Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
14 Jul, 2020 - 11:34

Anona: possíveis efeitos na saúde humana

Nutricionista Hugo Canelas

A riqueza nutricional deste fruto tropical pode trazer alguns benefícios para a saúde.

Fruto anona

A anona (Annona cherimola) é um fruto verde com aparência externa escamosa e interior cremoso. É rica em fibras, vitaminas e minerais e o seu teor em antioxidantes pode ser interessante para a saúde, nomeadamente através da promoção do normal funcionamento do sistema imunitário (1, 2).

Anona: composição nutricional

Anonas em cima de uma mesa

Por 160 g de produto, podemos encontrar (3):

  • Calorias: 120 calorias
  • Proteínas: 2,5 g
  • Lípidos: 1,08 g
  • Hidratos de carbono: 28,3 g
  • Açúcares: 20,6 g
  • Fibra: 4,8 g

No entanto, algumas partes deste fruto contêm toxinas que, se consumidas em quantidades exageradas, podem causar lesões no sistema nervoso (4).

Quanto aos potenciais benefícios da anona para a saúde humana, eis o que deve saber.

Benefícios da anona para a saúde humana

1.

Riqueza em antioxidantes

Os antioxidantes são importantes no combate aos radicais livres que causam stress oxidativo e que estão associados a várias doenças crónicas como diabetes, cancro e doenças cardiovasculares (5, 6).

Alguns compostos encontrados na anona, nomeadamente o ácido caurenóico, os flavonóides, os carotenóides e a vitamina C, apresentam um potencial antioxidante interessante (12) o que significa que o consumo deste fruto pode ter um efeito potencialmente anticancerígeno.

Estudos populacionais sugerem que uma dieta rica em flavonóides ajuda a baixar o risco de determinados tipos de cancro, como estômago e cólon (7, 8). No entanto, são necessários mais estudos para entender a forma como os compostos encontrados na anona afetam as células cancerígenas.

2.

Efeitos no humor

A piridoxina ou vitamina B6 desempenha um papel importante na criação de neurotransmissores, incluindo serotonina e dopamina, que ajudam a regular o humor e níveis inadequados estão associados a alterações de humor (9, 10).

De facto, concentrações sanguíneas de vitamina B6 estão associadas a estados depressivos, especialmente em idosos (9, 11).

Ora a anona é uma excelente fonte desta vitamina, sendo que 160 g fornecem aproximadamente 30% das doses diárias recomendadas de ingestão, o que pode fazer deste fruto um potencial aliado no combate à depressão por carência de vitamina B6 (12).

Cesto de anonas na banca de um mercado
3.

Efeito na saúde ocular

A anona é rica em luteína, um dos principais carotenóides antioxidantes presentes no olho e que ajudam a combater o stress oxidativo (1, 13).

Vários estudos associam concentrações saudáveis de luteína a um menor risco de degeneração macular, um processo que conduz à cegueira (14, 15, 16).

Por outro lado, uma revisão de estudos mostrou que as pessoas que apresentam maiores níveis de luteína no sangue têm uma probabilidade 27% menor de desenvolver cataratas (17).

Neste sentido, alimentos ricos em luteína, como a anona, podem ser importantes aliados na manutenção da saúde ocular.

4.

Efeito no controlo da pressão sanguínea

A anona é rica em potássio e magnésio, nutrientes importantes na regulação da tensão arterial. Na verdade, 160 g deste fruto oferecem 10% e 6% de potássio e magnésio respetivamente (12).

Ambos nutrientes promovem a dilatação dos vasos sanguíneos, o que ajuda a baixar a pressão exercida pela passagem do sangue, reduzindo o risco de complicações das doenças cardiovasculares como enfartes e AVC (18, 19, 20).

Uma revisão científica concluiu que consumir a dose diária recomendada de potássio – 4700 mg/dia – reduz tanto a pressão sanguínea sistólica como a diastólica (19) e outra demonstrou que as pessoas que consomem mais magnésio têm um risco 8% inferior de apresentar valores elevados de pressão sanguínea (21).

Mulher com uma anona na mão
5.

Efeito na função intestinal

Pelo facto de ser rica em fibra – quase 5 g por cada 160 g de produto -, a anona pode ser útil na regulação do transito intestinal. Por outro lado, este fruta apresenta maioritariamente fibras solúveis, compostos que são fermentados pelas bactérias intestinais a ácidos gordos de cadeia curta (22, 23).

Estes compostos estão associados a uma redução do risco de doenças crónicas, incluindo doença de Chron e colite ulcerosa (24).

