Danielle Paiva
Danielle Paiva
14 Nov, 2019 - 10:48

Dor no calcanhar: 7 principais causas

Danielle Paiva

A dor no calcanhar é um problema ortopédico bastante comum e muitas pessoas experimentam uma dor profunda nesta parte do corpo. A boa notícia é que pode ser tratada, na maioria dos casos.

Dor no calcanhar: 7 principais causas

Estima-se que uma em cada dez pessoas experimentem dor no calcanhar ao longo da vida. Na população não desportista é bastante comum nas atividades que implicam o suporte de peso, especialmente em operários fabris, cozinheiros e enfermeiros, afetando principalmente homens entre 40 e 70 anos. Acomete também atletas, especialmente corredores (12).

A causa exata desta síndrome é desconhecida. Porém, vários factores podem estar envolvidos (2):

  • Forcas de tração ao caminhar
  • Compressão contra a fáscia plantar
  • Neuropatia compressiva dos nervos plantares
  • Esporão plantar do calcâneo
  • Atrofia senil do coxim gorduroso plantar
  • Excesso de peso
  • Factores biomecânicos, como a pronação ou pisada anormal

Dor no calcanhar: as causas explicadas

1. Forças de tração ao caminhar

A anatomia da sola do pé confere-lhe pouca elasticidade. Durante a fase de apoio da marcha ocorre compressão na planta do pé e uma força de tração é gerada. Durante o caminhar, a cada passo a planta do pé é submetida a repetitivas forças de tração, que podem levar a dor no calcanhar.

2. Compressão contra a fáscia plantar

A fáscia plantar é uma membrana de tecido conjuntivo fibroso e pouco elástico, que recobre a musculatura da sola do pé, desde o osso calcâneo, que garante o formato do calcanhar, até a base dos dedos dos pés. A compressão desta membrana, principalmente por esforço repetitivo, pode levar a dor.

3. Neuropatia compressiva, alterações nos nervos periféricos

Os nervos da sola do pé são comprimidos, o que causa dor ao andar. A neuropatia pode ser agravada se o doente for diabético sem controle. A neuropatia diabética leva a perda de sensibilidade e a lesões, que podem culminar na perda de dedos e do próprio pé.

4. Esporão calcâneo, o esporão de galo

O esporão do calcâneo é associado como causa da dor no calcanhar. Ele está presente em aproximadamente 50% dos pacientes com síndrome dolorosa subcalcânea. É um pequeno crescimento do osso calcâneo, no local onde a fascia plantar se une ao calcanhar.

Eles formam saliências parecidas com ganchos que lembram as esporas dos pés dos galos.

5. Atrofia senil do coxim gorduroso plantar

A causa da dor no calcanhar pode estar associada com o coxim gorduroso do calcanhar, uma importante estrutura responsável pela absorção do choque durante o apoio do calcanhar no solo.

Com o envelhecimento, alterações degenerativas associadas à redução gradual de colágeno e de líquido provocam a redução na elasticidade do coxim gorduroso. Após aproximadamente 40 anos o coxim gorduroso plantar começa a se deteriorar, com perda do colágeno, do tecido elástico e de água, o que provoca diminuição na sua espessura e altura. Essas alterações resultam no amolecimento e afilamento da gordura do coxim plantar, diminuem sua capacidade de absorver impacto e reduzem sua ação protetora da tuberosidade plantar do calcâneo

6. Excesso de peso

Vários estudos associam o peso corpóreo como causa da dor no calcanhar e observa-se uma alta incidência nos doentes obesos ou acima do peso. O calcanhar e a fáscia sofrem múltiplas lesões de esforço, ao suportar um peso em excesso diariamente.

7. Pronação ou pisada anormal

A forma como o doente pisa pode causar dor no calcanhar. A pisada correta evita dores no calcanhar e na coluna vertebral.

Características da dor no calcanhar

dor no calcanhar

O doente normalmente se queixa de dor, de início insidiosa, na face interna do calcanhar. Em raras ocasiões pode ocorrer dor intensa, com início abrupto, causada por compressão no calcanhar.

A dor é pior pela manhã, ao apoiar o pé no solo pela primeira vez, e torna-se menos intensa após iniciar os primeiros passos. No fim do dia, a dor torna-se mais intensa e é aliviada pelo repouso do pé. Quando a dor se torna mais intensa, o doente não é capaz de apoiar o peso do corpo nos calcanhares. Edema leve e vermelhidão eventualmente estão presentes. Os sintomas podem persistir durante poucas semanas ou mesmo até alguns anos (2).

