Mónica Carvalho
Mónica Carvalho
16 Mar, 2017 - 12:02

Bebé proveta: quase 40 anos de inseminação artificial

Mónica Carvalho

A medicina dá resposta a muitas questões e ajuda noutras milhares, como acontece à dificuldade em engravidar. Um bebé proveta pode ser a resposta às preces de muitos casais.

Bebé proveta: quase 40 anos de inseminação artificial

Bebé proveta, assim designado para aludir à sua criação laboratorial, é proveniente de uma inseminação artificial ou fertilização in vitro, ou seja, não resulta de uma fecundação em condições naturais proveniente de uma relação sexual entre um homem e uma mulher, mas antes da fecundação gerada em laboratório.

Este método é normalmente utilizado em casos onde existe obstrução das trompas de falópio, ou existe pouca produção de óvulos ou de espermatozóides.

Muitos casais sofrem por terem dificuldade em engravidar, ficando a questão de constituição de família em stand by.

Uma solução para os casos de infertilidade é a reprodução medicamente assistida através da fertilização in vitro, mais conhecida como bebé proveta, que trouxe, assim, nova esperança aos casais inférteis, abrindo uma nova era no tratamento da infertilidade.

Método bebé proveta

método bebé proveta

O procedimento bebé proveta tem eficácia comprovada e é indicado para as mulheres com infertilidade. Mas é importante lembrar que, como qualquer tratamento, não há garantia de 100% de sucesso e há casais que precisam de tentar várias vezes e por um longo período até que a mulher consiga engravidar.

Se pondera a fertilização in vitro, saiba com o que pode contar:

1. Estimulação de ovários

Numa fase inicial, o médico realiza a estimulação dos ovários através de medicação hormonal, que irá permitir que seja produzida uma maior quantidade de óvulos, para assim se prosseguir com a seleção de embriões de qualidade.

2. Remoção de óvulos

Quando os óvulos estão prontos para serem retirados, é dada nova medicação para obter a respectiva maturação e cerca de 36 horas depois, os óvulos são removidos.

A seleção dos mesmos é feita através de uma punção vaginal transvaginal guiada por ecografia.

3. Óvulos em preparação para serem fecundados

Os óvulos são então recolhidos e colocados num meio de cultura que semelhante às tubas uterinas, depois de 2 a 4 horas de ambientação numa estufa especial, os óvulos estão prontos para a fertilização.

4. Fecundação

Os espermatozóides entram em contacto direto com os óvulos provocando a fecundação.

Nesta etapa são analisados os embriões que deverão ser transferidos para o útero, e estes são transferidos por um catéter para a parede uterina, onde o embrião pode desenvolver-se.

5. O resultado pretendido

Depois da implantação dos embriões, eventualmente a mulher pode ser sujeita a um tratamento hormonal, para estimular a secreção de nutrientes para o embrião.

Cerca de 10 a 12 dias depois da transferência, é feito um exame de sangue para confirmar a gravidez.

Ser um bebé proveta…

Louise Brown, a primeira bebé proveta do mundo, actualmente com 38 anos, reconhece que não foi fácil crescer debaixo dos holofotes, mas acredita que valeu a pena e, aos casais que precisam da ciência para engravidar, aconselha: “Nunca desistam”.

Lançou um livro denominado “Louise Brown: A minha vida como o primeiro bebé-proveta do mundo”, onde garante sentir-se uma pessoa “normal”, mas com uma infância extraordinária, a qual atribui à forma inovadora como veio ao mundo.

Louise conta que, quando tinha quatro anos, os pais mostraram-lhe o filme do seu nascimento: “Eles fizeram-no porque em breve eu ia para a escola e receavam que as outras crianças mencionassem o assunto. E também porque sabiam que a comunicação social iria tentar fotografar-me na escola e queriam contar-me a razão deste interesse por mim”.

Os pais de Louise – Leslie e John Brown – tentaram durante nove anos engravidar, sem sucesso. Coube à equipa de Patrick Steptoe e Bob Edwards, este último galardoado com o Prémio Nobel da Medicina, em 2010, proporcionar-lhes um filho através de um método então inovador e o qual tinham desenvolvido na década anterior: a fertilização in vitro.

Assim que nasceu, Louise foi sujeita a todos os tipos de exame, para avaliarem o seu estado de saúde. E tudo estava normal. “Desde então, as pessoas aceitaram que nascer In Vitro não faz qualquer diferença para um ser humano”, afirma Louise.

Uma das dúvidas sobre estas crianças que mais tempo demorou a ser esclarecida foi em relação à sua própria fertilidade e também nesta área a família Brown deu um pioneiro contributo. Isto porque a irmã de Louise, que também nasceu através de uma FIV, foi mãe naturalmente, transformando-se na primeira pessoa nascida por este método a ter um bebé de forma espontânea.

Desde o nascimento de Louise, mais outras cinco milhões de crianças vieram ao mundo com a ajuda da ciência, nomeadamente de técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA). Uma delas é o primeiro bebé proveta português Carlos Saleiro, nascido a 25 de fevereiro de 1986, no Hospital Santa Maria, em Lisboa. “A minha mãe e o meu pai foram uns guerreiros, lutaram para ter um filho e conseguiram”, contou, orgulhoso.

Milhares de crianças já nasceram em Portugal através da FIV, mas há décadas atrás tudo era novidade. A fotografia de Carlos ocupou as primeiras páginas dos jornais, abrindo um capítulo de esperança para os casais inférteis e promovendo também um debate ético que ainda hoje persiste.

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