Nas poucas vezes que falei sobre ”plano de parto”, insistiram comigo que não servia para nada e que não me devia preocupar tanto. Mais: que preocupar-me tanto me fazia mal. Nada mais errado! É porque as mulheres não se preocupam com o parto, porque deixam a decisão nas mãos de terceiros e porque não se informam sobre as suas opções, consequências e direitos, que existem tantas histórias de partos traumatizantes.
Quando as primeiras doulas surgiram no nosso país – ainda eu vivia uma vida muito diferente – pesquisei muito sobre estas mulheres, sobre o parto natural e sobre o parto na água. Eu, que já nos meus vinte anos, ainda fazia análises de sangue com a agulha dos bebés, desejei um parto na água, um parto o mais natural possível. Afinal, se a minha mãe e a minha avó conseguiram, eu também consigo. Creio que nunca partilhei isto com ninguém.
Posto isto, está fácil de ver que, no meu caso, o plano de parto, é absolutamente essencial uma vez que há uma série procedimentos que não quero para mim. Ainda que, na obstetrícia, na verdade, não se pode planear nada, o plano de parto devia ser obrigatório em todos os hospitais nacionais. Porquê? Se tudo correr como previsto, há uma série de questões que já estão definidas, poupando a mulher a perguntas num momento em que tudo o que não precisamos é de tomar decisões.
O meu plano de parto não é estanque ou fundamentalista e isso fica claro logo nas primeiras linhas: “Os pontos abaixo foram definidos considerando que o parto decorra dentro da normalidade. Numa situação de emergência, em que a minha vida e/ou a do Pedrinho estejam em risco, confio na equipa médica e admito alterações a este plano, desde que, tanto quanto possível, nos sejam explicados os termos, a necessidade e as implicações dessas alterações.”
De resto, o meu plano de parto é muito simples:
- Desejo que o parto seja no Centro Hospitalar da Póvoa do Varzim/Vila do Conde, se possível, numa sala com luz natural
- Desejo ter o Marco sempre presente, de forma ativa, com liberdade de movimentos
- Desejo um parto natural, no meu tempo e do Pedrinho, sem pressões
- Desejo ser acompanhada por uma equipa vocacionada para partos naturais
- Deposito confiança na equipa para me auxiliarem no controlo da dor física e psicológica
- Desejo ter liberdade total de movimentos
- Desejo o mínimo de intervenção e exames possível como, p.e., toques vaginais ou episiotomia
- Desejo que não sejam administrados fármacos ou feitos procedimentos sem consentimento prévio
- Desejo manter ao mínimo o número de profissionais que nos assistam
- Desejo poder usar métodos de alívio da dor: bola de pilates, banheira, duche e saco de água quente
- Desejo que a monitorização do bebé seja feita, de preferência, com equipamento móvel ou sem fios
- Desejo poder ouvir música, reduzir a luz ou ajustar a temperatura da sala
- Desejo que a expulsão seja suave e sem pressas
- Desejo que após a expulsão seja imediatamente feito o contacto pele com pele – mesmo se cesariana
- Desejo amamentar na primeira hora e que o Pedrinho fique no meu colo nesse período
- Desejo que o corte do cordão umbilical seja feito apenas quando o cordão parar de pulsar
- Desejo que a saída da placenta seja natural – sem recurso a químicos
- Desejo que todos os exames realizados ao Pedrinho sejam feitos na nossa presença
- Desejo que o primeiro banho seja dado por nós
- Desejo anestesia se for necessário ser suturada
- Não desejo ser separada do Pedrinho
- Não desejo depilação, clister ou canalização da veia
- Não desejo descolamento de membranas, amniotomia ou oxitocina sintética para acelerar o parto
- Não desejo biberão, chupetas, bicos de silicone ou leite artificial
- Nada a opor sobre injeção de vitamina K, colírio/pomada para os olhos do bebé ou teste auditivo
Veja também:
- #1: o princípio
- #2: não são perguntas normais
- #3: ninguém nos diz isto
- #4: terato… quê?
- #5: tenho medo
- #6: já faltou mais…
- #7: vamos lá fazer um bebé!
- #8: positivo!
- #9: hallo, hallo, estás aí?
- #10: vão ser avós!
- #11: público ou privado?
- #12: um exibicionista
- #13: como assim não sou imune?
- #14: que fome é esta?
- #15: cansam-me
- #16: são puns, pessoas!
- #17: salvem-me das férias
- #18: as papas, os morangos e a morcela
- #19: está tudo no sítio
- #20: as grávidas inventam
- #21: habemus mau feitio
- #22: planear para não panicar!
- #23: eu não quero um baby shower
- #24: o baby shower aconteceu
- #25: uma lufada de ar fresco
- #26: quero relatos, não sermões!
- #27: diz que gravidez não é doença
- #28: nada para vestir
- #29: mixórdia de cenas#30: temos que falar sobre isto
- #30: temos que falar sobre isto
- #31: calem-se porra!
- #32: Bêbada de amor
- #33: Tenho que voltar a isto
- #34: Uma gravidez santa