É um privilégio chegar às idades mais maduras com saúde e boa disposição, mas é comum que se sinta alguma discriminação pelo processo de envelhecer.
Infelizmente, frases como está velho demais para fazer isso ou já não tem idade para usar essa roupa ainda continuam a ser ouvidas. Este tipo de discriminação passou a ser chamada de etarismo e é bastante comum.
O etarismo fashion: em que consiste?
Provavelmente já ouviu alguém a dizer “está a usar isto, com esta idade?”. Infelizmente este tipo de comentários ainda fazem parte do dia-a-dia de muitas pessoas e promovem o etarismo na moda, também.
Se analisarmos bem a situação e acedermos rapidamente a internet, são inúmeros os textos de consultores de moda que ditam as regras para todas as faixas etárias, inclusivamente para os mais velhos. Alguns são comentários bastante cruéis às roupas de personalidades acima dos 40/ 50 anos – onde impera mesmo o preconceito.
Há quem diga que as pessoas acima dessas idades, especialmente as mulheres, não devem utilizar calças justas ou coloridas, minissaias, decotes, t-shirts com temas divertidos ou acessórios modernos. E, se pensarmos bem, nada disto faz sentido.
Não deve existir um código social para aquilo que cada um quer e se sente bem a usar no seu dia-a-dia. O importante é que se sinta bem consigo mesmo, confiante e feliz acima de tudo.
Da mesma forma que os comentários baseados nos estigmas da idade relativos aos penteados e cor de cabelo, também são frequentes. “Não devias deixar ficar o cabelo branco” ou “esse penteado não se adequa à tua idade”, são apenas alguns exemplos do que ainda acontece atualmente.
Em 2020, Carolina Herrera, estilista venezuelana com mais de quatro décadas de trabalho no mercado da moda e nome forte do estilismo internacional, disse: “Apenas mulheres sem classe mantêm cabelos longos após os 40”.
A sua fala ganhou as redes sociais e levantou polémicas sobre as exigências relacionadas com a imagem e o comportamento das mulheres.
O combate ao etarismo no mundo da moda
No mundo da moda, nos últimos anos, começou a surgir um movimento inovador na indústria. Com o tempo, foi possível observar que os desfiles foram deixando de estar cheios de rostos recém-saídos da adolescência.
As linhas de expressão e cabelos brancos passaram a fazer parte das passarelas de altas marcas como Dolce & Gabbana ou Valentino, por exemplo. Até uma modelo, Christy Turlington, que fazia furor na década de 90 voltou, depois de 25 anos sem trabalhar na área – e viu a sua carreira a crescer novamente, tornando-se disputada por grandes players do mercado.
O importante é saber que a sua idade não determina aquilo que deve ou não usar. A sua forma de vestir expressa a sua personalidade e autenticidade.
E da mesma forma que cada um de nós é único, também as nossas escolhas o são. Então se quiser usar o cabelo branco, um decote ou uma t-shirt divertida e cheia de cores, porque não? Não se deixe encaixar nos padrões que a sociedade cria e siga aquilo que o seu coração e mente lhe dizem.
E se costuma ver programas onde existem pessoas a comentar as roupas de celebridades ou algo do género e se isso o incomoda, deixe simplesmente de os ver. Opte por uma série divertida ou uma caminhada ao ar livre!
Combine com os seus amigos e vão passear. Distrairmo-nos das redes sociais e dos medias é, tantas vezes, o melhor que temos a fazer pela nossa saúde e bem-estar.
O que é etarismo?
Etarismo é, como referimos, a discriminação que continua a existir contra as pessoas com base em estereótipos relacionados com a idade. Pode manifestar-se de várias maneiras: desde atitudes de exclusão, infantilização, violência ou até mesmo através de piadas e “brincadeiras” de mau gosto.
É, portanto, um termo útil para denunciar qualquer tipo de discriminação etária e pode envolver estereótipos e preconceitos contra os mais velhos, mas também contra adultos, adolescentes e crianças.
No fundo, trata-se da discriminação contra os mais velhos com base em estereótipos associados à idade. De acordo com um relatório realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada duas pessoas no mundo, já apresentou ações discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos.
Na verdade, a discriminação por idade pode ser explícita ou não. Ou seja, é comum que a pessoa ouça comentários desagradáveis como se fossem “brincadeiras” sobre o envelhecimento. Ou então sentir que não foi chamado para uma entrevista de emprego por causa da idade.
Esse tipo de exclusão da sociedade afeta diretamente a saúde mental, visto que as pessoas mais velhas recebem sinais de não aceitação, falta de respeito, desprezo, humilhações ou agressões até. Tudo pelo simples e normal facto de terem envelhecido.
De que forma coloca a saúde em risco?
De uma forma geral, o etarismo contribui para uma baixa autoestima, isolamento e sentimentos de tristeza e desamparo. Ao sentir que é de alguma forma discriminada, a pessoa pode mesmo começar a desenvolver uma depressão e ansiedade.
Mas para além dos problemas mentais associados, está também a morte precoce – sendo que piora as condições de saúde de uma forma geral. No fundo, a pessoa discriminada sente-se excluída, deixa de se alimentar corretamente, fuma ou bebe em excesso – fatores quês reduzem a qualidade e vida.
Há ainda também alguns estudos que referem que alguns idosos que sofrem de preconceito, estão mais suscetíveis para o aparecimento de doenças crónicas e aumento do risco de demência.