Farmacêutica Rita Teixeira
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21 Mar, 2020 - 09:07

Fact-check: ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus?

Farmacêutica Rita Teixeira

A questão da toma ou não de ibuprofeno tem sido discutida e tem levantando cada vez mais dúvidas. Afinal, a toma de ibuprofeno agrava a infeção provocada pelo novo coronavírus, SARS-CoV-2?

ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus: mulher a tomar comprimido
fact-check falso

Questão em análise

A possível relação entre a toma do ibuprofeno e a exacerbação da infeção pela COVID-19 tem sido uma questão muito colocada desde que o ministro da saúde francês e médico neurologista, Olivier Véran, desaconselhou o uso deste medicamento na sua página de Twitter.
Esta relação está a ser avaliada pela União Europeia, no Comité de avaliação de risco de farmacovigilância, da EMA (Agência Europeia de Medicamentos), mas ainda sem respostas.

Desde que Oliver Véran alertou para o uso de ibuprofeno na infeção pela COVID-19, que muitas notícias relacionadas têm circulado pela internet de forma viral.

Apesar de não haver base científica que comprove esta relação, associa-se o agravamento exponencial da doença em Itália com o facto da maior parte dos doentes se ter auto-medicado com ibuprofeno.

Ora, segundo algumas dessas notícias, tendo em conta o robusto mecanismo de ação do vírus, este quando administrado com ibuprofeno leva a uma aceleração da multiplicação da infeção.

ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus? O que dizem as entidades de saúde

ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus: mulher a tomar ibuprofeno

Direção Geral de Saúde

Segundo a DGS, que entretanto se pronunciou sobre este assunto, não há evidência entre a toma de ibuprofeno e o agravamento da infeção COVID-19 (1).

INFARMED

O INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) adianta também que não existem ainda dados científicos que confirmem a ligação entre esta infeção e este (ou qualquer outro) anti-inflamatório não esteróide.

OMS e EMA

Por outro lado, a OMS e a EMA, apesar de não afirmarem que existe uma correlação entre eles, desaconselham a toma deste anti-inflamatório, dando preferência a outros medicamentos para o tratamento e alívio da sintomatologia (2).

Entretanto, sabendo-se que um dos principais sintomas da COVID-19 é a febre e tendo sido desaconselhada a toma de anti-inflamatórios não esteróides, o paracetamol é a primeira alternativa quando se está na presença da sintomatologia desta infeção (3).

Avaliação Vida Ativa: Falso

Assim, deve recorrer-se ao ibuprofeno quando o paracetamol, por si só, não for suficiente no alívio dos sintomas. Independentemente da escolha, todos os medicamentos devem ser sempre utilizados com base na informação constante do resumo da característica do medicamento e folheto informativo.

Como deve ser feito o tratamento da covid-19?

A forma mais eficaz de tratar esta doença, a COVID-19, é através da vacinação.

No entanto, ainda não foi aprovada nenhuma vacina, sendo necessários mais estudos e ensaios necessários para que esta seja aprovada pela OMS e pela EMA.

Assim, na impossibilidade de tratar a doença definitivamente, através da vacinação, o único recurso disponível é a medicação para alívio dos seus sintomas.

Os sintomas mais comuns e aos quais deve estar atento (numa escala de importância) são (5):

  • Febre (a cima de 37,5ºC)
  • Dificuldade respiratória, como por exemplo falta de ar
  • Tosse
  • Dores musculares
  • Dores de garganta e de cabeça
  • Fraqueza generalizada
  • Corrimento nasal

Assim, o tratamento sintomático deve ser feito, sempre que possível em casa, para atenuar os sintomas principais, com recurso a medicamentos que diminuam as dores e baixem a febre (antipirético e analgésico) – paracetamol ou ibuprofeno, no caso de o paracetamol não ser suficiente. Além do tratamento químico, é indicado que repouse e beba bastante água (3).

Quando os sintomas persistem, pode ser necessário internamento hospitalar com novo esquema de medicação. De forma menos comum, mas não rara, existem casos graves onde é necessária também ventilação mecânica, além de medicação.

Diferença entre Ibuprofeno e Paracetamol

ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus: ibuprofeno e paracetamol

Ibuprofeno

O ibuprofeno, mais corretamente chamado de ácido isobutilpropanoicofenólico, pertence ao grupo dos fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINES’s) e deve ser utilizado em casos específicos de inflamação, dor e febre. Assim é recorrente o seu uso em casos de: dores de cabeça, de dentes, musculares, parto, menstruação, pós cirúrgica, febre ou artrites reumatoide e gotosa (4).

De uma forma mais científica, este fármaco atua nas enzimas cicloxigenase 1 e 2, inibindo-as. Assim, vai ter interferência direta nos processos de dor e inflamação, tendo consequentemente efeitos na capacidade de resposta do sistema imunitário.

Paracetamol

Por sua vez, o paracetamol, ou acetaminofeno, é um fármaco com propriedades analgésicas (atenuam a dor) e antipiréticas. Assim, é maioritariamente utilizado para o tratamento sintomático da febre e de dor leve a moderada.

É um dos analgésicos mais utilizados em todo o mundo e diferencia-se do ibuprofeno pois não tem propriedade anti-inflamatórias nem anti-coagulantes. Apesar disso, continua a ser uma ótima opção para o alívio de sintomas como os da COVID-19.

De qualquer forma, sempre que possível, deve pedir aconselhamento médico para que a sua medicação seja a mais indicada para o seu caso (3).

O que é o novo coronavírus?

ibuprofeno agrava a infeção pelo novo coronavírus: médica com amostra de sangue contaminado

Este vírus, que apareceu pela primeira vez no final de 2019, em Dezembro, numa cidade chinesa, Wuhan, pertence à família Coronaviridae e é comummente conhecido como “o novo Coronavírus”. No entanto, o seu nome correto é SARS-CoV-2: síndrome respiratória aguda grave (SARS) – coronavírus – 2 (sendo que existe um SARS-CoV, descoberto em 2002) (4).

Este agente tem transmissão pessoa a pessoa, o que garantiu que rapidamente chegasse a todo o mundo, mesmo a pessoas que nunca estiveram em Wuhan.

Assim, as pessoas infetadas por este vírus, vêm a desenvolver uma doença nova com o nome COVID-19. Este nome foi atribuído pela OMS, fazendo referência às palavras “corona”, “vírus”, “doença” e ao ano da descoberta – 2019 (5).

Sobre a COVID-19 sabe-se que pode provocar uma infeção respiratória grave como uma pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos e, consequentemente, a morte. 

Fontes

  1. SNS.”COVID-19. Ibuprofeno”. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/noticias/2020/03/16/covid-19-ibuprofeno/
  2. European Medicines Agency. “EMA gives advice on the use of non-steroidal anti-inflammatories for COVID-19”. Disponível em: https://www.ema.europa.eu/en/news/ema-gives-advice-use-non-steroidal-anti-inflammatories-covid-19
  3. INFARMED. “Nota Informativa – Ausência de evidência entre o agravamento da infeção por COVID-19 e o ibuprofeno”. Disponível em: https://www.infarmed.pt/web/infarmed/infarmed/-/journal_content/56/15786/3578892
  4. Serviço Nacional de Saúde do Brasil. “Sobre Coronavírus”. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/coronavirus.html
  5. SNS. “Doenças infeciosas”. Disponível em: https://www.sns24.gov.pt/tema/doencas-infecciosas/covid-19/
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