Nutricionista Carolina da Costa Arcanjo
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26 Fev, 2019 - 17:21

Neofobia alimentar: o que fazer quando o bebé não quer experimentar novos alimentos

Nutricionista Carolina da Costa Arcanjo

A neofobia alimentar trata-se de um medo que a criança desenvolver a todos os alimentos que são novidade na sua alimentação diária, podendo mesmo rejeitá-los antes de os provar.

Neofobia alimentar: o que fazer quando o bebé não quer experimentar novos alimentos

A neofobia alimentar é uma reação bastante comum por parte das crianças que pode ocorrer desde a introdução alimentar, apesar de ser mais frequente entre os 2 e os 3 anos de idade. O que acontece é que a criança reage de forma menos positiva a todos os alimentos que são novidade na sua alimentação diária, podendo mesmo rejeitá-los antes de os provar.

Conforme se pode analisar de acordo com a etimologia desta palavra, “neo” significa “novo”, ou seja, neofobia alimentar significa literalmente medo ou fobia de experimentar alimentos novos, isto é, até então desconhecidos.

Apesar de surgir maioritariamente em crianças, a neofobia alimentar pode estar presente em pessoas de outra faixa etária, detetável por exemplo em fases de reeducação alimentar, em que é necessário reformular os hábitos e experimentar novos sabores, diferentes do padrão alimentar habitual.

Neofobia alimentar: porque acontece

neofobia alimentar menina nao quer legumes

Existem vários aspetos que podem influenciar o surgimento de neofobia alimentar, comportamento inato nos animais omnívoros (nos quais nos incluímos) como forma de sobrevivência perante o perigo de ingerir alimentos tóxicos presentes na natureza ou meio envolvente.

Apesar das condições no caso dos seres humanos serem diferentes, é natural que exista uma atitude de precaução perante o que é novo, sendo sempre inconscientemente mais seguro mantermo-nos fiel ao que é habitual.

Para além desta explicação inerente à nossa espécie, existem outros fatores que podem influenciar, tais como:

  • Emoções negativas associadas à introdução de novos alimentos;
  • Hereditariedade;
  • Hipersensibilidade ao gosto amargo, causada por uma alteração genética, que se associa à rejeição específica de alimentos amargos;
  • Aspetos sociais e culturais que impliquem monotonia alimentar;
  • Incorreta aprendizagem dos sabores, que deve acontecer ainda mesmo durante a gestação e amamentação, através de uma alimentação equilibrada e variada da mãe.

Assim, não restam dúvidas de que a experiência pessoal com os alimentos é determinante para a futura aceitação de novos alimentos, pelo que a influência da família é fundamental nos primeiros anos de vida de uma criança.

Neofobia alimentar: como detetar

neofobia alimentar menina nao quer comer brocolos

Os principais momentos em que se deteta neofobia alimentar é, conforme foi referido, aquando da introdução alimentar (por volta dos 6 meses) e durante o período de autonomia nas refeições (entre os 15 e os 36 meses). Assim, é importante que especificamente nestas alturas esteja atento à criança, no sentido de evitar situações de rejeição a novos alimentos.

O primeiro período é geralmente mais facilmente ultrapassado, já que a criança se sente ainda muito protegida pelos pais, aceitando com menos dificuldade a introdução dos alimentos.

Perante um caso de Neofobia alimentar, devem fazer-se notar algumas características, tais como:

  • Preconceito de palatabilidade negativa (assume-se que novos alimentos terão um sabor desagradável);
  • Rejeição frequente de:
    • Alimentos com sabor amargo;
    • Alimentos crus;
    • Alimentos de origem animal.

É importante saber distinguir entre neofobia alimentar e simplesmente não gostar de um alimento específico. Por exemplo, a criança ou o adulto podem não gostar de pepino e abacate, mas não manifestarem um desagrado ou rejeição relativamente a experimentar outros legumes e frutas desconhecidos e, nesse caso, não estamos perante este distúrbio do comportamento alimentar.

Como agir perante uma criança com Neofobia alimentar

neofobia alimentar pai e filho a cozinhar

A criança apresenta Neofobia alimentar? Não há problema, existem inúmeras técnicas que com certeza o irão ajudar a reverter a situação.

O importante é de facto reconhecer este comportamento e saber como agir perante a situação, no sentido de evitar carências nutricionais a curto, médio e longo prazo, que poderão ter consequências graves.

Nesse sentido, tome nota das seguintes sugestões que o irão permitir ajudar a criança:

  • Os pais são o grande exemplo, pelo que, se a criança não quer provar determinado alimento, pode ser uma grande ajuda se o pai ou a mãe o provarem em frente à criança e demonstrarem agrado pelo seu sabor. Para além disso, se de forma rotineira os pais têm uma alimentação variada, então a criança mostrará maior aceitação em provar alimentos que são habitualmente consumidos pelos pais.
  • Cozinhar com as crianças poderá alterar a forma como estas vêem determinados alimentos, para além de reforçar o vínculo com quem os acompanha nesta tarefa;
  • Introduzir os alimentos um a um, combinando-os com alimentos já conhecidos;
  • Evitar as recompensas, ou seja, situações como “se comeres isto, a seguir dou-te um chocolate”, pois isso só acrescentará um valor negativo àquela experiência. Deve em vez disso não forçar, mas sim introduzir novamente o alimento em causa sucessivas vezes noutras refeições e de formas diferentes;
  • Evitar reforços negativos, isto é, frases como “ela não gosta disto” ou “ele não vai comer isso”. Pelo contrário, os comentários que são feitos devem ser positivos, demonstrando interesse e prazer associados aos alimentos em questão.

Em suma…

A neofobia alimentar é um comportamento que pode afetar de forma negativa as crianças, com possíveis consequências mais tardias, na adolescência ou na idade adulta. Como tal, agora já terá todas as ferramentas para identificar esta situação e trabalhar com a criança no sentido de reverter este comportamento.

No caso de não o conseguir ou sentir alguma dificuldade, não hesite em solicitar a ajuda e orientação de um profissional, como o pediatra e um psicólogo da área.

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