Share the post "Bater em crianças para educar é a melhor prática a adotar?"
É importante esclarecer se bater em crianças para educar é uma boa estratégia ou se, em sentido contrário, é má ideia e tem consequências negativas.
Visto que a família é o primeiro ambiente social em que a criança participa e aprende regras e modos de se relacionar com os outros, as interações familiares têm um grande impacto nas relações da criança na sociedade.
Vamos saber mais sobre este tema.
Diferentes formas de educar
![bater em criancas para educar diferentes formas](https://cdn.vidaativa.pt/uploads/2019/11/bater-criancas-para-educar-pais-a-educar-crianca.jpg)
Existem diferentes formas de educar, sendo que se torna importante referir que as práticas educativas são constituídas por dois fatores, que vamos desenvolver de seguida.
1. Fatores de risco para o desenvolvimento da criança: “condições ou variáveis que estão associadas a uma alta probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou indesejáveis no desenvolvimento da criança”.
2. Fatores de proteção para o desenvolvimento da criança: “condições ou variáveis que diminuem os fatores de risco, isto é, modificam, melhoram ou alteram a resposta do indivíduo a ambientes hostis que predispõem as consequências mal adaptativas”.
Seguindo esta linha de raciocínio, seguem-se duas formas diferentes de modificar o comportamento dos filhos, do ponto de vista de Hoffman (1960). Este autor considera então, que os pais podem intervir no comportamento dos seus filhos das seguintes maneiras:
Através de uma disciplina indutiva
Neste tipo de disciplina, os pais utilizam a explicação para modificar o comportamento da criança, exprimindo o seu desejo para que tal aconteça. Desta forma, os pais induzem o seu filho a obedecer, mostrando-lhe que existem consequências para o comportamento em questão.
Através de uma disciplina coerciva
Neste tipo de disciplina, os pais recorrem à ameaça, ao uso direto da força, à punição física ou à privação de privilégios como estratégias para modificarem o comportamento dos seus filhos.
A disciplina coerciva reforça o poder parental, na medida em que é utilizada a aplicação direta da força e do poder dos pais. Os pais também assumem o controlo do comportamento dos seus filhos através de ameaças e sanções externas.
Qual destas disciplinas se deve adotar?
Um grande número de países defende que as punições físicas são uma infração aos direitos da criança e um risco ao seu crescimento e desenvolvimento – ou seja, que bater em crianças para educar é má ideia. Isto porque, segundo vários autores, a aplicação de estratégias coercivas pode resultar em situações de violência mais intensas e pode fazer com que a criança apresente diversos problemas psicológicos e/ou comportamentais. Ou seja, a melhor prática a adotar seria a disciplina indutiva.
Neste sentido, acaba por surgir a questão de que as interações familiares fundamentam as relações da criança na sociedade, visto que é na família que a criança aprende algumas regras que posteriormente irá utilizar noutros ambientes, como por exemplo a escola.
A prática de estratégias coercivas por parte dos pais, muitas vezes faz com que a criança acabe por reproduzir comportamentos violentos na sua adolescência e vida adulta, tanto no âmbito familiar como no social.
Bater em crianças para educar
Os efeitos negativos da disciplina coerciva
![Criança com síndrome de Aperger a olhar pela janela](https://cdn.vidaativa.pt/uploads/2020/01/sindrome-de-asperger-o-que-e.jpg)
Torna-se evidente, desta forma, que as práticas coercivas, ou seja, a utilização de estratégias como por exemplo a ameaça, o uso direto da força, a punição física e a privação de privilégios, estão cada vez mais a ser consideradas como inadequadas e arriscadas, tornando-se numa infração aos direitos da criança.
Constata-se assim, que a prática de bater para educar crianças gera medo, insegurança e baixa autoestima. Segundo Martins (2009), a responsabilidade dos pais é a base necessária para a socialização da criança, assim, estes devem dar ao seu filho um ambiente seguro e incentivador onde ele se possa desenvolver da melhor forma. É função da família ser uma fonte de segurança, afeto, proteção e bem-estar.
