Mónica Carvalho
Mónica Carvalho
13 Dez, 2019 - 13:43

Descubra a origem dos doces de Natal

Mónica Carvalho

São indispensáveis para um Natal perfeito, mas será que conhece a verdadeira origem dos doces de Natal? Desvendamos tudo aqui!

tronco de natal fatiado

Já alguma vez se questionou sobre a origem dos doces de Natal? Neste artigo vamos contar-lhe sobre a origem dos doces mais tradicionais da época de natalícia.

Bolo-rei, pão de ló, rabanadas, sonhos… Só de pensar já ficamos com água na boca. Mas o contexto hoje é diferente: conhecer a origem dos doces de Natal vai ajudar a perceber por que motivo eles são uma presença assídua na ceia de natal, ajudando a compor o cenário perfeito para um momento feliz em família.

Origem dos doces de Natal

1.

Bolo-rei

bolo rei com frutas cristalizadas

Sabia que o Bolo-Rei já tem perto de dois mil anos de existência? Diz a lenda que a origem deste doce de Natal se relaciona com os três Reis Magos, Gaspar, Belchior e Baltazar.

Este bolo simboliza, assim, os presentes que os Magos levaram ao Menino Jesus aquando do seu nascimento: o ouro, a mirra e o incenso. De acordo com a simbologia, a massa simboliza o ouro, as frutas cristalizadas e secas representam a mirra, e o aroma do bolo assinala o incenso.

Certo é que o bolo, devido às frutas e à forma circular com um buraco no centro, aparenta uma coroa incrustada de pedras preciosas. Mas a história não fica por aqui. Segundo a lenda, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino. Para acabar com a discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no seu interior uma fava, para que aquele que a apanhasse fosse o primeiro a entregar o presente. A história não conta no entanto, qual dos três, Gaspar, Baltazar ou Belchior, foi o feliz contemplado. 

Uma explicação mais científica indica que os romanos usavam as favas para a prática inserida nos banquetes das Saturnais, durante os quais se procedia à eleição do Rei da Festa, também designado Rei da Fava, porque era escolhido usando favas para tirar à sorte. Terá sido a Igreja Católica a relacionar este jogo, característico do mês de dezembro, com a Natividade e, depois, também com a Epifania (os dias entre 25 de dezembro e 6 de janeiro). Esta última data acabou por ser designada pela Igreja como dia de Reis, do qual ainda hoje em Espanha se mantém a tradição para a oferta dos presentes às crianças, em vez do dia 24 ou 25 de dezembro, como é tradição em Portugal.

2.

Tronco de Natal

tronco de natal decorado com frutas de natal

O tronco de Natal nasceu em Paris, no final do século XIX, nos fornos do historiador e confeiteiro Pierre Lacan. O bolo tem a cor da madeira e é coberto de chocolate ou de creme de café. É uma espécie de enrolado recheado com creme de manteiga e a sua forma assemelha-se à da madeira, imitando um verdadeiro tronco de árvore.

Na origem do doce de Natal está a tradição das famílias em reunir-se diante da chaminé, na véspera de Natal: um tronco de lenha era aceso pelo filho mais jovem e pelo mais velho. Depois, era benzido pelo chefe da família com óleo, aguardente ou água benta. As cinzas da madeira eram guardadas para proteger a família do diabo no ano seguinte.

Com o desaparecimento da tradição da cavaca de Natal, o tal tronco que se colocava a arder, o símbolo dessa época passa a ser um bolo, ao qual se apelidou de tronco de Natal.

3.

Pão de ló

Pão de ló

Em Portugal, existem variedades regionais de pão de ló que se tornaram símbolos dessas regiões, como o de Alfeizerão, o de Ovar, o de Margaride e o de Arouca. 

Diz a tradição que a receita de pão de ló pertencia às freiras do Convento de Coz, que ensinaram as técnicas do seu preparo a uma família de Alfeizerão. E se a origem do nome é portuguesa, as suas raízes são espanholas já que a origem do doce de Natal está num biscoito similar ao pão de ló que era preparado nos mosteiros e conventos de Castela, em Espanha e que estava sempre presente nas mesas dos padres mais abastados.

