Psicóloga Ana Graça
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01 Set, 2020 - 10:50

Ansiedade no regresso às aulas: voltar à escola em tempo de pandemia

Psicóloga Ana Graça

A ansiedade no regresso às aulas é um sentimento comum nesta altura do ano, no entanto, a pandemia que atravessamos vem acrescentar maior preocupação.

Ansiedade no regresso às aulas

Em breve tem início mais um ano letivo e é natural que a ansiedade no regresso às aulas, fenómeno comum em filhos e pais, esteja já presente, este ano com intensidade aumentada devido à pandemia provocada pela COVID-19.

Assim sendo, importa compreender em que consiste a ansiedade no regresso às aulas, de forma a podermos identificar e de que forma pais e filhos podem combatê-la.

ANSIEDADE NO REGRESSO ÀS AULAS: COMUM E NATURAL

Entrada antecipada na escola: sim ou não?

A ansiedade é uma reação normal e funcional na vida do ser humano que nos permite preparar para a luta ou fuga. Todos nós em algum momento das nossas vidas sentimos ansiedade, seja perante um exame, entrevista ou quando necessitamos de tomar uma decisão importante 1, 2.

De forma simples, podemos entender a ansiedade como a resposta que cada um de nós dá perante a avaliação cognitiva que faz de determinada ameaça/determinado acontecimento 3.

Quanto à ansiedade no regresso às aulas, esta é comum e natural. O fim das férias e o consequente regresso às aulas representa uma mudança na rotina diária, um novo ciclo de vida, o que naturalmente acarreta novas e intensas emoções.

Apesar da ansiedade no regresso às aulas poder ser perfeitamente funcional e saudável, também pode ser patológica, quando prolongada no tempo ou/e quando interfere no funcionameno diário 2, 4 .

APRENDER A IDENTIFICAR A ANSIEDADE NO REGRESSO ÀS AULAS: SINAIS DE ALERTA!

Menino sentado no recreio da escola

Aprender a identificar a presença de ansiedade no regresso às aulas é fundamental para ser capaz de, posteriormente, lidar com a mesma. Eis alguns sinais de alerta aos quais importa prestar atenção:

  1. Inquietação.
  2. Fadiga.
  3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
  4. Irritabilidade.
  5. Tristeza.
  6. Tensão muscular.
  7. Dificuldades de sono.
  8. Ansiedade e preocupação excessivas acerca de diversos eventos ou atividades como responsabilidades nos trabalhos.
  9. As crianças/adolescentes tendem a preocupar-se excessivamente com a sua competência ou a qualidade de seu desempenho 5.

Voltar à escola em tempo de pandemia: dicas para os mais pequenos

Menina com máscara a ir para a Escola

A situação de pandemia COVID-19 afecta-nos a todos, e coloca-nos perante novas exigências e desa­fios. O regresso à escola em tempo de pandemia exige a pais, crianças e adolescentes a capacidade de se adaptarem e mudarem o seu comportamento no dia a dia, o que nem sempre é fácil. Eis algumas dicas que podem ajudar a diminuir a ansiedade no regresso às aulas:

1.

Respirar fundo

Respirar fundo sempre que se sentir num estado mais ansioso 6.

2.

Conversar com os pais

Conversar com os pais ou outros familiares de referência. É importante que entre pais e filhos se mantenha sempre uma linha de comunicação aberta. As crianças precisam de saber que, se alguma coisa correr menos bem, podem contar com os pais. Pais e filho devem conversar sobre a escola, diariamente.

3.

Estabelecer expectativas e objetivos elevados

Estabelecer expectativas e objectivos elevados, mas realistas e razoáveis, acerca do desempenho académico. As crianças devem acreditar no seu próprio potencial e, para tal, devem sentir-se elogiadas pelos pais sempre que demonstrem confiança, persistência e esforço.

4.

Partilhar preocupações com o Diretor de Turma ou Psicólogo da Escola

Partilhar preocupações com o Diretor de Turma ou com o Psicólogo da Escola. As crianças e adolescentes podem e devem procurar estes profissionais sempre que sintam necessidade de discutir preocupações/problemas e encontrar soluções 7, 8 .