Exemplos de vários efeitos negativos das práticas coercivas
Estes são alguns exemplos de vários efeitos negativos no uso da força, punição física, etc. (práticas coercivas):
- aumentam o risco de que as crianças sejam vítimas de abusos físicos, porque existe uma tendência para a intensidade das punições aumentar a cada reincidência;
- são pouco eficazes;
- aumentam a agressividade das crianças, no sentido em que estas acabam por relacionar a agressão à vontade dos pais em terem aquilo que pretendem, fazendo com que os seus filhos se comportem da mesma forma sempre que virem os seus desejos contrariados;
- dão a ideia de que a melhor forma de se obter aquilo que se quer passa pela violência e pela força;
- fazem com que o relacionamento entre pais e filhos seja baseado no medo e não no respeito;
- aumentam a ansiedade e diminuem a confiança da criança;
- podem fazer com que a criança evite comportar-se mal à frente dos pais, no sentido de evitar a punição. Contudo, não a ensinam a ser responsável e independente de forma a se comportar de modo socialmente e moralmente aceitável;
- a longo prazo, aumenta a probabilidade de a criança se tornar um adulto: com comportamentos antissociais, agressivos e criminais; vítima de abusos físicos por parte do parceiro ou agressor de filhos e parceiros (na medida em que se estabelece a ideia de que a violência física nos relacionamentos afetivos é aceitável) e com baixo autocontrole, aumentando assim a probabilidade de delinquência.
Após a verificação destes efeitos negativos, torna-se necessário evidenciar alternativas a estas punições.
Deste modo, é possível afirmar que as práticas coercivas acima explicadas são consideradas fatores de risco ao desenvolvimento das crianças. Ou seja, a prática frequente do bater na criança para que ela faça aquilo que se pretende é um fator que põe em risco de variadas formas o desenvolvimento da criança.
Bater em crianças para educar: 12 ideias para não o fazer
Alternativas positivas contrárias ao uso da força
Alternativamente às práticas coercivas podemos adotar outros tipos de estratégias educativos.
1. Contar até 10: dizer à criança que o que ela fez, faz com que os pais fiquem zangados, permitindo a possibilidade de falar sobre o assunto mais tarde, dando tempo não só aos pais para pensarem no quê e como dizer, como também à criança, para que esta pense no que fez de errado.
2. Ser positivo: em vez de utilizar uma frase do género: “Será que tenho sempre que te mandar ir tomar banho?”, é mais plausível utilizar uma deste tipo: “Porque não vais tomar banho para depois vermos os desenhos animados os dois?”. Isto faz com que seja evidente para a criança que só vai ver os desenhos animados quando tiver tomado banho.
3. Estabelecer regras e consequências: utilizar regras apropriadas para a idade da criança e explicar que existem consequências caso ela não as cumpra. Ex: “Enquanto não fizeres os trabalhos de casa, não podes ver televisão.
4. Ensinar a assumir as consequências: errar é humano. Explicar que os erros devem ser corrigidos, incentivar a criança a desculpar-se e a fazer alguma coisa para compensar. Bater ensinaria a não repetir o erro mas, por outro lado, incentivaria a esconder erros futuros, mentir, culpar os outros e evitar ser “apanhada” novamente.
5. Criticar a ação, não a criança: incentivar a criança a agir corretamente, em vez de utilizar rótulos.
6. Encorajar e recompensar o bom comportamento: dizer à criança que o facto de ela ter feito o que foi pedido, faz com que os pais fiquem felizes. É importante ter em conta que se devem evitar presentes ou dinheiro como forma de compensação: “o bom comportamento não é matéria de negociação.” – Ensiná-la a agir para o seu bem, orgulho dos pais ou porque simplesmente é adequado, é a melhor forma de o fazer.
7. Dar explicações, não fazer ameaças: para que a criança faça algo que é pretendido, é necessário explicar-lhe o porquê de o dever fazer.
8. Dar bons exemplos: se os pais adotarem uma atitude correta, com bons exemplos, o mais provável será a criança repetir esse mesmo padrão. “Dar o exemplo”.
9. Negociar: avisar quando faltarem 10 minutos para poder acabar determinada tarefa, dando o poder à criança de negociar, no sentido de mostrar que o facto de tal tarefa ser importante para ela é considerado e entendido, mas que há limites.
10. Dar opções: no caso de a criança recusar ou implicar com algum tipo de tarefa obrigatória, deverá ser dada opção de escolha dentro daquilo que a própria tarefa obriga. Assim, estará a ser demonstrado que a opinião da criança é levada em consideração, mas que a questão de executar ou não essa tarefa, não é negociável.
11. Ser amável, mas firme: em vez de gritar para obrigar a criança a ter determinado comportamento, é mais eficaz tomar outro tipo de atitudes, como por exemplo: ajoelhar para ficar à altura da criança, mantendo contacto visual, falando calmamente e de forma direta.
12. Destinar um tempo apenas para a criança: a falta de tempo para estar com filhos apenas e só, faz com que a única forma que eles terão de chamar a atenção dos seus pais será comportando-se mal. Destinar um tempo só à criança irá contrariar essa tendência.
13. Usar quadros para incentivar o bom comportamento: anotar as atividades diárias cumpridas corretamente e sem birras. Cada uma delas merecerá um ponto.