Catarina Milheiro
Catarina Milheiro
26 Ago, 2024 - 20:00

O uso consciente de antibióticos: 5 cuidados a ter

Catarina Milheiro

A descoberta dos antibióticos foi um dos principais acontecimentos na história da medicina e podemos estar a desperdiçá-los. Entenda.

Os antibióticos devem ser administrados com cuidado e de forma consciente. Caso contrário, o uso desmedido e mal feito dos mesmos pode alterar a resistência das bactérias que causam doenças e tornar o medicamento ineficaz no seu combate.

Para além de dificultar o tratamento, o facto de se poderem tornar ineficazes, pode ainda afetar outras bactérias que auxiliam o nosso organismo a funcionar de forma correta diariamente.

Nos casos em que as bactérias se tornam resistentes ao antibiótico, não há que entrar em pânico. Afinal, trata-se de algo que é normal e esperado em alguns tratamentos médicos – existindo outras soluções.

No entanto, a forma errada como este tipo de medicamentos são utilizados por diversas pessoas pode realmente acelerar o tempo que esses micro-organismos demoram até se tornarem mais resistentes e deixarem de responder ao tratamento em questão.

Por isso mesmo, é crucial compreendermos que os antibióticos não devem ser usados para tudo e em excesso.

Os antibióticos são um património da nossa ciência e, até hoje, não temos medicações que o substituam. É preciso usá-los corretamente para que não percamos a sua eficácia.

Em 1928, o cientista Alexander Fleming descobriu a penicilina através de uma mistura entre pesquisas e necessidade. De facto, Fleming chegou à conclusão que ao observar que nos meios de cultura crescia bolor (Penicillium) e que à volta do mesmo não se desenvolviam bactérias, o bolor produzia algo que impedia o crescimento das bactérias: a penicilina, o primeiro antibiótico.

No ano seguinte, o cientista publicou os estudos que realizou com os resultados obtidos da ação antibacteriana do líquido obtido a partir dos bolores do género Penicillium.

Poucos anos depois, outros especialistas purificaram e sintetizaram a substância com a perspetiva de a poderem vir a utilizar como medicamento antibiótico. 10 anos foi o tempo necessário para que se iniciasse a produção industrial de Penicilina nos Estados Unidos da América.

Em 1942, o antibiótico mostrou ser capaz de salvar a primeira vida. Por isso mesmo, a penicilina veio revolucionar não só a história da medicina, como da humanidade.

O que são os antibióticos e quais as suas indicações?

Os antibióticos são também conhecidos por agentes antimicrobianos. No fundo, tratam-se de substâncias químicas, que podem ser naturais ou sintéticas. Têm a capacidade de travar a reprodução de bactérias ou de as eliminar sem provocar efeitos tóxicos.

A sua toma está indicada quando existe um diagnóstico de uma infeção causada por bactérias, também denominada por infeção bacteriana. Importa referir que o mesmo deve ser realizado sempre por um médico. O que significa que, não devem nunca ser administrados de forma livre e autónoma, sem que exista uma prescrição médica.

Alguns exemplos de situações que necessitam que seja administrado um antibiótico são: infeções sanguíneas causadas por estafilococos, infeções urinárias, infeção bacteriana na garganta, infeção nos ouvidos ou até no caso de uma pneumonia pneumocócica.

Sabia que antes de uma cirurgia também podem ser dados antibióticos para prevenir infeções causadas por bactérias? A verdade é que estamos perante um tipo de medicamento bastante poderoso no nosso organismo.

Mas há situações em que os antibióticos não têm qualquer efeito

Ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, os antibióticos não são eficazes em todas as situações. Daí a importância de serem receitados por um médico, somente após a confirmação do diagnóstico.

De facto, não combatem infeções provocadas por vírus. O que significa que, não são eficazes para tratar gripes, constipações ou infeções víricas na garganta, por exemplo.

Na verdade, perante estas condições de saúde, o antibiótico não vai melhorar o seu estado de saúde em nenhum sentido, uma vez que não serve para melhorar e atenuar esse tipo de sintomas. Nesses casos, é crucial que sejam usados medicamentos antivirais e não antibióticos.

5 cuidados a ter com a sua administração

1.

Seguir a prescrição e tratamento passados pelo médico

Se o seu médico lhe prescreveu um antibiótico para tomar, deve administrá-lo de acordo com as orientações do mesmo. Ou seja, é fundamental cumprir a dose recomendada, os horários estipulados e as formas de administração.

E mesmo que após os primeiros dias já se sinta melhor, é necessário tomar o antibiótico até ao fim para que o mesmo faça efeito. Caso contrário, saiba que a interrupção antecipada pode fazer com que fique com uma infeção mal curada e, no futuro, crie resistência ao medicamento.

2.

Não dar antibióticos a ninguém, nem optar pela automedicação

A automedicação é algo que não devemos fazer com nenhum medicamento, mas especialmente com antibióticos. A prescrição é da exclusiva responsabilidade do médico e só ele poderá definir qual o fármaco mais indicado para si em cada momento.

Por isso mesmo, não partilhe antibióticos com ninguém, nem experimente determinar um tratamento para si com base no seu conhecimento. Em caso de dúvidas, contacte sempre o seu médico.

3.

Não ingerir bebidas alcoólicas ao longo do tratamento

Apesar das várias polémicas e opiniões distintas sobre o uso de antibióticos e a ingestão de álcool, a verdade é que consumir este tipo de bebidas durante a toma de um antibiótico pode ser consequências gravíssimas.

Para além de alterar o efeito e ação do medicamento, este tipo de comportamento pode mesmo levar à produção de substâncias tóxicas para o organismo.

4.

Não misturar antibióticos com outras substâncias

Misturar antibióticos com outro tipo de substâncias, ainda que naturais, pode constituir um perigo para a sua saúde. Por isso, é crucial informar o seu médico de tudo aquilo que está a tomar antes de iniciar a administração de um antibiótico.

Se for alérgico à penicilina ou a outro tipo de antibióticos é extremamente importante informar de igual forma o profissional de saúde.

5.

Estar atento ao prazo de validade

Tal como para qualquer outro tipo de medicamento, também nos antibióticos é essencial ficar atento ao prazo de validade. Depois da data limite, saiba que o medicamento pode perder o efeito terapêutico ou provocar consequências para a sua saúde.

6.

Descartá-los corretamente

O principal motivo pelo qual estamos, cada vez mais, a enfrentar as chamadas super bactérias (bactérias resistentes aos antibióticos) é a exposição a esses medicamentos. Seja porque os tomamos mais vezes do que seria aconselhado, seja porque o s descartamos no meio ambiente.

Quando, por exemplo, descartamos as sobras dos nosso antibióticos pelo ralo ou no lixo comum de casa, bactérias presentes no meio ambiente contactam com o fármaco e realizam mutações, a fim de sobreviver à ameaça.

Mais de mil portugueses morrem todos os anos de causas associadas às bactérias multirresistentes.

Lembre-se: qualquer descarte de medicamento deve ser feito na sua farmácia – especialmente se forem antibióticos. Informe-se e siga à risca as regras.

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