Farmacêutica Cátia Rocha
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01 Out, 2018 - 16:03

Aspirina em idade sénior: será o risco real?

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Um estudo demonstrou que o uso indiscriminado da aspirina em idade sénior em pacientes saudáveis, sem histórico de AVC prévio, pode levar a hemorragias.

Aspirina em idade sénior: será o risco real?

Várias notícias têm surgido acerca de uma nova pesquisa realizada nos Estados Unidos e na Austrália que sugere que a aspirina em idade sénior, em idosos com boas condições de saúde pode acarretar mais riscos do que benefícios.

Mas primeiro vamos perceber, porque é tão usada a aspirina? Para que serve?

Aspirina: em que situações é usada?

aspirina em idade senior

A aspirina possui, entre outras, a capacidade de reduzir a agregação das plaquetas, um dos componentes do sangue, fundamental para a formação dos coágulos sanguíneos. Este mecanismo de ação permite uma ação benéfica em doenças em que está envolvida a agregação das plaquetas e em que pode existir risco de formação de coágulos (trombos) nos vasos sanguíneos, como acontece em certas doenças cardiovasculares.

A aspirina é utilizada nas situações em que é desejável uma redução da agregação das plaquetas, nomeadamente:

  • Na angina de peito instável;
  • No enfarte do miocárdio agudo;
  • Para redução do risco de novo enfarte em doentes que já sofreram enfarte após cirurgia vascular ou determinadas operações em que existe tendência para a formação de trombos;
  • Para evitar a ocorrência de acidentes isquémicos transitórios e de trombose cerebral;
  • Para evitar a ocorrência de tromboses dos vasos sanguíneos coronários em doentes com diversos fatores de risco;
  • Para evitar a ocorrência de trombose das veias e de embolia pulmonar (grave obstrução do fluxo sanguíneo nos pulmões).

Por outro lado, não deve ser tomada Aspirina:

  • Caso saiba ser alérgico ao ácido acetilsalicílico ou a substâncias do mesmo tipo (salicilatos e anti-inflamatórios não esteróides) ou a qualquer dos outros componentes do medicamento;
  • Caso saiba sofrer de tendência para hemorragias, ou tiver história de hemorragia gastrointestinal ou perfuração, relacionada com terapêutica anterior com anti-inflamatórios não esteróides (AINEs);
  • Caso sofra de úlceras do estômago ou dos intestinos (úlcera péptica);
  • Durante a gravidez (a não ser sob indicação expressa do médico).

QUAIS OS RISCOS DA TOMA DE ASPIRINA EM IDADE SÉNIOR?

idosa a tomar aspirina

Os efeitos indesejáveis referidos nas notícias que indicam o risco associado à toma de aspirina em idade sénior, surgem devidamente mencionados no folheto informativo do medicamento.

Os efeitos indesejáveis mais frequentemente observados são de natureza gastrointestinal. Podem ocorrer, em particular nos idosos, úlceras pépticas, perfuração ou hemorragia gastrointestinal potencialmente fatais. Náuseas, digestão difícil, vómitos com sangue, flatulência, dor abdominal, diarreia, obstipação, fezes com sangue, estomatite aftosa, exacerbação de colite ou doença de Crohn têm sido observados na sequência da administração destes medicamentos. Menos frequentemente têm vindo a ser observados casos de gastrite.

QUAIS AS CONCLUSÕES DO ESTUDO QUE DESACONSELHA A TOMA DE ASPIRINA EM IDADE SÉNIOR?

estudos

Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine, de pesquisadores australianos e norte-americanos, avaliou mais de 19 mil idosos acima dos 65 anos, seguidos durante mais de quatro anos.

Estes idosos foram divididos em dois grupos, um recebeu 100mg de aspirina por dia e o outro recebeu placebo (substância sem propriedades farmacológicas). Foram acompanhados durante 4,7 anos e avaliados sobre o desenvolvimento de eventos cardiovasculares, como enfarte, demência, AVC (Acidente vascular cerebral) ou incapacidade.

As conclusões deste estudo não revelam benefício no uso de aspirina na redução da doença cardiovascular nos pacientes idosos saudáveis sem história de AVC prévio. Sendo que, o grupo que recebeu aspirina diariamente teve uma taxa maior de hemorragias, digestiva e intracraniana.

Assim, sugere que o uso indiscriminado de aspirina na prevenção primária, ou seja, nos pacientes saudáveis que nunca tiveram o evento, não deve ser recomendado por rotina, uma vez que existe um risco aumentado de hemorragia.

EM CONCLUSÃO

Cada caso é um caso e cada pessoa tem particularidades na sua saúde que devem ser corretamente avaliadas por um médico. Assim, a toma de aspirina em idade sénior pode estar totalmente desaconselhada nuns casos, mas ser de extrema importância noutros, que mesmo sem historial de doenças cardíacas, podem ter presentes fatores agravantes, nomeadamente a história familiar, que não deve ser desprezados.

Consulte sempre o seu médico antes de decidir iniciar ou parar a toma de aspirina.

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