Farmacêutica Rita Teixeira
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15 Jun, 2022 - 10:52

Cordão umbilical: como é feita a colheita de células estaminais?

Farmacêutica Rita Teixeira

A colheita de células estaminais é um dos grandes avanços da ciência. No cordão umbilical pode estar a resposta para muitas doenças.

Colheita de células estaminais

Algumas das questões mais comuns  quando se fala em criopreservação de células estaminais do cordão umbilical são: como se procede a colheita no parto, se tem consequências para o bebé e no que consiste a criopreservação.

Todas estas questões são levantadas pelos futuros papás, que têm em mãos uma das tarefas mais importantes da sua vida: proteger o seu bebé.

E esta proteção começa bem cedo, ainda antes do bebé nascer. A escolha entre optar por fazer a criopreservação das células estaminais do cordão umbilical, ou não, é unicamente dos pais. O processo permite guardar as células estaminais do cordão umbilical de modo a que estas estejam disponíveis a qualquer momento, podendo ser rapidamente descongeladas e utilizadas em tempo útil, no tratamento de doenças raras.

Como é feita a colheita de células estaminais?

Logo após o bebé nascer, uma das primeiras coisas a fazer é o corte do cordão umbilical, que liga o bebé à mãe. Até há poucos anos, não se lhe conhecia uma finalidade, o que fazia com que fosse colocado no lixo biológico, de acordo com a regulamentação nacional e internacional.

Atualmente, este é reconhecido como um bem único para extração de sangue rico em células estaminais hematopoiéticas, que poderão vir a ser útil anos mais tarde, desde que sejam criopreservadas.

Assim, quando o cordão umbilical já não se encontra ligado nem à mãe, nem ao bebé, é desinfetado, e dá-se a colheita de células estaminais com a recolha do sangue do cordão umbilical e/ ou do tecido do cordão umbilical. A colheita do sangue é  feita para um saco estéril e a do tecido para um copo, sendo devidamente acondicionada de modo a garantir a sua segurança no transporte até ao laboratório.

Este procedimento é realizado por um elemento da equipa médica que está a acompanhar o parto e ocorre sem dor ou consequências para o bebé e para a mãe. A seguir ao parto, os pais entram em contacto com o banco escolhido para agendar a recolha do Kit de Colheita na maternidade ou hospital.

Como é feito o armazenamento das células estaminais?

Uma vez no laboratório são efetuados rigorosos testes de controlo de qualidade às amostras de sangue e tecido do cordão umbilical, sendo que apenas são guardadas as amostras cuja viabilidade de utilização, em eventuais tratamentos futuros, é assegurada.

A criopreservação das células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical consiste no seu armazenamento em azoto líquido a -196ºC. Apesar de não existir uma “data de validade” para estas células, existem amostras de células estaminais guardadas há 25 anos, sendo que mantiveram as características ótimas para utilização, assim 25 anos, é o período máximo pelo qual é disponibilizado este serviço, atualmente.

Mas o que são células estaminais e qual a sua particularidade?

grávida a sentir o bebé

O sangue existente no cordão umbilical contém glóbulos vermelhos (eritrócitos), glóbulos brancos (leucócitos), plaquetas e plasma. No entanto, além destas células, é também, rico em células estaminais hematopoiéticas, semelhantes às que se encontram  na medula óssea.

A colheita das células estaminais do sangue do cordão umbilical é cada vez mais usual, uma vez que estas células têm particularidades muito interessantes. Também conhecidas como “células mãe”, estas são indiferenciadas, pelo que não possuem uma função específica, o que caracteriza as células maduras.

Assim, as células estaminais possuem caraterísticas únicas que permitem a reparação de tecidos danificados e a sua substituição por novas células, sendo por isso tão importantes no tratamento de diversas doenças.

As três caraterísticas mais importantes são:

  1. Diferenciação: têm uma notável capacidade para se transformarem em diferentes tipos de células, tanto na fase inicial da vida bem como durante o crescimento;
  2. Autorregeneração: têm a capacidade de criarem novas células estaminais;
  3. Proliferação: têm a capacidade de se dividirem indefinidamente.

A quem pode recorrer para fazer a criopreservação?

Atualmente, em Portugal, existem   diferentes opções de criopreservação para os pais, a opção de doar as células estaminais do cordão umbilical para o  banco público e a opção de guardar para utilização familiar em bancos familiares, como a Crioestaminal.

Doar ou guardar são opções distintas que deve conhecer quando pensa na colheita de células estaminais.

O banco público, procede à colheita de células estaminais e posterior  armazenamento com o objetivo de criar um registo de dadores que possa vir a beneficiar doentes que necessitem de células estaminais de terceiros. Nestes casos, a criopreservação é gratuita, mas o dador não tem qualquer direito sobre a amostra doada, tratando-se de propriedade pública.

Ao optar por guardar  num banco familiar, as células estaminais  poderão ser utilizadas pelo próprio dador  ou por familiares  compatíveis. Por exemplo no caso de irmãos, a compatibilidade é de 25%, que decresce drasticamente para 0,01% em casos de pessoas não relacionadas. Precisamente por isso, a probabilidade de sucesso no transplante é superior.

No entanto, a decisão de guardar envolve a necessidade de investimento que se situa entre os 1300 EUR e os 2400 EUR, dependendo do tipo de serviço escolhido, encontrando-se disponíveis várias opções de pagamento faseado.

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