Danielle Paiva
Danielle Paiva
27 Jul, 2023 - 12:00

Gases vaginais: principais causas

Danielle Paiva

Gases vaginais ocorrem quando entra ar na vagina durante o ato sexual. São normais, mas podem indicar fragilidade na musculatura local.

Gases vaginais: principais causas

O gases vaginais são gases que saem da vagina durante uma relação sexual. A vagina é um órgão em forma de tubo, dotado de fibras musculares, que fazem com que ela se contraia e relaxe.

A depender da posição do casal, pode haver uma entrada maior de ar, o que faz com que na penetração se ouça um barulho parecido com o de ar comprimido. Isto não depende de idade ou de ter ou não filhos.

As mulheres cuja musculatura do assoalho pélvico está mais enfraquecida, seja pela quantidade de partos normais, pelo número de vezes que esteve grávida ou pela obesidade, apresentam um risco maior de entrada/saída de ar da vagina e, portanto, de sofrerem com gases vaginais (1).

Gases vaginais: 3 principais causas

Assoalho pélvico e os gases vaginais

A funções do assoalho pélvico são exercidas por meio da contração e relaxamento muscular. Quando contraem, os músculos fecham a uretra, vagina e ânus e evitam o escape de urina e fezes e auxiliam durante o ato sexual, quando relaxam, permitem a eliminação da urina, fezes e gases (1).

O assoalho pélvico feminino é constituído pelos tecidos conjuntivo, ósseo e muscular, que atuam em conjunto para promover e manter a função fisiológica normal de reto, vagina, uretra e bexiga .

As disfunções do assoalho pélvico afetam aproximadamente um terço da população feminina adulta ao longo da vida . Destas, as mais frequentes são incontinência urinária (IU) em 16% das mulheres, incontinência fecal (IF) em 9% e o prolapso genital (PG) em 3%. Muitas vezes estas alterações estão associadas, e sua prevalência aumenta com a idade, paridade e obesidade (2).

Relação sexual e os gases vaginais

A entrada do canal vaginal é controla por um agrupamento muscular conhecido como musculatura do assoalho pélvico. Quando esta musculatura ao contrair-se fecha a entrada vaginal; ela é a responsável pela pressão sentida durante a relação sexual.

Quando o canal vaginal está relaxado, as paredes encostam umas nas outras, e o seu interior, oco, fica fechado. Este fechamento garante que, no dia-a-dia, nenhum ar entre ou saia do canal vaginal. Durante a relação sexual, a vagina precisa abrir para acomodar o pénis. Quando isto acontece, a musculatura do assoalho pélvico, localizada na entrada vagina, recobre o pénis. Ao recobrir o pénis, todo o espaço estará preenchido, impedindo que o ar entre ou saia da vagina, mesmo quando esta estiver aberta, durante a relação sexual.

Mas pode acontecer que as paredes vaginais desencostem do pénis, formando uma pequena abertura que permite a entrada de ar, mesmo que por um breve segundo. Este ar vai ficar armazenado, preso dentro da vagina durante a relação.

Sempre que o contacto entre o pénis e as paredes vaginais for desfeito, mais ar vai se acumulando no fundo vaginal. Em dado momento, todo o ar armazenado acaba saindo, de uma só vez e a fazer barulho, exatamente como acontece com um gás anal (2).

Fístula vaginal e os gases vaginais

Uma fistula rectovaginal é uma comunicação ou trajeto anómalo entre o recto e a vagina. Algumas mulheres podem ser assintomáticas, mas a maioria tem queixas de perda involuntária de gases e/ou fezes através da vagina.

A maioria das fistulas rectovaginais são provocadas pela lesão do parto. O traumatismo relacionado com os partos vaginais instrumentados (forcéps e ventosas) bem como as lacerações perineais de 3º e 4º grau aumentam o risco de desenvolvimento de fistulas rectovaginais. As fistulas rectovaginais podem também desenvolver-se após irradiação da pélvis, nos cacos de tratamento para o cancro, ou em mulheres com doença inflamatória do intestino

Nem todas as fistulas necessitam de intervenção cirúrgica. Frequentemente, as fistulas rectovaginais associadas com a doença inflamatória do intestino encerram espontaneamente com o tratamento médico.

Se diagnosticadas logo após evento traumático, o encerramento direto pode ser considerado, embora na maioria das vezes as reparações das fistulas rectovaginais sejam adiadas de forma a permitir a resolução do tecido inflamatório em redor do trajeto fistuloso.

A abordagem cirúrgica das fistulas rectovaginais pode envolver quer uma reparação transvaginal, pela vagina, quer uma reparação transanal, pelo ânus. Após a cirurgia da fistula rectovaginal as mulheres devem vigiar os seus hábitos intestinais com o objectivo de terem diariamente fezes formadas, mas moles. É importante evitar obstipação e diarreia uma vez que pode provocar disrupção da reparação e aumentar o risco de infeção da ferida (3).

Gases vaginais: tratamento e avaliação médica

Na maioria dos casos, os gases vaginais não são considerados doença. Caso ocorram durante o ato sexual, o casal deve ter bom humor e saber levar a situação com naturalidade.

Se o barulho for frequente e causar desconforto, a mulher deve procurar o médico ginecologista, para que este possa avaliar, através do exame clínico e da história da doente, se é necessária alguma intervenção.

Podem  ser prescritos medicamentos, principalmente se houver perda de urina associada. Em alguns casos, quando ocorre também o prolapso de órgãos como o útero ou nas fístulas vaginais, faz-se necessária a intervenção cirúrgica.

Existe uma técnica, que pode ser feita por qualquer mulher, a qualquer altura e em qualquer lugar: o treinamento dos músculos do assoalho pélvico. A contração repetitiva e voluntária, serve para melhorar o tónus muscular e é feita por elevação e fecho conjunto dos orifícios anal, vaginal e uretra.

Pode ser feito pela própria mulher, sempre que desejar, ou sob a supervisão de um fisioterapeuta. O objetivo é fortalecer a musculatura do assoalho pélvico e aprender a controlar esses músculos. Isso garante um maior contato do pénis com a parede do canal vaginal, diminuindo o espaço para não haver entrada de ar. Estes exercícios também ajudam a melhorar a relação sexual para a mulher, podem prevenir a incontinência urinária e a queda dos órgãos pélvicos, como o prolapso utetino (2).

Veja também

Fontes

  1. SILVA, A. (2012). FEUP. Estudo Biomecânico da cavidade pélvica da Mulher. Disponível em: https://paginas.fe.up.pt/~bio07021/images/Mono.pdf
  2. CASSIANO, A. (2018). Impacto das disfunções do assoalho pélvico na sexualidade feminina. Disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/03/880506/impacto-das-disfuncoes-do-assoalho-pelvico-na-sexualidade-feminina.pdf
  3. Associação internacional de uroginecologia. 2018.Disponível em: https://www.yourpelvicfloor.org/media/Rectovaginal_Fistula_Portuguese.pdf

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