Criar um filho é um enorme desafio. Exige uma grande responsabilidade e profundas transformações e adaptações na vida dos pais. Muitos estudos têm sido feitos acerca do modo como os pais partilham o afeto com a criança. Neste artigo vamos debruçar-nos um pouco mais acerca da parentalidade com apego.
Compreender o instinto de apego
O instinto de apego que a criança manifesta em relação às figuras de referência é um instinto básico e fundamental no seu desenvolvimento. É o instinto de apego que faz com que as crianças desenvolvam uma relação única, especial e intensa com as pessoas que dela cuidam.
A ausência dessas figuras cuidadoras de referência e a consequente ausência de um vínculo especial e preferencial pode ter uma grande influência no comportamento da criança.
Uma criança pequena não está preparada para se manter longe dos pais nem dos locais que lhe são familiares e onde sente segurança, daí que muitas crianças se mostrem relutantes e desconfortáveis em conviver com estranhos ou em estar ao colo de pessoas que lhe são pouco familiares.
O instinto básico de apego leva a que as crianças procurem sempre reforçar a relação com os seus pais ou com as pessoas que cuidam de si e que seja na presença dessas pessoas que a criança se sente segura. Na ausência destas figuras com quem a criança desenvolve uma relação de apego é ativado uma espécie de sistema de alerta, que provoca angústia e ansiedade na criança, bem como uma série de alterações fisiológicas.
Parentalidade com apego: o que significa?
Frequentemente ouvimos falar em parentalidade com apego, mas nem sempre compreendemos qual o real significado desta expressão.
De forma genérica, a parentalidade com apego consiste numa forma de educar que valoriza e dá prioridade ao vínculo especial que é estabelecido entre pais e filhos, ou seja, consiste essencialmente em formar e cultivar relações fortes entre pais e filhos.
A parentalidade com apego implica que os pais tratem os seus filhos da mesma forma que gostariam que estes viessem a tratar os outros no futuro, com respeito, dedicação e carinho. Ao mesmo tempo que estes valores são reforçados, são também criados fortes laços afetivos que promovem o sentimento de segurança nas crianças.
A parentalidade com apego tem como grande objetivo garantir que as crianças sentem, desde que nascem, que todas as suas principais necessidades e cuidados são satisfeitos, ao mesmo tempo que é aplicada uma forma de disciplina positiva, ensinada de forma firme, respeitosa e encorajadora.
Como vimos, desde o momento do nascimento, os bebés manifestam as suas necessidades básicas, que devem ser atendidas, nomeadamente a necessidade de alimentação, mas também a necessidade de permanecer fisicamente próximo dos principais cuidadores.
O desenvolvimento emocional, físico e neurológico da criança é ampliado quando estas e outras necessidades básicas são atendidas de forma apropriada e consistente. Assim sendo, de forma resumida, a criança requer proximidade, proteção e previsibilidade. Estas necessidades devem ser atendidas e não devem ser postas em causa.
Será que a parentalidade com apego promove a independência?
Ao analisarmos a questão do apego podemos questionar se uma criança assim educada será excessivamente apegada aos pais e excessivamente mimada. Será mesmo assim ou será que a parentalidade com apego pode dar origem a crianças independentes e autónomas? Vamos descobrir!
O recém-nascido não quer estar longe da mãe e anseia que todas as suas necessidades sejam incessantemente atendidas. De acordo com a parentalidade com apego, ao responder a estas necessidades os pais estão a promover a independência futura da criança, na medida em que esta se sentirá mais segura, confiante e disposta a arriscar um pouco mais no futuro.
Ao oferecer segurança, consistência, presença física e laços afetivo seguros, os pais estão a contribuir para que a criança aprenda a viver de acordo com um modelo de relacionamento de sucesso, o que poderá contribuir para uma melhor saúde mental ao longo da vida.
Como criar vínculos emocionais fortes e saudáveis?
De acordo com a organização Attachment Parenting International há oito ingredientes básicos para pôr em prática a parentalidade com apego.