6 dicas para os pais

Mãe a levar filhos à Escola
1.

Preparar antecipadamente o regresso às aulas

Preparar, antecipadamente o regresso às aulas, de forma a diminuir a ansiedade. Este ano letivo, as crianças terão que lidar com enormes mudanças, nomeadamente o uso generalizado de máscaras na escola. Mesmo as crianças mais pequenas, que não têm que usar máscara, serão confrontadas com o uso de máscara por parte dos adultos. É importante que esta e outras mudanças sejam explicadas atempadamente e de forma simples e clara às crianças.

2.

Prestar especial atenção ao bem-estar e saúde psicológica de crianças e adolescentes

Com o regresso às aulas rodeado de tanta incerteza é importante que os pais questionem as crianças/adolescentes como se sentem e tentem avaliar se estão mais ansiosos e preocupados que o habitual. É importante que sempre que se mostre necessário procurem ajuda profissional.

3.

Ter em mente que é natural que as crianças/adolescentes sintam alguma ansiedade e preocupação

Ter em mente que é natural que as crianças/adolescentes sintam alguma ansiedade e preocupação nesta situação exigente e que é igualmente natural que tenham dificuldade em lidar com este momento desafiante. Os pais devem conversar sobre aquilo que observam e os preocupa e mostrar-se disponíveis para ouvir as dificuldades que os mais novos estão a sentir.

4.

Transmitir segurança

É fundamental que os pais motivem os mais pequenos para o regresso às aulas e não lhes transmitam as suas próprias inseguranças/ansiedades. Pequenos gestos que demonstram interesse e envolvimento podem ajudar (por exemplo, se a criança/adolescente parecer particularmente stressada ou triste após a escola, os pais podem convida-la para dar um passeio ou lanchar num sítio especial, para que possam conversar sobre as suas preocupações/dificuldades).

5.

Promover um ambiente de comunicação

A partilha entre todos os elementos da família deve ser encorajada.

6.

Promover rotinas

No contexto de incerteza e insegurança em que vivemos pode ser ainda mais difícil garantir o apoio escolar necessário e promover a motivação, o compromisso e o envolvimento das crianças com o estudo e as atividades escolares.

Por isso, é importante que os pais priorizem e estimulem o sentido de organização, planificação e autonomia (preparar a lista de material escolar, a mochila, cuidar do material de estudo, preparar a lancheira, entre outros), bem como definam regras de estudo e de brincadeira 7, 8, 9.

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Fontes

  1. Mental Health Foundation. (2014). Are tou anxiety aware. A guide to living with anxiety. Disponível em: https://www.mentalhealth.org.uk/publications/are-you-anxiety-aware-booklet
  2. Gomes, R., Vilela, C. (2015). Ansiedade, Avaliação Cognitiva e Esgotamento na Formação Desportiva: Estudo com Jovens Atletas. Disponível em:https://revistas.rcaap.pt/motricidade/article/view/4214/6475
  3. Guimarães, M. F. (2014). Depressão, ansiedade, estresse e qualidade de vida de estudantes de universidades pública e privada (Dissertação de Mestrado em Psicologia). Disponível em: http://tede.metodista.br/jspui/handle/tede/1348
  4. Miranda, G. J. et al. (2017). Ansiedade e desempenho académico: um estudo com alunos de ciências contábeis. Disponível em: http://congressousp.fipecafi.org/anais/AnaisCongresso2017/ArtigosDownload/122.pdf
  5. American Psychiatric Association (2014). DSM-5: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5.ª ed.). Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/cg113
  6. National Institute for Health and Care Excellence. (2011). Generalised anxiety disorder and panic disorder in adults: management. Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/cg113
  7. Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2020). Como me sinto? Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/checklist_criancasadolescentes.pdf
  8. Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2020). COVID-19 O meu filho/a quer desistir de estudar!Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/covid_19_o_meu_filho_quer_desistir_de_estudar.pdf
  9. Ordem dos Psicólogos Portugueses. (2020). As máscaras são nossas amigas! Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/covid_19_o_meu_filho_

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