Psicóloga Ana Graça
Psicóloga Ana Graça
04 Dez, 2022 - 23:02

Tolerância precisa-se: como ser mais tolerante dia após dia?

Psicóloga Ana Graça

A tolerância precisa de ser alimentada a cada dia, até porque as situações de injustiça e discriminação persistem. Como ser tolerante?

Ser tolerante: pessoas unidas pelas diferenças

Não existe uniformidade de pensamentos e ideias. As crenças podem ser diferentes, a aparência física pode ser distinta, as opções políticas e religiosas podem diferir, mas nada disto é motivo para que não haja entre todos tolerância, igualdade e amizade. Deixar os preconceitos e a certeza da superioridade das próprias ideias de lado pode não ser tarefa fácil para alguns, mas importa tentar ser tolerante.

Todos diferentes, mas nem sempre todos iguais

Pessoas a abraçarem-se

Como seres humanos, somos diferentes uns dos outros de diversas e variadas formas, nomeadamente através da idade, do género, do sexo, da orientação sexual, do estatuto socioeconómico, da religião, entre outras.

A diversidade é importante e nela cabem, como vimos, várias dimensões. Todavia, embora seja fácil reconhecer estas diferenças, não podemos entender as experiências dos outros sem reconhecer os diferentes graus de estigma social ou privilégio existentes.

Nos dias de hoje, a discriminação com base nas diferenças mencionadas acima ainda é comum, apesar de muitas vezes ser proibida por lei, ou seja, embora ninguém deva ser estigmatizado ou privilegiado apenas com base nas suas características e identidade, tal continua a acontecer.

A importância de ser tolerante

Ser tolerante é ter a capacidade de reconhecer e respeitar os valores e diferenças das outras pessoas. É aceitar a diversidade e não expressar atitudes negativas em relação àqueles que, de uma forma ou outra, são diferentes de nós. É aceitar conviver em sociedade com os demais, mesmo quando são distintos de nós.

Para alguns autores, o ser humano é por natureza intolerante. Acreditam que as pessoas parecem ter uma inclinação natural para reprimir aquilo com que discordam porque se opõem aos seus padrões de valores, comportamentos e crenças e que a tolerância só surge quando se controlam esses impulsos iniciais.

No entanto, mais do que tolerar a diversidade, importa celebrá-la por aquilo que nos acrescenta a todos. Importa aprender o que cada pessoa traz de novo, as suas habilidades, perspetivas e recursos específicos. É possível aproveitar a diversidade para atingir objetivos comuns importantes, reconhecê-la como um recurso valioso e aceitar que nos enriquece.

Tolerância precisa-se: como ser tolerante?

Jovens de mãos dadas
1.

Educar, desde logo, as crianças e os jovens para a prática da tolerância

  1. Treinar a necessidade de pensar antes de tomar atitudes impulsivas ou irrefletidas.
  2. Estimular a ver as situações de outra perspetiva.
  3. Treinar a empatia (capacidade de se colocar na posição do outro).
  4. Incentivar a ter respeito.
2.

Tomar consciência das próprias limitações

Importa conhecer a própria capacidade e limites de tolerância e aceitação sem julgamento. Após este profundo conhecimento é possível tentar ser mais tolerante.

3.

Treinar e treinar a empatia

A capacidade de empatia (capacidade de perceber a perspetiva e os sentimentos do outro) também se treina e é fundamental para desenvolver uma maior capacidade de tolerância e aceitação. Ser empático parece aumentar a probabilidade de ajudar os outros e mostrar compaixão e é também um ingrediente chave para relacionamentos bem-sucedidos.

4.

Exercitar a capacidade de lidar com aquilo que é diferente

Pode ser feito colocando-se no lugar dos outros e analisando como os outros lidam com determinados fatos de acordo com os seus valores, crenças, razões e motivações.

5.

Ter a humildade de escutar o outro

Podemos sempre aprender uns com os outros, sobretudo com aqueles que são mais diferentes de nós. É importante escutar atentamente e não julgar os outros. Nem sempre temos que concordar, mas podemos aceitar outras formas de pensar.

6.

Refletir sobre os efeitos negativos da intolerância na sociedade

Refletir acerca das várias formas de injustiça, opressão, racismo e discriminação que persistem no dia a dia e pensar de que forma é possível contribuir para uma sociedade mais tolerante.

Em suma, a aceitação é a resposta

Nem todos os conflitos podem ser resolvidos e, felizmente, temos a capacidade de mesmo discordando de alguém, aceitar a sua perspetiva. Mais do que ser tolerante, importa praticar a aceitação.

Até as relações amorosas mais saudáveis e felizes podem ter diferendos ou discordância duradouras entre os parceiros. Nestas situações, frequentemente associadas a diferenças pessoais, relacionadas com as características de personalidade de cada pessoa, o objetivo não passa por resolver estes problemas/diferendos, mas sim estabelecer um diálogo saudável, comunicar aceitação pela posição e características do parceiro, recorrendo ao humor, ao afeto e à diversão.

Dificilmente conseguimos imaginar um mundo marcado por uma cultura única, por um pensamento único, por uma aparência única. As diferenças são essenciais. Ser tolerante para com as diferenças é uma importante virtude, mas a aceitação vai mais além.

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