fumar é um acelerador para o desenvolvimento da aterosclerose, e para o aumento dos níveis de coagulação no sangue. Também aumenta os danos causados às paredes dos vasos sanguíneos do cérebro.

4. Diabetes

A diabetes desequilibrada pode levar à obstrução de pequenos vasos sanguíneos em várias partes do corpo, tais como os intestinos e rins, bem como ao bloqueio dos vasos sanguíneos do cérebro, resultando numa embolia cerebral.

5. Obesidade

Embolia cerebral: o princípio do AVC

O risco de sofrer uma embolia cerebral é maior em pessoas obesas. A investigação médica descobriu que alguns dos fatores de risco estão interrelacionados: a obesidade leva a altos níveis de gordura no sangue, hipertensão e resistência à insulina (que leva ao desenvolvimento de diabetes tipo 2).

Por outro lado, a perda de apenas 5% a 10% do peso do corpo pode conduzir a uma redução de 30% da gordura abdominal, resultando em melhoria significativa no perfil de risco do indivíduo para sofrer de doenças cardiovasculares (2).

6. Colesterol elevado

É particularmente importante para manter níveis baixos de “mau” colesterol (LDL) e níveis elevados de colesterol “bom” (HDL). É importante assegurar que o nível total de colesterol no sangue não exceda 190 mg/dl. O limite de LDL recomendada é de 100 mg/dl para as pessoas saudáveis

7. Alcoolismo

Embolia cerebral: o princípio do AVC

Beber em excesso é um fator de risco para a embolia cerebral, mas o consumo de vinho – especialmente o vinho tinto – em pequenas quantidades pode proteger contra um Acidente Vascular Cerebral.

8. Sedentarismo

O sedentarismo pode levar a obesidade, que aumenta o risco de sofrer uma embolia cerebral.

Como prevenir a embolia cerebral?

Segundo a Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, é essencial  ter um estilo de vida saudável (1), nomeadamente:

  • Praticar exercício físico regular
  • Ter uma alimentação equilibrada, pobre em sal, açucares e gorduras saturadas
  • Manter o peso adequado
  • Consumir álcool apenas de forma ligeira
  • Não fumar

Além disso, deve procurar o seu médico de família para vigiar e controlar regularmente:

  • Tensão arterial
  • Diabetes
  • Colesterol
  • Ritmo cardíaco, com a realização de electrocardiograma

A embolia cerebral aconteceu, e agora?

Um familiar ou amigo teve uma embolia cerebral de forma súbita (1):

  • Deite-o de lado, certificando-se que respira bem
  • Ligue o 112 e calmamente responda às perguntas que lhe forem colocadas, referindo a hora exata do evento; obtenha os dados possíveis sobre a história médica do doente; a presença de outras doenças, os hábitos (tabágicos, alcoólicos e alimentares) e medicação em curso

A janela de oportunidades para o tratamento dura poucas horas, em muitos casos até 4 ou 5 horas. Portanto, ir a um hospital imediatamente é obrigatório! Após o diagnóstico, e de acordo com a indicação médica, é possível injetar na veia um produto que ajuda a desfazer o trombo que entupiu uma artéria cerebral (trombólise), ou se necessário fazer um cateterismo urgente para desobstruir a artéria (trombectomia mecânica).

Estes tratamentos podem salvar vidas e prevenir deficiências! Se cumpridos, aumentam em 30 a 50% as hipóteses de a pessoa ficar sem sequelas, ou com sequelas insignificantes (1)!

Tratamento da embolia cerebral

A reabilitação é um processo que requer a colaboração do doente, da família e de uma equipa multidisciplinar de profissionais da saúde. Neste processo, os esforços são feitos para recuperar, tanto quanto possível, as funções que sofreram lesões provocadas pela embolia cerebral.

O processo de reabilitação começa no momento em que o paciente é admitido no hospital. No entanto, nas primeiras horas, a intervenção é muito cautelosa, dado que, provavelmente, a situação do doente ainda é instável (1).

Após um período de hospitalização, e quando o doente tiver estabilizado as suas condições de saúde, poderá ser realizada uma avaliação, que se pode traduzir no regresso a casa ou na transferência para uma unidade especializada na reabilitação.

Se a deficiência for ligeira, pode ser considerada a reabilitação a partir do domicílio. Além disso, a capacidade do cônjuge, e/ou familiares ou cuidadores, para executar os tratamentos, bem como o nível de funcionalidade do doente e as condições emocionais e intelectuais devem ser levados em conta.

Se a incapacidade funcional for média ou grave, a abordagem de reabilitação adequada seria o internamento numa unidade especializada, por um período médio de várias semanas, após o qual o doente poderia voltar para casa (1).

Veja também

Fontes

1. Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral. Disponível em http://www.spavc.org/pt/publico
2. Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Disponível em http://www.scielo.mec.pt/pdf/mint/v25n3/v25n3a12.pdf

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