Era indicado para as dietas de convalescentes, como também era enviado como presente e conforto a famílias enlutadas ou oferecido aos condenados à morte junto com um copo de vinho, quando subiam à forca.

Este doce é muito apreciado no Japão: os primeiros portugueses que lá chegaram no século XVI levaram consigo a receita do pão de ló, também chamado pão de Castela, acabando por cair no gosto popular e é hoje um dos doces mais típicos do Japão, o Kasutera.

receitas de pão de ló: páscoa
Veja também Pão de ló: receitas diferentes de um doce intemporal
4.

Aletria

aletria com ovos e raspas de limão

No “Libre de sent soví” de autor anónimo e escrito em catalão no século XIV, há uma referência a “alatria” em duas receitas de origem árabe, sendo uma delas a aletria cozinhada com leite de amêndoas e mel.

Por isso a aletria portuguesa, tem origem na longínqua história da península ibérica, anteriormente designada por Al-Andalus, faz-se um pouco por todo o país, com mais ou menos massa, com ou sem gemas.

Nas Beiras, a aletria é de consistência compacta, para se poder cortar à fatia, já no Minho a sua consistência é mais cremosa.

5.

Sonhos

sonhos de natal num prato branco

Os sonhos são um doce de origem turca, muito populares também na Grécia, Chipre, Bulgária, Macedónia, Sérbia, Albânia, Irão, Egito.

A sua origem prende-se com a criação de um doce em forma de bola que representa o sol nascente, a luz, o amor, a paixão, a vitalidade, o conhecimento, a juventude, o fogo, o poder, a realeza, a força, a perfeição, o nascimento, a morte, a ressurreição, a imortalidade. 

6.

Azevias

azevias em tábua de madeira

As azevias nasceram no mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, e foram batizadas com o nome de Pastéis de Santa Clara, que ainda hoje existem.

As freiras de Santa Clara eram conhecidas por fazerem diversos tipos de pastéis e os que deram origem às azevias eram feitos com massa quebrada, recheada com uma mistura de doce de ovos com amêndoa, frita em azeite bem quente e no fim envolvida com açúcar e canela. Reza a história que eram feitos no maior dos secretismos e só as freiras conheciam a receita original.

Tornaram-se tão famosos que percorreram o país, chegando a outros mosteiros. Como nem sempre a matéria-prima abundava, algures noutro mosteiro no Alentejo recriou-se o recheio com o que mais havia à mão: grão, batata-doce, abobora, chila e amêndoa, nascendo assim um pastel diferente, ao qual foi dado o nome de azevias.

7.

Filhós, coscorões ou malassadas

filhos de natal com açúcar

Antigamente eram as mulheres que as amassavam e preparavam no joelho para serem fritas no azeite e os homens é que as viravam e observavam o tempo em que estavam a fritar. Nesse tempo, há cinco décadas atrás, esta receita típica do Natal português era um luxo, pela dificuldade que representava para algumas famílias terem acesso ao azeite e à farinha.

Gil Vicente escreveu sobre este doce de Natal: “Mando-vos eu sospirar pola padeira d’Aveiro que haveis de chegar à venda e entam ali desalbardar e albardar o vendeiro senam tever que nos venda vinho a seis, cabra a três pão de calo, filhós de manteiga moça fermosa, lençóis de veludo casa juncada, noite longa chuva com pedra, telhado novo a candea morta e a gaita à porta. Apre zambro empeçarás olha tu nam te ponha eu o colos na rabadilha e verás”.

8.

Rabanadas

rabanadas em taça de madeira

As rabanadas foram criadas pela necessidade do reaproveitamento do pão seco e, tal como a grande maioria das tradições natalícias, as rabanadas também são um doce importado.

A origem é incerta, mas o mais provável é que sejam de origem francesa – daí que seja amplamente designada de French Toast. As rabanadas variam de região para região e cada família tem a sua receita.

No entanto, há ingredientes comuns como sumo de laranja ou raspas da casca da fruta, alguns licores e especiarias como canela e noz-moscada que são misturados aos ovos batidos com leite ou creme de leite, açúcar e essência de baunilha.

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