Preparar-se para: gravidez, parto e educação
Os pais devem aproveitar os nove meses de gravidez para se preparem física (praticar atividade física e adotar uma alimentação equilibrada) e psicologicamente (evitar o stress) para a experiência transformadora da parentalidade.
É igualmente importante que os pais se rodeiem de informações fidedignas e de profissionais de saúde especializados. Os pais devem manter entre si um relacionamento saudável e robusto e procurar informação fidedigna acerca da gestação, parto e cuidados ao recém-nascido.
Alimentar com amor e respeito
Ouvimos muitas vezes a célebre expressão: alimentar um filho é um ato de amor. De facto, os momentos de alimentação não se resumem a suprir necessidades nutricionais. Podem igualmente ser uma oportunidade para fortalecer os laços entre pais e filhos.
Os pais devem aprender a identificar e a atender as necessidades manifestadas pelo bebé, de forma a criar um vínculo forte e seguro.
Responder com sensibilidade
Dificilmente um bebé é capaz de se acalmar sozinho. É importante que nos momentos de maior tensão os pais estejam disponíveis para acalmar a criança de forma carinhosa e consistente.
Promover o contacto físico
O contacto físico ajuda o bebé a sentir-se amado, seguro e estimulado. O contacto pele com pele parece ser especialmente eficaz, daí que os momentos de amamentação sejam especialmente importantes para o fortalecimento do vínculo. São várias as formas de estabelecer contacto físico, nomeadamente realizar massagens ou transportar o bebé junto ao corpo.
Garantir o sono seguro, fisicamente e emocionalmente
Os pais devem ajudar o bebé a alcançar um sono calmo, aconchegante e seguro. Para tal, é importante que os pais também cuidem de si mesmos, não se deixando vencer pela frustração e pela privação de sono.
Dificilmente um bebé tem a capacidade de se acalmar sozinho e dormir tranquilamente. Habitualmente, precisa que os pais o ajudem a acalmar-se e a regular os sentimentos e as emoções. A parentalidade com apego encoraja os pais a responder às necessidades manifestadas pelos bebés no período noturno, tal como o fazem durante o dia. Devem, por isso, procurar a melhor alternativa e a melhor rotina, de forma a que estejam capazes de o fazer.
Proporcionar cuidados consistentes e carinhosos
O cuidado diário, carinhoso e divertido contribui para o desenvolvimento de fortes laços afetivos. O amor deve ser dado de forma consistente e permanente desde o nascimento.
Praticar a disciplina positiva
Os pais devem ajudar os filhos a explorar o ambiente em segurança, demonstrando empatia, afastando-os do perigo, ao mesmo tempo que permitem que estes experienciem as consequências naturais das suas ações.
Os pais devem procurar compreender as alterações de comportamento manifestadas pelos filhos, tentando ver o mundo através do ângulo deles. Os problemas devem ser resolvidos em conjunto pela família, que deve fornecer modelos de relacionamento e comportamento positivos.
Encontrar o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida familiar
Encontrar o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida familiar implica procurar satisfazer as necessidades manifestadas por todos os elementos da família e não apenas as do bebé.
Infelizmente, a vida familiar dificilmente se encontra equilibrada, feliz e saudável em todos os momentos. É comum que a chegada de um bebé provoque algum desequilíbrio familiar. É importante que os pais procurem novas formas de equilibrar a vida pessoal e familiar.
É importante que os pais assumam que o bebé é a nova prioridade da família e que a sua chegada altera a rotina familiar. Para sobreviver a esta brusca alteração, os pais devem rodear-se de uma boa rede social de suporte, procurar desfrutar de tempo a dois, cuidar da sua alimentação e forma física e evitar sobrecarregar ainda mais o dia-a-dia.
Como conclusão…
Todos os estilos de parentalidade apresentam vantagens e desvantagens e é importante que cada família encontre aquela que os faz mais felizes.
Assim, apesar de vários estudos apontarem a sua pertinência e sucesso, a parentalidade com apego não deve ser encarada como a única forma de educar crianças felizes, saudáveis e bem-sucedidas.