EFEITOS SECUNDÁRIOS DA ANONA

Embora os potenciais benefícios para saúde sejam bastante interessantes, a anona apresenta compostos tóxicos em doses diminutas. A anonacina presente neste fruto está comprovadamente associada a danos no cérebro e sistema nervoso (24, 4).

De facto, estudos observacionais realizados em zonas tropicais associam o consumo de anona com um aumento do risco de doenças de Parkinson refratária ao tratamento médico (4).

Todas as partes da anona contêm este composto, mas a concentração é maior nas sementes e pele pelo que, se as rejeitar, pode consumir o fruto sem medo de efeitos secundários (24). No entanto, se sofre de doenças de Parkinson ou outra doença que afete o sistema nervoso central, o melhor mesmo é evitar o consumo de anona.

Fontes

  1. Albuquerque TG, et. al. (2016). Nutritional and phytochemical composition of Annona cherimola Mill. fruits and by-products: Potential health benefits. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26433307/
  2. Santos SA, et. al. (2016). Profiling of lipophilic and phenolic phytochemicals of four cultivars from cherimoya (Annona cherimola Mill.). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27283704/
  3. USDA. (n.d.). Cherimoya, raw. Disponível em: https://fdc.nal.usda.gov/fdc-app.html#/food-details/173953/nutrients
  4. Badrie, N., & Schauss, A. G. (2010). Soursop (Annona muricata L.). Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9780123746283000396
  5. Gupta-Elera, G., et. al. (2011). The antioxidant properties of the cherimoya (Annona cherimola) fruit. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0963996910004138
  6. Pham-Huy, LA, et. al. (2008). Free Radicals, Antioxidants in Disease and Health. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3614697/
  7. Bo, Y., et. al. (2016). Dietary flavonoid intake and the risk of digestive tract cancers: a systematic review and meta-analysis. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4845003/
  8. Xu M, et. al. (2016). Flavonoid intake from vegetables and fruits is inversely associated with colorectal cancer risk: a case-control study in China. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27650133/
  9. Merete C, Falcon LM, Tucker KL. (2008). Vitamin B6 is associated with depressive symptomatology in Massachusetts elders. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18838531/
  10. Kennedy, D. (2016). B Vitamins and the Brain: Mechanisms, Dose and Efficacy—A Review. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4772032/
  11. Clayton PT. (2006). B6-responsive disorders: a model of vitamin dependency. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16763894/
  12. Abdel-Aal el-SM, Akhtar H, Zaheer K, Ali R. (2013Dietary sources of lutein and zeaxanthin carotenoids and their role in eye health. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23571649/
  13. Wu J, et. al. (2015). Intakes of Lutein, Zeaxanthin, and Other Carotenoids and Age-Related Macular Degeneration During 2 Decades of Prospective Follow-up. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26447482/
  14. Ma L, et. al. (2012). Lutein and zeaxanthin intake and the risk of age-related macular degeneration: a systematic review and meta-analysis. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21899805/
  15. Moeller SM, et. al. (2006). Associations between intermediate age-related macular degeneration and lutein and zeaxanthin in the Carotenoids in Age-related Eye Disease Study (CAREDS): ancillary study of the Women’s Health Initiative. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21899805/
  16. Liu, X.-H., et. al. (2014). Association between Lutein and Zeaxanthin Status and the Risk of Cataract: A Meta-Analysis. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3916871/
  17. Houston MC, Harper KJ. (2008). Potassium, magnesium, and calcium: their role in both the cause and treatment of hypertension. J Clin Hypertens (Greenwich). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18607145/
  18. Houston MC. (2011). The importance of potassium in managing hypertension. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21403995/
  19. DiNicolantonio JJ, Liu J, O’Keefe JH. (2018). Magnesium for the prevention and treatment of cardiovascular disease. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21403995/
  20. Han, H., et. al. (2017). Dose-response relationship between dietary magnesium intake, serum magnesium concentration and risk of hypertension: a systematic review and meta-analysis of prospective cohort studies. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5420140/
  21. Holscher, H. D. (2017). Dietary fiber and prebiotics and the gastrointestinal microbiota. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5390821/
  22. Tuohy KM, et. al. (2012). Up-regulating the human intestinal microbiome using whole plant foods, polyphenols, and/or fiber. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22607578/
  23. Wong JM, et. al. (2006). Colonic health: fermentation and short chain fatty acids. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16633129/
  24. Abdul Wahab, S. M., Jantan, I., Haque, M. A., & Arshad, L. (2018). Exploring the Leaves of Annona muricata L. as a Source of Potential Anti-inflammatory and Anticancer Agents. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6019487/
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A não esquecer

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