Como é avaliada clinicamente a dor no calcanhar?

dor no calcanhar

O exame físico do pé revela sensação dolorosa ao longo da tuberosidade medial do calcâneo. A dor pode ter como origem a porção central da fáscia plantar ou pode ser mais profunda e representar uma inflamação do nervo abdutor do quinto dedo.

A fáscia plantar deve ser palpada para se determinar a área onde a dor se localiza e a possível presença de nódulos. Algumas vezes a fáscia torna-se mais intensamente dolorosa quando submetida a tensão.

As articulações do tornozelo devem ser examinadas ativa e passivamente quanto à mobilidade. O exame neurológico também deve ser feito.

Radiografias do pé e do tornozelo, com apoio do peso corporal, devem ser feitas. Poderá ser observado o esporão ou calcificação ao longo da tuberosidade medial do calcâneo. A cintilografia óssea pode auxiliar no diagnóstico diferencial da fratura de estresse do calcâneo em doentes que apresentam persistência da sintomatologia dolorosa após o tratamento de rotina (1).

Tratamento para a dor no calcanhar

dor no calcanhar

O tratamento vai depender da origem da dor. Se o fator agravante for o excesso de peso, o doente deve introduzir hábitos de vida saudável na sua rotina.

Na maior parte dos doentes o tratamento conservador, sem cirurgia, é suficiente para permitir o alívio dos sintomas. O tratamento conservador deve ser direcionado para reduzir o processo inflamatório e inicialmente podemos recomendar um curto período de repouso acompanhado de medicamentos anti-inflamatórios não hormonais (AINH) durante aproximadamente quatro a seis semanas.

A primeira linha do tratamento conservador deve incluir um programa domiciliar com exercícios para alongamento da fáscia plantar.

Palmilhas pré-fabricadas ou confeccionadas sob medida, com desenho capaz de acomodar e dar suporte ao arco longitudinal medial, além de acolchoar a região do calcanhar para reduzir a pressão do apoio, podem ser úteis como forma complementar de tratamento, desde que associadas ao programa de exercícios domiciliares para alongamento da fáscia plantar.

Tais palmilhas devem ser produzidas com material macio (destacam-se silicone, microespuma, feltro, plastazote ou similares). Recomenda-se que a palmilha seja usada diariamente durante vários meses. Pode ser acomodada dentro do próprio calçado do paciente.

A diminuição no nível de atividade física é importante durante todo o período de tratamento conservador. Pessoas que trabalham de pé por mais de oito horas ao dia costumam apresentar pior resultado com essa modalidade de tratamento. Como terapêutica coadjuvante pode também ser feita fisioterapia formal na modalidade analgésica.

A aplicação de gelo local é a mais importante componente do tratamento anti-inflamatório, aliviando a dor. (12)

O que pode fazer para diminuir a dor no calcanhar?

  • Evite apoiar-se no pé
  • Diminua a sua atividade ou exercício
  • Utilize sapatos de salto baixo, mas não totalmente rasos
  • Utilize palmilhas de espuma ou silicone, que amorteçam o impacto da caminhada e sirvam de almofada para o calcanhar
  • Aplique gelo durante 20 minutos várias vezes ao dia na zona de maior dor. Pode utilizar uma pequena garrafa cheia de água congelada
  • Se precisar pode utilizar analgésicos como o paracetamol (500-1000 mg cada 6-8 horas)
  • Se a dor não melhorar, a infiltração de medicamentos no calcanhar pode ser muito eficaz
  • A cirurgia utiliza-se muito excepcionalmente

Fontes

1. FERREIRA, R. (2014). Revista Brasileira de Ortopedia. “Talalgias: fascite plantar”. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbort/v49n3/pt_0102-3616-rbort-49-03-00213.pdf
2. OLIVEIRA, V. H. (2006). “Análise da efectividade clínica das ortóteses plantares rígidas personalizadas no tratamento da dor e do seu impacto psicossocial provocada pela fasceite plantar”. CESPU. Disponível em https://repositorio.cespu.pt/bitstream/handle/20.500.11816/139/Tese%20Mestrado_Vitor%20Oliveira.pdf?sequence=1&isAllowed=y

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