Psicóloga Inês Tavares
Psicóloga Inês Tavares
02 Jun, 2023 - 08:00

Parto normal ou cesariana: o impacto na sexualidade da mulher

Psicóloga Inês Tavares

Parto normal ou cesariana? As preocupações comuns têm a ver com a experiência do parto, quer para a grávida, quer para o casal.

Parto normal ou cesariana e a relação com a sexualidade do casal

Que tipo de parto terei? Parto normal ou cesariana? Quais as consequências, como será a minha recuperação? Será que o tipo de parto influenciará a nossa vida sexual pós-parto?

Uma das preocupações mais frequentes durante a gravidez relaciona-se com a experiência do parto. São muitas as questões que geram alguma preocupação para as grávidas (e casais) durante esta fase.

De facto, as preocupações com o parto são das mais salientes durante a gravidez, e estas questões vão ficando mais intensas sobretudo à medida que se aproxima a data prevista para o parto.

Parto normal ou cesariana: a preocupação (natural) com o parto

Num estudo realizado com mulheres grávidas portuguesas, a preocupação com o parto foi a terceira preocupação mais frequente (sendo a possibilidade de haver algum problema com o bebé e a possibilidade de aborto espontâneo as mais frequentes).

No caso das mulheres que antecipam o seu primeiro parto, estas preocupações provavelmente ocupam um dos principais lugares na lista das suas preocupações, podendo ser bastante intensas.

No caso das mulheres que já têm experiências de parto anteriores, e para as quais esta experiência não é totalmente novidade, a antecipação do parto pode gerar menos preocupação.

O facto de já terem passado pela experiência no passado ajuda a naturalizar alguns medos e ansiedades, ao mesmo tempo que também lhes dá uma sensação de maior previsibilidade sobre todo o processo.

De certa forma, já conseguem antecipar algumas partes daquilo que poderá acontecer. Ainda assim, é possível que continuem a existir algumas preocupações.

Que tipos de parto existem? Quais as diferenças entre eles?

Normalmente ouvimos falar em parto normal e em cesariana. Podemos também ouvir outros nomes como parto natural, parto vaginal, parto eutócico, ou parto distócico… mas será que é tudo a mesma coisa?

O parto eutócico – ou parto normal, natural, ou vaginal – consiste no nascimento do bebé sem a necessidade de intervenção instrumental médica, isto é, apenas pela força gerada pela contração das paredes do útero.

Este tipo de parto inicia-se e conclui-se de forma espontânea, a saída do bebé é vaginal, e não existem motivos que exijam a necessidade de intervenção médica. Num parto normal ou eutócico têm lugar uma sequência de vários fenómenos para os quais o corpo da mulher está preparado: contrações uterinas rítmicas e coordenadas, modificação e dilatação do colo do útero e descida do bebé através do canal de parto.

Contudo, por vezes poderá ser necessário recorrer à episiotomia (corte, de dimensão variável, que serve para facilitar a saída do bebé e impedir lesões graves no períneo).

No caso de ser necessário recorrer a auxílio instrumental – por uma série de razões que podem incluir o cansaço da mãe, excesso de analgesia, ou qualquer outra complicação –, estamos então a falar do parto distócico. Este tipo de parto exige procedimentos ou intervenções cirúrgicas para a sua correta finalização. Este auxílio instrumental pode incluir o uso de fórceps, ventosas, ou mesmo intervenção cirúrgica – cesariana.

O tipo de parto tem influência na sexualidade pós-parto?

Parto normal ou cesariana: casal a relaxar no quarto

Existem algumas vantagens e algumas desvantagens associadas a cada tipo de parto, mas é importante referir que não existe uma regra estanque e que cada mulher e cada parto é diferente.

Por isso, caso tenha tido um parto eutócico ou um parto distócico, a sua situação poderá vir a ser diferente de outra mulher que teve o mesmo tipo de parto, e poderá não se rever nas características descritas abaixo, pelo que não deve sofrer por antecipação.

De forma geral, o parto vaginal tem realmente algumas vantagens em relação à cesariana, especialmente porque:

  • não requer cirurgia e, por isso, não implica uma limitação da autonomia da mãe tão acentuada;
  • mesmo que exija episiotomia (corte), a recuperação geralmente é rápida.

Contudo, também podem existir algumas situações mais desafiantes associadas ao parto vaginal, incluindo:

  • danos nos nervos pélvicos como resultado do trabalho de parto e do parto;
  • algum desconforto ou incontinência urinária, principalmente no período mais imediato após o parto;
  • alguma dificuldade durante as relações sexuais (dor ou menor sensação de excitação genital).

É difícil antecipar o efeito que o tipo de parto terá ao nível sexual na mulher, principalmente porque existem poucos estudos sobre o assunto. Os estudos que existem até ao momento indicam que, especialmente se teve um parto vaginal, poderá sentir alguma dor na penetração, bem como alguma dificuldade em sentir-se excitada sexualmente no período pós-parto.

Por exemplo, poderá sentir que o seu corpo não reage tão facilmente durante a atividade sexual como antes (dificuldade em sentir-se lubrificada ou em sentir prazer na zona genital). Uma das razões que podem explicar estas dificuldades é o facto de terem existido danos nos nervos da zona genital, como resultado do trabalho de parto e do parto em si.

No caso de uma cesariana, estes nervos permanecem intactos, pelo que isto pode salvaguardar a sua sensibilidade na zona genital.

Contudo, há uma grande quantidade de outros fatores que também podem influenciar a sexualidade no pós-parto, como por exemplo as mudanças hormonais associadas à amamentação ou o maior cansaço.

No caso de amamentar, é provável que tenha menor sensibilidade na zona genital e mais dificuldade na lubrificação, o que pode resultar em alguma dor na relação sexual. Por isso, é difícil saber se estas diferentes experiências poderão ocorrer apenas como resultado do tipo de parto, ou se são o resultado de um conjunto de fatores mais alargado durante o período do pós-parto.

Como lidar com dificuldades sexuais no pós-parto?

Aquilo que é considerado como uma vida sexual “normal” ou “saudável” varia de casal para casal e, por isso, o mais importante é perceber se um ou ambos os parceiros se sentem angustiados, preocupados, ou incomodados com algum aspeto.

Algumas formas de lidar com eventuais mudanças sexuais no pós-parto incluem:

  • conversar com o seu parceiro sobre as mudanças que cada um sente e perceber formas de como se ajustarem para que ambos se sintam satisfeitos;
  • falar com o seu médico ou profissional de saúde sobre as suas preocupações – se há casos em que um simples lubrificante pode ajudar com algumas queixas (por exemplo, dificuldade de lubrificação), há outros casos em que a ajuda profissional pode ser importante, por isso não deixe de falar daquilo que o preocupa.

Fontes

  1. Nazaré, Fonseca, & Canavarro (2012). “Avaliação das preocupações sentidas durante a gravidez: Estudos psicométricos da versão portuguesa da Cambridge Worry Scale (CWS)”.
  2. Cappell, Bouchard, Chamberlain, Byers-Heinlein, & Pukall (2018). “The impact of mode of delivery on physiological sexual arousal following childbirth”.
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