Mónica Carvalho
Mónica Carvalho
19 Fev, 2020 - 11:32

Terapia inédita realizada na Univerdade do Porto visa regenerar lesões da medula

Mónica Carvalho

Método desenvolvido por investigadores do i3S da Universidade do Porto já foi testado com sucesso em modelos celulares e num modelo animal.

lesoes da medula

Uma versão modificada da proteína Profilina-1 (Pfn1) estimula a regeneração de neurónios no sistema nervoso central após uma lesão ou trauma – foi esta a conclusão a que chegou um grupo de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto (i3S) e cujo trabalho foi publicado na revista científica The Journal of Clinical Investigation.

Na prática, esta nova terapia permite atuar em casos de lesões da medula, tendo sido testada em modelos celulares e num modelo animal com resultados promissores. O próximo passo é testar a metodologia em dois estadios diferentes de lesão medular, uma condição que, por ano, afeta mais de 200 mil novos pacientes em todo o mundo.

A equipa de investigadores “demonstra que a Pfn1 – a proteína que regula a dinâmica do esqueleto celular – quando está expressada nos neurónios numa quantidade muito elevada, promove o crescimento do axónio com efeitos robustos e surpreendentes, mais concretamente, duplica o seu crescimento. Nenhuma outra molécula ou medicamento tem este resultado.”

Atualmente, ainda não existem tratamentos eficazes para a recuperação neurológica em caso de lesões de medula, apesar do progresso considerável a nível de procedimentos médicos, cirúrgicos e de reabilitação, daí a urgência em encontrar soluções nesta área.

projeto de investigacao lesoes da medula

Rita Costa, a primeira autora do artigo, defende que esta terapia tem grandes vantagens: “Como se trata de uma proteína que já é naturalmente expressa no nosso organismo, não corremos o risco de uma rejeição. O que vamos fazer é com que os neurónios produzam maior quantidades desta proteína na sua forma ativa. Além disso, o veículo que vamos usar para administrar a proteína modificada também já é usado no tratamento de outras doenças do sistema nervoso (cegueira hereditária e atrofia muscular espinal) e em múltiplos ensaios clínicos para outras patologias.”

A investigadora adianta ainda que esta terapia “é abrangente porque pode ser testada noutros casos em que a integridade neuronal está comprometida, como neuropatias periféricas: danos nos neurónios que inervam os músculos das cordas vocais, disfunção erétil resultante de intervenções cirúrgicas, e neuropatias resultantes de efeito secundário da quimioterapia, etc”.

Trata-se de um trabalho que já foi premiado várias vezes, nomeadamente pelo programa Resolve, pelo Fundo «Morton Cure Paralysis» e ainda com o Prémio Inovação Bluepharma / Universidade de Coimbra 2017.

A utilização desta proteína modificada em lesões e doenças do sistema nervoso está patenteada pelo i3S e faz parte de um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos quatro anos pelo grupo do i3S “Nerve Regeneration”.

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